Lara Lima Resende
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Integrante do Grupo de Estudo do Tempo Presente (GET/UFS)
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
“Mas oh não se esqueçam/Da rosa da rosa/ Da rosa de Hiroshima/ A rosa hereditária/ A rosa radioativa/ Estúpida e inválida/ A rosa com cirrose/ A antirrosa atômica/ Sem cor sem perfume/ Sem rosa sem nada”. Um ano após a explosão das bombas de Hiroshima e Nagazaki, no Japão, o cantor e compositor Vinícius de Moraes (1913-1980) escrevia Rosas de Hiroshima em forma de protesto aos ataques e suas consequências. O poema integra o seu livro Antologia Poética, lançado em 1954. Além da carreira artística, Moraes trabalhou como diplomata na década de quarenta, no governo de Getúlio Vargas (1882-1954), sob regime do Estado Novo (1937-1945). Por intermédio do Ministro das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha (1894-1960), o poeta ingressou na carreira, em 1946, aos 29 anos, como vice-cônsul em Los Angeles, além de assumir outras atribuições posteriormente.
Nesse meio tempo, após a vitória dos Aliados (Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética) na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em forma de retaliação ao ataque de Pearl Harbor (1941), os Estados Unidos “responderam” aos ataques nipônicos, nos dias seis e nove de agosto de 1945, e bombardearam as cidades de Hiroshima e Nagazaki, respectivamente, com bombas nucleares de alto caráter radioativo. Tais ataques totalizaram na morte de, aproximadamente, 214 mil pessoas. Além de consequências para as gerações futuras visto ao forte teor radioativo àqueles afetados.
Frente ao protesto, Vinícius trata, nos primeiros quatro versos, “Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas/ Cegas inexatas”, das consequências da radioatividade da bomba nas crianças que as carregariam por anos. Em seguida, das transformações devidas ao fato de as cidades serem completamente destruídas e a necessidade da sua mudança dali. Mas é nos versos finais que o poeta retrata a metáfora de uma “rosa de Hiroshima”, vista a semelhança da bomba, na hora da sua explosão, com uma rosa. E, em contraposição, expõe a destruição causada pelo homem e a consequência dos seus atos em “A rosa hereditária/A rosa radioativa”.
Em seguida, ele menciona o teor dessa rosa, “Estúpida e inválida/ A rosa com cirrose”. E isso se resulta nos graves efeitos das bombas dos quais culminam até hoje. Os casos de doenças como cânceres de pulmão, tireoide, catarata e entre outros que ratificam a letalidade dos explosivos. Ao final, nos dois últimos versos, “A antirrosa atômica/ Sem cor sem perfume/ Sem rosa sem nada” traz à tona, novamente, o paralelo entre uma rosa e a imagem da bomba, da beleza de uma rosa e do desastre causado.
Em 1973, o poema foi adaptado à música, durante a ditadura civil-militar, pela banda Secos e Molhados, na voz de Ney Matogrosso. Em suas apresentações, o vocalista contrasta sua performance em movimentos corporais tendo em vista a significação do poema. Mesmo após setenta e seis anos do ocorrido, tanto o poema quanto a música ainda ecoam e refletem metaforicamente as ações do homem e suas consequências.
Para saber mais:
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2009.
SECOS e Molhados – Rosa de Hiroshima – 03 de out. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DwVc0G3IKU4.