As travestis da 13 de Julho

Esses dias um amigo me contou um caso curioso sobre a Aracaju da década de 70. Segundo ele, uma famosa prostituta tinha recebido (ou comprado) um apartamento num dos primeiros prédios construídos na Capital. Na época, a moça não pode residir no que era dela, pois os moradores, tradicionalíssimos, fizeram um abaixo-assinado para proibir que ela ocupasse o imóvel. Um desacato ao outro, se trouxéssemos essa situação para os dias atuais.

No bairro 13 de Julho (nossa mistura de Copabacana com Leblon), e em outros melhores localizados, condomínio pra ser considerado de alto padrão tem que ter, no mínimo, uma travesti, como proprietária de imóvel. É quase regra. Diferente da época em que a prostituta abonada não podia morar no que é seu, hoje em dia, se você pode ostentar uma boa conta bancária, pode residir onde bem quiser. Ainda bem que vivo no tempo de hoje, para presenciar esta evolução (ou seria revolução?).

Quem conhece uma "trava" de perto, sabe muito bem que não é nada fácil a tarefa de transformar o corpo através de hormônios, plásticas, etc. tudo começa pelos seios que precisam ganhar forma. Assim também como o cabelo que deve ser enorme sempre. Enquanto a coisa não acontece, uma boa espuma de colchão (pra dar forma ao corpo) e uma peruca de qualidade vão preparando a futura mulher. Viver para o que se é nunca será tarefa fácil pra ninguém!

Não sejamos hipócritas, nessa loucura cega que a sociedade tenta nos impor, em negar que aqui na Capital a travesti pobre é praticamente cuspida para fora do convívio social. Dificilmente vemos uma travesti trabalhando no comércio. Claro que as coisas estão mudando também, mas não tão rápido para que o respeito às travestis seja enfim uma realidade.

Para manterem-se dezenas de travestis estão ganhando dinheiro através de seus corpos. Basta uma passagem rápida pelo bairro Atalaia para presenciar muitas delas competindo por um programa barato. Mas, talvez, caro leitor, você não tenha percebido isso porque ao passar por lá tenha subido o vidro do seu carro e aumentado o volume do som para esquecer que do lado de fora do seu mundo existem “quase-humanos”, perdendo a única coisa que ainda lhes resta: a dignidade.

Assim que completam o valor da passagem, as travestis cruzam o oceano em busca de maiores oportunidades. Claro que em “Milano, meu amor”, a coisa também não é fácil, mas pelo menos se paga em euro. E não venha me dizer que você prefere o real enquanto o euro está em forte ascensão. Travesti, que é inteligente, faz escola na Itália e volta ao Brasil pós-doutorada em economia. Algumas se perdem no caminho das drogas (para enfrentar o frio, a agressão verbal, física, a loucura da prostituição em si, a saudade), mas as que sobrevivem voltam mais fortes. E quando aportam no Aeroporto Internacional de Santa Maria aí é que são elas, meu bem!

A primeira missão em solo aracajuano é mostrar quem pode! E quem tem dinheiro em conta são elas: as travestis. Passam numa agência do Banco do Brasil abrem contas generosas e são tratadas a caviar e ‘prosek’, pois pão de ló já era. Não serve mais. Gerente que é gerente sabe tratar bem uma cliente com euro, claro, pois businessis business.

Em seguida, conta aberta, vem a hora de investir. Nada mais comum que procurar uma boa corretora de imóveis, que faça sua parte, com preços justos e boa localização. Travesti sabe valorizar seu dinheiro e não aceita meia boca. É preciso o melhor dos melhores, neste caso: coberturas e mais coberturas, claro e óbvio. Certíssimas. Faria o mesmo!

Lembram-se da prostituta que foi expulsa porque o preconceito era tamanho? As travestis ricas de Sergipe, também passam por constrangimentos, mas atualmente são engolidas – em sorrisos falsos dados dentro dos elevadores. Ainda que torçam seus narizes, os demais moradores não podem fazer mais nada. Em contrapartida, as travestis (algumas) dão um show de civilização em muitas madames-novas-ricas daqui, que mal sabem falar três palavras de língua estrangeira.

Outra diferença também precisa ser dita: enquanto essas mesmas dondocas-semi-analfabetas-culturais precisam engolir caladinhas as traições de seus maridos, para manterem seus casamentos fracassados e morarem nos melhores lugares, algumas travestis estão em lindas viagens, ao redor do mundo curtindo a vida como merece ser. Claro que também tem aquelas travestis que trabalham como acompanhantes de luxo viajando com seus próprios vizinhos: os maridos das dondocas.

Hoje em dia sai na frente quem tem dinheiro e sabe falar, pelo menos, outra língua. #Ficaadica

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