Novidade na vida cultura sergipana é o ingresso da velha Imprensa Oficial, antes Tipografia Provincial, hoje SEGRASE, no mercado da edição e distribuição de livros, através da Editora Diário Oficial. A estréia não poderia ser melhor: Baladas, palavras e outonos, textos inpressos como encarte de um CD e um DVD reunindo obras de Carmelita Fontes, Giselda Morais e Núbia Marques, marcando os 10 anos de morte da intelectual, professora e acadêmica. Diversas vozes, sob a direção de Pascoal Maynard, complementam a publicação que promete avivar e levar mais longe os textos, escritos e falados, das três autoras sergipanas.
Cada uma das três mestras da poesia e da prosa tem, de fortuna crítica, um reconhecimento unânime da crítica e dos leitores. Embora seguindo, cada uma seu caminho, construindo experiências ricas, elas foram, sempre que puderam ser, unidas em torno de posições que repercutiram no tempo. Cada uma realizou obra referencial, sem perda da formação do grupo, em época em que as mulheres abriam espaço com dificuldades, tendo que enfrentar preconceitos e vencer estereótipos. Certo é que elas podem ser vistas isoladamente, cada uma com sua obra, ou agregadas por sentimentos e consciências que serviram para elevar o tom da qualidade estética da literatura sergipana.
Carmelita Pinto Fontes tem relação próxima como o jornal A Cruzada onde publicou suas belas crônicas, assinando Gratia Montal. Na militância cultural abriu portas para os jovens, num movimento acadêmico próprio, que revelou ou ajudou a revelar nomes de iniciantes que o talento consagrou. Sua poesia, sua prosa e seu agenciamento cultural aureolam sua contribuição, como uma das mais completas intelectuais da terra.
Giselda Morais também teve contatos próximos com o jornalismo, participando da redação de páginas e de cadernos de jovens escritores no Correio de Aracaju, jornal que foi, ao longo do tempo, uma escola de intelectuais, como Homero de Oliveira, Edison de Oliveira Ribeiro, Junor Silveira, Nunes Mendonça, Zózimo Lima, Antonio Garcia Filho, Juarez Ribeiro, dentre outros. Giselda Santa Morais tem obra relevante de ficção e de crítica, que completam sua biografia bem realizada de escritora.
Núbia Nascimento Marques foi artista da poesia e da prosa, do cinema e da arte, da pesquisa e da difusão, uma militante incansável pela valorização da cultura sergipana. A Gazeta de Sergipe, de Orlando Dantas, deu-lhe o batente para páginas e suplementos, nos quais abriu espaço para a boa produção artística e literária. Sua obra é também de verso e prosa, complementada com a ensaística folclórica resultante de suas investigações. Arrebatada pela morte, no vigor da capacidade produtiva, Núbia Marques deixou um vazio no cotidiano das relações culturais sergipanas, difícil de preencher, pela singularidade de sua atuação.
Jackson da Silva Lima, o inventariante da literatura sergipana, sempre atento resume:
“Sempre juntas durante décadas, em aspirações e afazeres, daí a salutar iniciativa
das parceiras sobreviventes (Giselda e Carmelita) na concretização desse evento
de preito e memória a Núbia Marques, amiga inesquecível, cujo corpo se foi do
nosso convívio há um decênio, continuando, porém, seu espírito à nossa volta,
vigilante, protetor, impávido, como sempre pronto a enfrentar as fúrias que,
porventura, se atrevam a embargar a voz ou os passos daqueles que lhe são
caros, ad secula seculorum.”
A Editora Diário Oficial começa bem, abre uma clareira em favor da difusão da cultura local, que preenche um vazio antigo, resultante da sonolência que tem marcado o fluxo do Poder, por décadas seguidas. O projeto de Luiz Eduardo Oliva, exposto tantas vezes como um remédio para tanto descaso, ganha, enfim, o mundo. O objeto editado tem a marca da atualidade, é atraente, prático, e porta um acervo de três mulheres fantásticas em suas lutas e fazeres culturais. Enfim, uma novidade digna de todos os aplausos. A Editora pode, de agora em diante, postar na Internet suas publicações, levando bem mais adiante a voz e o discurso competente dos autores sergipanos.