O que leva uma pessoa a ficar “gretando” um casal gay se beijando, no meio de uma festa dita de gênero livre? Vivo numa cidade (Aracaju) onde a liberdade de amar quem se deseja deve ser escondida, e priorizada apenas dentro do quarto (e olhe lá). As pessoas que se sentem felizes para beijar, paquerar ou apenas experimentar uma vontade, quase que obrigatoriamente, precisam reprimir seus desejos em prol do olhar curioso dos suburbanos de alma. Não deveria ser assim, mas é!
Em meio ao lema ‘Liberté’, apontado pela mídia-pop como uma tendência, observar sua demonstração de carinho registrada numa câmera de celular pairando na Internet acontece como forma de castigo por se ser quem se é. Viver para algumas pessoas é carregar correntes pesadas, corajoso é deixar tais correntes no fundo do mar de uma moral corrupta e olhar o outro com amor, de igual pra igual! O que algumas muitas pessoas precisam entender é que ao beijar X ou Y ou X e Y, a pessoa está demonstrando intimidade e desejo, apenas isso! Nada que valha um minidocumentário hipócrita.
Enquanto conflitarmos a orientação sexual do outro com a nossa própria forma de viver, querendo igualar todos aos nossos preceitos, não passaremos de um povo mediano, que anda retrogradamente com passos de um gigante obsoleto. Não existirá evolução se existir preconceito. Isto sem falar de que é feio ser “voyeur” de um casal, quando na verdade não se foi convidado para tal.
Relato curioso: dias atrás eu estava tentando entrar numa festa lá na Atalaia, num lugar tipo cool, preços populares e público ímpar: meninos de saia e roupas femininas, surfistas, playboy e patrícias de topos os tipos de cabelo, androginia e muita gente fervida curtindo uma vibe baratinha (a entrada custava R$ 10), mas o que era para ser um local democrático também estava recheado de pessoas tolas, pois o preconceito infelizmente é democrático. Assim, não faltaram olhares de curiosidade de pessoas infelizes para pessoas livres, que beijavam bocas felizes. Num lugar tão anormal para qualquer tipo de gente com amarras, também pude ver gente “comum”, feita de carne preconceituosa.
Ver duas meninas se beijando energicamente é o mesmo que ver dois rapazes se beijando energicamente e que é o mesmo que ver um rapaz e uma moça se beijando energicamente e que é igualzinho a ver duas moças beijando um rapaz (dito sortudo) e por aí vai… o que não cabe (nem no bolso), é achar estranho um beijo. Beijo precisa ser é consentido (às vezes, no Romantismo, um beijo roubado também é perfeito, sempre com aquela sensação de que o outro o quer). Se uma pessoa está fitando um casal (de qualquer espécie) se beijando só posso pensar que existe algo de errado com esse tipo de telespectador: ou é um solitário cafona ou na maioria dos casos, uma pessoa imersa na inveja.
Fui embora da festa com uma triste convicção: não importa se o local é prol-amor-livre, sempre existirá alguém que estranhe a maneira de amar do outro. Só penso que se uma pessoa tem tantas dúvidas dentro de si, não deveria nem sair de casa, muito menos sair calçando preconceito no olhar, no sorriso sonso e nos dedos que apontam o amor alheio. Pode ser meio inocência de minha parte, mas queria acreditar que os olhares de curiosidade eram apenas vontade de fazer o mesmo, mas como vontade não rima com coragem… que venham mais beijos corajosos e menos pessoas invejosas nesta Aracaju dos meus pecados!
Para conversar comigo sobre este e outros assuntos (adoro sugestões):
Facebook: https://www.facebook.com/jaime.neto.58
Twitter: @jaimenetoo
Instagram: @jaimenetoo