Ele já chorou, sambou e embalou as mais diversas emoções em muita gente; essa semana eu falo do Cavaquinho, que como o título sugere, é um dos maiores símbolos de brasilidade. O que muita gente não sabe é que o nosso brasileirinho, na realidade, é um estrangeiro erradicado que se tornou muito querido com o passar dos anos. Pois é, o Cavaquinho é também chamado de Braguinha, Braga, Machete,
Machetinho ou Machete-de-Braga, pois é um instrumento Lusitano. Isso mesmo, a Braguinha surgiu na região norte de Portugal, que é conhecida como “Minho”, sendo que até hoje existem os “Cavaquinhos Minhotos”, no decorrer do tempo ele foi amplamente introduzido na cultura de Braga, de onde partiu para várias localidades do mundo, entre elas: Brasil, Moçambique, Hawaii, Cabo Verde, Açoures e Madeira.
Nas ilhas do Hawaii existe um instrumento, também de quatro cordas, porém de Nylon, que se especula ser uma alteração do cavaquinho, chamado Ukulele.
(Braguinha, o pai português do cavaquinho)
(Um autêntico Ukulele. o ptimo hawaiano do Cavaco)
Mas estamos falando do Cavaquinho nacional, o instrumento que todos conhecemos e sua chegada no país se deu em um ponto histórico importante. Ainda como Braguinha, ele aporta no Rio de Janeiro, em 1808,junto com a família real. “Promulgada capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”, em 1815, a cidade passa por intensa reforma urba-
na e cultural, quando foram criados os órgãos públicos.
Foi junto com a corte portuguesa que instrumentos de origem européia chegaram em terras brasileiras como o Piano, Clarinete, Cavaquinho, Bandolim, Violão e Flauta, bem como os seus instrumentistas. Com esses viajantes chegam também, obviamente, as músicas que eram de sua cultura, nesse caso as músicas de salão, como a valsa, a quadrilha, a mazurca, a modinha, a schottish e principalmente a polca, que naqueles tempos, foram febre nos bailes. A história do Brasil e do choro são complexas e vou falar um pouco mais sobre ambas nas próximas resenhas.
(Brasil e Portugal unidos, os irmãos Braguinha e Cavaquinho)
Focando no Cavaco, o que se sabe é que foi o instrumento harmônico utilizado no Lundu um ritmo brasileiro (considerado por muitos como o primeiro) híbrido, criado a partir dos batuques dos escravos trazidos de Angola e dos ritmos portugueses. Da África o Lundu trouxe a base rítmica e seu aspecto lascivo, já da Europa, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, a melodia e a harmonia, é considerado o embrião do samba.
No Brasil, o Cavaquinho é peça fundamental no acompanhamento dos mais diversos ritmos urbanos até manifestações folclóricas diversas como a Folia de Reis, Bumba Meu Boi e Chegança de Marujos, fez parte da trinca de instrumentos, junto com o Violão e a Flauta, que deram início ao Chorinho.
No contexto desse último, era utilizado como instrumento de “centro”, fazia a marcação rítmica e harmônica, e o mais marcante acompanhador, nesse período o músico Canhoto foi considerado um marco dentro dessa formação instrumental. A glória do Cavaco veio pelas mãos do seu mais importante representante no Brasil e no mundo, Waldir Azevedo é o nome do homem que tirou o instrumento do anonimato e o popularizou com instrumento solista.
Waldir fez fama mundial após uma turnê pela Alemanha, além de ter composto as obras mais conhecidas e executadas do Cavaquinho: Brasileirinho, Delicado e Pedacinhos do Céu. Foi inspiração de filmes e documentários, teve os seus choros interpretados por inúmeras orquestras ao redor do planeta e teve a experiência de um verdadeiro pop star na Alemanha, mesmo com sua música instrumental. Hoje, em pleno século XXI, o Cavaquinho é um patrimônio da cultura brasileira, está amplamente difundido entre músicos como o virtuose Messias Brito, que apesar de jovem, eleva o instrumento à outro nível e também construtores.
Desde o começo de minha carreira eu desenvolvo meus modelos de Cavaco, mas há três anos resolvi me aprofundar na construção de instrumentos acústicos e estou satisfeito com o resultado alcançado com o meu modelo Acústico 2015, que é apresentado pelo amigo e músico Bruno Leoneu, no vídeo que precede a resenha.
Até a próxima!