Jamais vou esquecer a primeira vez que vi TV na vida.
Morava em Lagarto e certa noite fui na praça espiar, através da janela da casa azulejada de Dr.João, a grande novidade.
E qual Aureliano Buendia, diante do gelo, ainda lembro como se fosse hoje, quando vi Guto e Moacyr Franco, pela primeira vez, se esgueirando pelo chão em busca de um barquinho de papel.
A imagem era precária e o som um chiado só.
Logo depois no Rio pude, enfim, desfrutar o revolucionário invento e, como verdadeira macaca de auditório, não perdia Tardes de Domingo o lendário programa da Jovem Guarda, o Chacrinha e especialmente as novelas que, temáticas, nos levavam à Espanha, Veneza…
Eram romances apaixonantes como Sangue e Areia, O Homem que Deve Morrer, dramalhões escritos pela, exilada cubana, Glória Magadan.
O reinado de Glória foi longo e durou até surgirem modernidades como Beto Rockfeller, que revolucionou o gênero e abriu caminho para novelas mais moderninhas.
Muitos anos depois sou abduzida e me vejo de volta ao Caminho para as Índias, desta vez por uma outra Glória, a Perez, perita em misturar modernidade e tradição, e até clonagem, que nos arrasta novamente ao dramalhão.
Adoro e confesso que estava com saudades.
Acho que num tempo louco e sem parâmetros como o que vivemos hoje, sentimos falta de referências e, admito, de um pouco de tradição.
A verdade é que estou simplesmente obcecada pela filosofia hindu, dalits à parte,óbvio!
Especialmente pelo respeito à hierarquia e à sabedoria dos mais vividos…
E um “dizer” me causou especial impressão.
Segundo eles os ocidentais casam com a chaleira fervendo e com o tempo a água vai esfriando.Enquanto lá, eles casam com a chaleira fria e vai, a água e o casamento, esquentando com o passar do tempo.
Sendo assim dá até para encarar um casamento arranjado, principalmente se o noivo for o Raj!
Mercado Municipal de Aracaju-Foto Ana Libório
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