A VEJA semana passada tocou, corajosamente, num tema tabu no Brasil: o aborto. Tabu apenas no quesito transparência pois sabemos que na vida real é largamente praticado, e trazer a discussão à tona é, sem dúvida, mérito do ministro Temporão que, vencendo a conveniência política, tirou o assunto das trevas e o incluiu na agenda da saúde pública incluindo-o nas terapias de menores danos. Mas voltando a matéria, desta vez, a diferença foi, além do depoimento de celebridades, a abordagem médica sobre o assunto. Finalmente eles, que nos tratam e orientam em seus consultórios, resolveram quebrar o silêncio enfrentando juízos de valor. E não se trata aqui de ser a favor ou contra, apenas tirar a polêmica da escuridão, afinal, todos sabemos que a interrupção segura da gravidez é, apenas mais um, dos privilégios a que as mulheres ricas no Brasil já usufruem há muito tempo. E já que estamos em tempos de inclusão… Ainda segundo a revista a geografia é clara: o Chile país com maiores restrições possui o maior índice de abortos clandestinos, enquanto que a ultra liberal Holanda apresenta níveis baixíssimos devido a um eficiente programa de prevenção. Longe do território espiritual, considerá-lo crime, é apenas um ônus a mais para aquelas que, com muito sofrimento, são obrigadas a optar pela quase sempre devastadora experiência. Nenhuma mulher o realiza sem algum tipo de dilema. Uma abrandamento na legislação deverá arrefecer o doloroso impacto.
Mercado Municipal AJU-Redescobrindo Sergipe-Foto Ana Libório |