Certa vez minha secretária disparou: – A natureza sabe o que faz, já pensou se o mosquito da dengue gostasse de água suja? Achei a observação super inteligente e respirei aliviada, afinal uma epidemia desse tipo com os problemas sanitários que temos no Brasil seria, sem dúvida, uma tragédia. E em Aracaju com tantos canais? Estaríamos perdidos com certeza. Que sorte! Deus é mesmo brasileiro, pensei. Estávamos em 2002 e naquela época acreditávamos nessa hipótese da água limpa que hoje os sanitaristas consideram um dos mitos a respeito do mosquito. Penso que essa idéia causou um certo relaxamento geral e a sensação de controle. Logo cessaram as rotineiras visitas de inspeção às residências e com a população informada por campanhas televisivas e alguns cuidados a dengue parecia coisa do passado. Mas olha ela aí de novo e com a novidade de que também prolifera em água suja. Como controlar uma epidemia num sítio geográfico tão propício a criação de todo o tipo de mosquitos e muriçocas como o de Aracaju? Convém lembrar que a nossa capital assenta-se sobre areais entrecortados por canais e é rodeada por brejos, charcos e manguezais condição facilitadora da disseminação de epidemias, o que nos seus primórdios não poupou sequer o seu ilustre fundador, Inácio Barbosa, que sucumbiu vítima da famosa “Febre do Aracaju” poucos meses depois da transferência da capital. Naquele caso foi febre tifóide, doença bacteriana, relacionada à precárias condições de saneamento. Apesar da diferença não consegui deixar de fazer o link da situação atual com os relatos da fundação da cidade. De qualquer modo a situação no Brasil é preocupante, primeiro foi a febre amarela e agora o recrudescimento da dengue, desta vez, numa forma mais letal o que requer, em sítios como o nosso, sinal de alerta e cuidados redobrados por parte de todos. Infelizmente os prognósticos não deixam de ser alarmantes.
Mercado Modelo-Salvador-Foto Ana Liborio
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