A feira tem, na minha vida, papel marcante com recordações da mais remota infância. Quando nasci minha avó materna morava na Praça Filomeno Hora, em Lagarto, onde existia o antigo mercado que, de fato, era um grande telheiro colonial com grossas colunas onde se amarravam cavalos.
Muitas estórias eram contadas sobre o velho mercado. Diziam as crianças que no tempo antigo, lá existia uma forca (?) e muitos juravam ouvir durante a noite o lamento dos condenados.
Nos anos sessenta o velho mercado foi demolido e a feira transferida para a parte baixa da cidade, nas imediações do extinto Tanque Grande, onde a molecada ia tomar banho e lavar os cavalos no final da tarde.
Nossa casa situada na Rua de Estância, ficava no caminho da Ladeira do Rosário, perto do novo mercado e toda segunda, ainda de madrugada, ouvíamos o ranger dos carros de boi em direção à feira e começava o dia de festa na cidade. Para as crianças dia de grande alegria comprar bois e panelinhas de barro para brincar de fazendinha e cozinhado e era, também, o dia de saber das novidades.
Qual em Macondo, povoado de Cem Anos de Solidão, que entrava em ebulição com a chegada dos ciganos e mascates, mensageiros de outros mundos, em Lagarto era na feira que se sabia de tudo e mesmo com o passar dos anos as segundas são, ainda hoje, um acontecimento especial na cidade e dia fundamental para a sua economia.
É o famoso dia da feira quando todos vindos dos povoados vão à cidade comprar, vender ou no mínimo se divertir. É a verdadeira festa do interior com todo o tipo de negócios e em anos de eleição, como esse, políticos em campanha passeiam, pedem votos e fazem comícios.
Para se ter uma ideia da importância da feira em Lagarto os pedreiros trabalham aos sábados, até mais tarde, para folgar nas segundas. É assim em Lagarto, é assim no interior de Sergipe. Cada uma no seu dia, umas às segundas, outras aos sábados, mas sempre a feira com sua profusão de tipos e produtos que retratam a vida sergipana.
As feiras ou as populares feirinhas estão arraigadas na cultura nordestina. Quem não se lembra das feirinhas de Natal com suas pescarias e jogos de argola, as barcas e o lendário Carrossel do Tobias, no Parque, em Aracaju? Quem não lembra?
Além disso nós sergipanos adoramos uma barraquinha, basta se analisar o fenômeno Orla. Por mais que se façam novos quiosques o sucesso das barraquinhas na areia é inquestionável e constante dor de cabeça para os administradores. E é assim em todos os lugares do estado onde se abre um novo negócio… Se for uma barraquinha improvisada no meio da rua, em Sergipe, sempre correrá o risco de dar certo.
Pça Filomeno Hora- Lagarto-Foto Ana Libório |