E a morte do Dr. Sócrates, em dezembro passado, para além da fatídica coincidência com o penta do Corinthians e do grande paradoxo, um médico atleta viciado, deveria nos servir de sinal de alerta e provocar profunda reflexão sobre a nossa tolerância com o álcool.
O doutor já chegou causando no futebol com a sua fina estampa, nome de filósofo e formação universitária coisa rara nos gramados, ainda hoje.
E não parou por aí, intelectualizado, logo se revelaria, além estádios, cabeça do movimento que viria a ser chamado Democracia Corinthiana para em seguida se envolver com as Diretas Já e deixar como sucessor o belo, e não menos engajado, Raí para então surgir como colunista da Carta Capital! Avis rara um jogador escritor.
Mas assim era o Magrão, sempre brilhante e, até aí tudo pareceria mais do que perfeito, não fosse a revelação da derrota para o vício, as internações e a morte prematura aos 57 anos.
Ainda otimista, apesar de pra lá de abatido, nas primeiras entrevistas pós-internação falava da cirrose, do álcool mas, imaginem, não se considerava dependente químico e sim dependente social do álcool e em tom professoral, bem ao seu estilo de doutor, tocava na ferida: a benevolência com que tratamos os perigos da bebida.
Era difícil não reconhecer num Sócrates, tão combalido e desfigurado pelo inchaço, traços de dependência química mas impossível não admitir, também, a veracidade do que dizia e a inequívoca infiltração, facilidade de acesso e a participação do álcool em todos os eventos da vida brasileira. Tem bebida em aniversário de criança, batizado…
É praticamente impossível se divertir sem beber no Brasil, inclusive, contraditoriamente, é pública e notória a associação comercial entre cerveja e futebol…
Ponte Rio Niterói- Foto Ana Libório |