PATRULHA IDEOLÓGICA Semana passada morreram dois ícones do cinema dito de arte: Bergman e Antonioni. Particularmente amei “Blow-Up” de Antonioni e seu minimalismo estético, mas confesso que gastei muitos neurônios tentando entender “Gritos e Sussurros” e, até mesmo, o de certa forma mais palatável “Fanny e Alexander” de Bergman. Qualquer dia desses pretendo revê-los à luz da maturidade, mas não pude deixar de rir, e muito, com a declaração solene de Paulo Coelho sobre o gênio cineasta: – “Na minha juventude, fui obrigado a gostar de Bergman. Se não gostasse era marginalizado. Hoje posso dizer: embora o homem seja fascinante, seus filmes são chatíssimos.” Para os criados nos liberais tempos da web pode, até, parecer engraçado, mas só quem viveu a emblemática transição 70/80 conhece o custo pessoal da patrulha ideológica, especialmente no movimento estudantil partidário. Gostar de novela era considerado heresia , de Roberto Carlos e Jovem Guarda nem pensar e pasmem, até os Beatles, te colocavam sob suspeita. Vida dura e cheia de subterfúgios para quem, eclética como eu, gostava de tudo: de Chico Buarque a fotonovela. Grande Hotel, quem não lembra? Hoje é chique ser brega e até Zé do Caixão virou cult. Todos bradam, graças a Caetano, que são fãs do Peninha e Odair José. Caetano, não por acaso, cunhou o termo patrulha ideológica, cantou Roberto Carlos e com a sua deliciosa irreverência tropicalista sempre deixou as esquerdas de orelha em pé. Ou não? Ainda bem que sempre haverá a esquerda festiva, àquela que, sem esquecer da socialização da riqueza, cultiva a liberdade de opinião. Agora já a esquerda dogmática deve estar sofrendo muito neste neoliberal mundo de blogs e fotologs. Imagina ter de ouvir de um dos investidores das controversas “PPP” (Parcerias Público Privadas) num noticiário de TV, declarar: – “Dinheiro não tem ideologia”. Só espero que essa recém conquistada liberdade de expressão não provoque a ira dos autoritários de plantão. Seria um imenso retrocesso!
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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