Cala a boca, Vinicius Porto

Pelas redes sociais, em rodadas de futebol entre amigos, em conversas dentro de ônibus e táxis, nas filas de bancos e supermercados, muita gente tem se perguntado: qual serviço relevante para Aracaju o narrador de futebol da TV Globo, Galvão Bueno, fez em seus quase 65 anos de vida a ponto de merecer o título de cidadania aracajuana?

O questionamento que corre a cidade tem, inclusive, fundamento legal. Está lá no artigo 91 da Lei Orgânica do Município de Aracaju: à Câmara compete, privativamente, entre outras, as seguintes atribuições… (XXIV) – outorgar títulos e honrarias previstas em lei a pessoas que, reconhecidamente, tenham prestado relevantes serviços ao município.

Fato é que nem mesmo o autor da iniciativa, o presidente da Câmara de Aracaju, Vinícius Porto, parece ter explicação. Tanto que a justificativa que o vereador anexou ao projeto foi nada mais que uma cópia do perfil de Galvão Bueno na Wikipédia, sem qualquer menção a possíveis contribuições de Galvão para a capital sergipana. Foi um “Ctrl C + Ctrl V” daqueles que certamente reprovariam na escola.

Mas antes de qualquer coisa, não sejamos injustos com Vinicius Porto: títulos de cidadania – que em sua origem são homenagens e reconhecimentos importantes e justos a pessoas que contribuem para o desenvolvimento de cidades e estados diferentes do seu local de nascimento – têm sido utilizados em muitos casos de forma banal e, assim, concedidos a amigos, parentes, padrinhos políticos, ídolos pessoais.

Em consulta ao site da Câmara de Aracaju, é possível verificar que apenas este ano 26 títulos de cidadania já foram propostos na CMA. Um novo cidadão ou cidadã aracajuano/a a cada semana, aproximadamente. E aí é preciso separar as homenagens concedidas justamente, a exemplo do jornalista João Oliva Alves e do jornalista e ex-vereador Abrahão Crispim de Souza (para ficar apenas em dois casos deste ano), daquelas que mais parecem presente de fã para ídolo.

E esse segundo tipo de concessão de cidadania parece expressar a relação entre Vinicius Porto e Galvão Bueno. Tanto que o vereador, que só este ano já propôs sete títulos de cidadania, não se limitou a exibir a sua ausência de argumentos na justificativa do projeto.

Questionado por dezenas de pessoas em sua página oficial em uma rede social da internet, o presidente da Câmara soube responder apenas: “você votou em Dilma”, “você é petista”, “você votou no governo que representa a corrupção”. Pois Vinicius Porto parece esquecer que é parlamentar pelo Democratas, partido que lidera o ranking da corrupção no Brasil, segundo levantamento do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

O vereador que até aqui havia se notabilizado por silenciar sobre temas fundamentais para a cidade e por transformar a Câmara de Vereadores num espaço apenas de legitimação e aprovação do que diz e quer o prefeito João Alves, resolveu falar. Mas mostrou que não tem nada a dizer.

Impossível não lembrar de uma frase direcionada a Galvão Bueno que se popularizou nos últimos anos no Brasil e concedê-la ao presidente da CMA: cala a boca, Vinicius Porto!

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Abaixo, por solicitação do próprio autor, compartilho texto de Anderson Defon, que exemplifica a falta de argumentos sérios do vereador Vinicius Porto nesse caso.

Bem, amigos…

Na tarde de ontem (14/07), ao expressar (de forma irônica, reconheço) minha desaprovação à concessão do título de cidadão aracajuano ao narrador esportivo Galvão Bueno, fui interpelado, em meu perfil no Facebook, pelo vereador e presidente da Câmara Municipal de Aracaju, Vinícius Porto (DEM), que o fez de forma, no mínimo, inadequada. E para ele dirijo esse texto.

Antes de tudo, é bom que fique claro, vereador, que não tenho absolutamente nada contra a figura de Galvão Bueno. Para mim trata-se apenas de um locutor que é referência em seu ramo profissional. Ponto. Mas a pergunta que não sai de minha mente (e nem da mente da grande maioria da população de Aracaju) é: Qual a relevância social de Galvão Bueno para Aracaju? Sim, social, vereador. E não no sentido “Socialite” ou “Coluna Social” com os quais Vossa Excelência demonstra estar mais ambientado. Falo de legado, construção social, presença que se faz sentida por nosso povo. É para prestigiar pessoas com tais atribuições que se concede o Mui honroso Título de Cidadania, vereador.

Decepcionante ter que explicar isso ao presidente da Câmara Municipal de minha cidade.

Mas vamos em frente, porque essa talvez ainda seja a menor das decepções. Lembro que redigi a crítica não puramente pela “homenagem”, mas pelo que ela simboliza, vereador. A concessão descabida e injustificada da citada honraria deixa transparecer uma visão apequenada de nossa cidade e de nosso poder público. O Título de Cidadão Aracajuano foi tratado como um souvenir, uma lembrancinha que se dá àqueles que se deseja agradar, tal qual uma caneta ou uma agenda de empresa. Ver um detentor de mandato eletivo, pago com dinheiro da população, ter uma visão tão retrógrada das atribuições do poder público também é bem decepcionante, vereador.

Ao ver a publicação, Vossa Excelência foi olhar meu perfil. Quis saber de onde partia aquela crítica que já ganhava algumas discretas manifestações de apoio de alguns amigos (portadores de bom senso) que também condenaram a concessão do título.

Foi nesse momento que Vossa Excelência constatou que eu faço parte daquela sub-espécie, desmerecedora de qualquer respeito, crédito e dignidade, né vereador? É, eu sou petista, vereador. E em sua cabeça, isso te desobrigou de dar qualquer explicação sobre sua atuação. Vossa Excelência se permitiu a demonstrações de ódio e seus escudos para toda e qualquer desaprovação eram: “E você que é petista?!”, “Você defende a corrupção!”, “Você votou em Dilma e quer falar o que?”.

E é nessas horas que a gente é obrigado a falar o que deveria ser óbvio. Petistas e pessoas que votaram em Dilma (maioria do eleitorado, por sinal) continuam tendo o direito de achar uma grande “pataquada” o que você fez, vereador. Apesar de reproduzir convenientemente esse discurso vazio, Vossa Excelência, deveria ter discernimento suficiente para não se tornar vítima dele, como o fez em plena rede social. O fez em frente a um público que assistiu atônito a um episódio ainda mais vergonhoso que o anterior, envolvendo o narrador global.

Como já tive oportunidade de te dizer, agradeço por cada uma das vezes em que, insistentemente, me chamou de petista. Apesar de seu equivocado tom de acusação, me orgulho de assumir publicamente minhas posições políticas e hoje tenho a honra de ser dirigente do partido que, livre e democraticamente, escolhi me filiar. Fato que possivelmente, Vossa Excelência desconhecia.

Eu poderia me estender aqui falando de episódios como o aumento do IPTU, votação do aumento da tarifa do transporte público, fim da gratuidade do transporte para idosos, entre outros episódios espúrios envolvendo sua gestão enquanto presidente da CMA. Poderia retribuir suas “gentilezas” partidárias, falando do seu partido, DEM, que não é nenhuma referência ética ou moral, ou até do envolvimento de seus líderes políticos em célebres casos de corrupção. Mas não o farei, minha discussão aqui não é partidária, vereador. Deixo o hábito de fugir das críticas apontando o dedo para outrem para Vossa Excelência, que demonstrou carecer, muito mais que eu, de amadurecimento político.

A compreensão básica dos princípios democráticos era o mínimo que se esperava de alguém com suas atribuições, presidente. Constatar a falta dela é, agora sim, a maior das decepções.

Anderson Defon, 27 anos, Dirigente do PT de Aracaju.

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