Alagoas tem sabido elevar o padrão de sua cultura, como um antídoto permanente contra o desgaste circunstancial de sua imagem. Há um vasto repositório de fatos, cenários, nomes, obras, paisagens, vida social, que serve de fonte recorrente, na qual os alagoanos encontram exemplos para a sua luta afirmativa, desde que libertou-se de Pernambuco e passou a ter economia e governo próprio, definindo com sua própria regra e seu próprio compasso os caminhos do futuro. Douglas Aprato Tenório, professor e historiador consagrado e acreditado, tem chamado
para si a responsabilidade de fazer aflorar, de modos diversos, tudo aquilo que caracteriza a cultura alagoana, como é o caso de Redescobrindo o passado – Cartofilia alagoana (Recife: Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, 2009), escrito juntamente com Carmem Lúcia Dantas, e com a colaboração de Elysio de Oliveira Belchior.
São 116 imagens de paisagens, agenciamento urbano, monumentos, casario, grupos sociais, que retratam Alagoas e resgata o poder comunicante do cartão postal, como objeto de contato e como registro da evolução visual alagoana, para muito além da memória. O próprio autor deixa claro o seu esforço, ao registrar que contou com colecionadores que tornaram possível ampliar o acervo visual do livro,
fixando épocas e estéticas. Há precedentes, como os Calendários anuais repletos de imagens, redistribuindo a vista alagoana com as gerações atuais, com os quais Douglas Aprato revisita as beiradas do São Francisco, as colunas d”água da Cachoeira de Paulo Afonso, os engenhos e usinas que pontilharam os canaviais com suas chaminés, as pequenas vilas, com seu bucolismo, as cidades nascentes, alimentadas pelo progresso comercial, as fábricas e seus operários, a lagoa do Mundaú, pelas várias visões e Maceió, concentrando Alagoas, como um imã donde
gravitam todos os lugares.
Fotógrafos, locais, nacionais e estrangeiros, casas de estúdio, tipografias de cartões postais, têm seus anúncios nos almanaques e publicações comerciais. As fotos dos senhores de engenho com suas proles e parentada, que eram dependuradas nas paredes da sala de visita, concorriam com as telas assinadas pelos artistas da época, numa rivalidade sem vencedores. A arte e a fotografia têm caminhos seguros, próximos ou distantes, cada um com seu fascínio. No tempo do italiano Guilherme Rogatto, fotos e filmes andaram de mãos dadas, registrando o cotidiano das Alagoas. Mais do que um fotógrafo, Rogatto era um empresário da fotografia, imprimia e assinava suas fotos, como fez em 1920 em Aracaju, como fotógrafo da festa do Centenário da Emancipação Política de Sergipe.
Sergipe, a propósito, possui grande acervo de fotografias e de cartões postais, de fases diversas, a começar com as fotos tiradas pelo Barão Homem de Melo, por volta de 1877, convertidas em cartões postais que são, ao que parece, os mais antigos da capital sergipana, tendo alguns exemplares reunidos no acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, de São Paulo. Na virada do século XIX para o século XX, e principalmente em 1920, o Governo sergipano contratou Leone
Ossovni, fotógrafo do jornal O Estado de São Paulo, para fazer imagens de Aracaju e de todos os municípios de Sergipe. O trabalho em Aracaju contou com as lentes do fotógrafo carioca Fabian, fotos que viraram cartões postais graças a Guilherme Rogatto. Em 1937 a Livraria Regina editou uma coleção de cartões postais de Aracaju. Nas décadas seguintes, a Casa Amador, a Ótica Barreto, a Ótica Boa Vista, editaram centenas de cartões postais, permitindo a visão evolutiva da paisagem
aracajuana.
A diferença é que Sergipe negligencia com seu repertório cultural.São poucas as exceções: Josefa Naide, Rubens Chaves, Expedito Souza, e alguns raros colecionadores. Recentemente, o Portal INFONET divulgou centenas de fotos, alimentando no imaginário sergipano a antiguidade postal, como um fragmento de memória. Alagoas faz diferente, incorpora os cartões postais à memória histórica dos alagoanos, com sua força pedagógica, sua expressão artística, continuamente. Douglas Aprato e Carmem Lúcia Dantas cumprem primoroso papel com Redescobrindo o passado – Cartofilia alagoana, que é enriquecido com um ensaio de Elysio de Oliveira Belchior.
Terça-feira, dia 8, às 16 horas, na Sociedade SEMEAR, a colônia alagoana e os sergipanos terão contato com o belo e oportuno livro.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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