Carvalho Déda no batente do jornal

Basta uma simples leitura, uma conferência no Catálogo dos jornais, revistas e outras publicações periódicas, organizado por Armindo Guaraná, comemorativo do Centenário da Imprensa no Brasil, publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 1908, para que tenha a mais exata idéia de como a imprensa floresceu em Sergipe. De 226 verbetes, cobrindo de 1832 a 1908, 140 indicavam jornais e revistas editadas em Aracaju, e 86 no interior, salientando-se que no interior os jornais eram: 36 de Estância, 16 de Laranjeiras, 10 de Maroim, 8 de Propriá e 7 de São Cristóvão. Os restantes 8 estavam distribuídos por Santo Amaro das Brotas, Neópolis, Rosário do Catete e Simão Dias.

 

Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda, advogado provisionado, político, intelectual, homem do seu tempo, com uma obra que serve de referência nos estudos da história e do folclore. Carvalho Déda encarnou o seu jornal, contando com uma colaboração constante do irmão Francino da Silveira Déda, e, mais tarde, do filho Carlos Alberto Déda, que viveu o cotidiano de A Semana e tornou-se, após a morte do pai, no curador de todo o acervo de 23 anos de sobrevivência.

 

Acostumado a redigir, Carvalho Déda fazia de tudo no seu semanário, inicialmente circulando no domingo e mais adiante saindo aos sábado, uma tribuna do povo de Simão Dias, sem contudo perder o contato com o Estado, com o País e com o mundo. Mesmo sem teletipos, telex, Internet e outras tecnologias, A Semana podia ser considerado um jornal moderno, com bom volume de informações, editado com graça, leveza e, ainda, com o humor predominante crítico do redator principal.

 

As atividades políticas de Carvalho Déda não impediram sua presença constante na redação do jornal. Sua experiência era tão reconhecida, que a UDN o convidou para redigir e dirigir o Correio de Aracaju, grande jornal sergipano, que contou em sua redação com Homero de Oliveira e com Edison Ribeiro, figuras que cuidaram do passado daquele prestigioso jornal. Carvalho Déda deu conta do recado e parecia fazer pouca diferença, entre editar e dirigir o Correio e a sua Semana.

 

A Semana teve, em seu tempo, a importância que teve A Razão, em Estância, O Laranjeirense e O Republicano, em Laranjeiras, e o Correio Sergipense, em São Cristóvão, que foi, sem dúvida, um dos melhores jornais de todo o século XIX. Quando os olhos dos pesquisadores forem lançados por todo o Estado, para formar um panorama da vida nas comunidades, tais jornais serão referências básicas, mantendo o tônus cultural animador da sociedade sergipana.

 

A Semana é uma escola, no sentido de que ela ensina a fazer jornal e a tratar as páginas dos jornais com a dignidade da boa notícia, do comentário justo, da denúncia e da cobrança necessários e acima das questões locais. Mais que isto, A Semana tem arte em suas páginas, seja pelas charges, caricaturas, ou seja pelas ilustrações que fizeram de Carvalho Déda um artista, que aliou no batente do jornal muitas qualidades requeridas pelo jornalismo. A reunião dos jornais, a começar pela coleção 1946/1947, em CD ROM permite aos contemporâneos solver, com prazer, esse belo exemplo de cidadania cultural deixado por Carvalho Déda em A Semana.

 

Para evocar Carvalho Déda, nos exatos 110 anos de nascimento e 40 anos de morte, o BANESE CARD e a FUNCAJU promovem, no dia 9 de dezembro, uma Exposição comemorativa, na Galeria de Artes Álvaro Santos, focalizando em 50 painéis o cidadão, o político, o intelectual, o jornalista e o xilógrafo. Na Exposição será lançada uma caixa com o título O Mundo de Carvalho Déda, reunindo 4 livros: Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano, que ganha 3ª edição, Simão Dias – Fragmentos de sua história, em 2ª edição, o romance inédito Formigas de asas e a coletânea Carvalho Déda Vida & Obra, com textos inéditos, correspondências, ilustrado com fotos e xilogravuras.

 

Vai na caixa, também, um DVD com a vida e a obra do fundador de A Semana, e um CD ROM com a coleção do semanário simãodiense, dos anos de 1946 e 1947, como parte de um projeto que digitalizará toda a coleção, até 1969. 

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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