Centenário de Leite Neto – Pensador, intelectual e político

Sergipe deve celebrar, no próximo ano, o Centenário de Nascimento de Leite Neto, um dos seus mais completos e respeitados políticos, líder partidário, articulador, campeão de mandatos, percorreu as três instâncias legislativas: a Assembléia estadual, a Câmara Federal e o Senado e por onde passou deixou uma marca exemplar, que adorna a sua biografia.

 

Francisco Leite Neto, filho de Silvio César Leite e de Lourença Rollemberg Leite, nasceu em Riachuelo, em 14 de março de 1907. Sua família, numerosa e importante, carregava dois imponentes sobrenomes: Leite, de Riachuelo, e Rollemberg, de Itaporanga e de Japaratuba. Entre os tios, de sobrenome Leite, Augusto César Leite pontificou na medicina, com incursão vitoriosa na política, e Júlio César Leite, na atividade industrial e também na política, como senador da República. Entre os irmãos, ostentando o Rollemberg  como neto do senador e Barão de Japaratuba, e sendo, ainda, bisneto do Barão de Estância, se destacaram, no seu tempo, José Rollemberg Leite, engenheiro, professor, governador do Estado por duas vezes, Gonçalo Rollemberg Leite, advogado, professor e jornalista, Alfredo Rollemberg Leite, jornalista, político e advogado, Márcio Rollemberg Leite, intelectual.

 

Estudou as primeiras letras em escolas particulares, em Riachuelo e em Aracaju, fazendo o curso secundário no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, passando pelo Colégio Tobias Barreto, e pelo Colégio Antonio Vieira, dos Jesuítas, em Salvador, na Bahia. Permaneceu na Bahia, bacharelando-se na Faculdade de Direito, regressando para Sergipe, fixando-se em Aracaju, onde iniciou sua carreira de avogado e pensador do Direito, como Diretor da Penitenciária Modelo, construída em 1926, pelo Governo Graccho Cardoso. Na direção da Penitenciária, o bacharel Francisco Leite Neto acompanhou a evolução dos debates sobre a delinqüência, o sistema penal, a legislação e as novas correntes científicas que atraíam, cada vez mais, adeptos. Por motivos políticos, durante o Governo Eronides de Carvalho, foi exonerado da direção da Penitenciária, protestando publicamente, recorrendo ao Poder Judiciário, através de Mandado de Segurança, defendendo a exigência tecno-científica do cargo, criado pela lei 943, de 9 de outubro de 1926.

 

Francisco Leite Neto foi eleito para a Assembléia Constituinte Estadual, que sob a presidência de Pedro Diniz Gonçalves Filho redigiu a Constituição do Estado de Sergipe, promulgada em 16 de julho de 1935. Francisco Leite Neto foi eleito pelo Partido Republicano de Sergipe, fundado pelo seu sogro, Antonio Manoel de Carvalho Neto, intelectual e político de renome nacional, para fortalecer a liderança do Interventor Augusto Maynard Gomes, contando com outras lideranças, da capital e do interior do Estado.

 

A convivência com Carvalho Neto e com Augusto Maynard Gomes levou Francisco Leite Neto ao centro do Poder estadual. Com o Estado Novo que fecha a Assembléia e transforma o governador Eronides de Carvalho em Interventor Federal, Francisco Leite Neto retorna à direção da Penitenciária, permancendo ali até 1938. Em 1941, com o retorno de Augusto Maynard Gomes ao Governo assume a Secretaria Geral, permanecendo até 1945, quando teve a oportunidade de assumir a chefia do executivo estadual.

 

Com a redemocratização de 1945 ingressa no PSD – Partido Social Democrático, e é eleito deputado federal, assumindo a condição de líder político, que leva seu partido, em coligação com o Partido Republicano, liderado pelo seu tio Júlio Leite e seu primo Armando Rollemberg, ao Governo do Estado, por dois mandatos, o primeiro com José Rollemberg Leite, seu irmão (1947-1951), o segundo com Arnaldo Rollemberg Garcez, que apesar do Rollemberg no nome, não era seu parente. Começa as suas atividades como professor, ensinando Economia Política e Ciências das Finanças, no curso técnico da Escola de Comércio.  Em 1950 é reeleito deputado federal e concilia suas atividades políticas, com a cátedra de Ciências das Finanças, na Faculdade de Direito de Sergipe. Em 1954 ganha novo mandato de deputado federal e em 1958 repete o feito, passando 16 anos como deputado federal, destacando-se nas Comissões Técnicas, notadamente nas de Orçamento e de Finanças. Em 1962 é eleito senador da República.

 

Ao longo das atividades públicas, Francisco Leite Neto publicou diversos livros, dentre eles: Política, doutrina e crítica (Bahia: Gráfica Popular, 1933), Sergipe e seus problemas (Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio, 1937), reunindo os ensaios Sergipe, o Nordeste e o banditismo, Causas do banditismo, A Penitenciária de Sergipe, Menores, abandonados e delinqüentes e A liberdade nos Parlamentos, Orações provincianas (Aracaju: Casa Ávila, 1940), reunindo A mocidade e os problemas da economia nacional, Tobias Barreto, jurista e filósofo, O Duque de Caxias e o Dia do Soldado, Estudos e Afirmações (Aracaju: Livraria Regina, 1943), A disseminação das rendas na Constituição de 1946 e Pareceres nas Comissões de Finanças e Orçamento da Câmara dos Deputados – 1948-1962.

Casado desde 1933 com Alina Carvalho Leite, conhecida como D. Celina, filha do deputado Carvalho Neto, Francisco Leite Neto entrou para a Academia Sergipana de Letras, na Cadeira 23, vaga com a morte de Prado Sampaio, tomando posse em 23 de julho de 1942, sendo recebido no sodalício por Garcia Moreno. Francisco Leite Neto foi, também, orador do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e faleceu em 10 de dezembro de 1964, aos 57 anos, deixando um exemplo de preparo, liderança, produção intelectual, contribuindo para a história jurídica, política e cultural de Sergipe.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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