A matéria publicada pelo semanário CINFORM ,na semana que passou, ainda gera comentários e observações dos médicos. Em atenção ao colega Gildo Simões, dermatologista formado pela UFS em 1975 e que não é de agora que vem denunciando as péssimas condições de trabalho do médico nos serviços públicos de saúde, publico na íntegra seu artigo, enviado para a redação do referido jornal, com um novo foco para a questão.
CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA X PROFISSIONAL MÉDICO
Li com atenção a matéria publicada no jornal CINFORM em 15 de janeiro, onde se refere à existência de uma “máfia branca” entre os médicos. Eu não faço parte de nenhuma máfia, nem nunca farei, assim como centenas de colegas, que dia após dia lutam atendendo, examinando, operando, pesquisando, fazendo procedimentos, dando plantão, num trabalho difícil, incansável que requer condições de trabalho, atenção e respeito, principalmente quando ele é feito nas instituições do governo, seja municipal, estadual ou federal.
É sabido que o Conselho Regional de Medicina regula a profissão médica, assim como a OAB o faz com os advogados e o CREA com os engenheiros. Entretanto a população não tem visto com bons olhos a atuação deste órgão, e com razão, afinal se uma entidade procura se distanciar de muitas das questões que dizem respeito ao desempenho dos serviços de saúde, consequentemente refletindo nos médicos, a população não tem encontrado apoio em diversas situações que prever a atuação desse órgão.
Recentemente este mesmo jornal publicou uma comunicação do médico Rilton Marcus Morais. Ao ser solidário com a dor do paciente e também com o médico citado numa denúncia, ele vai além explicitando sua opinião “sofri por perceber que o Conselho Regional de Medicina do nosso estado só serve para nos cobrar anuidade, pois nada que acontece aos médicos ou à medicina parece ser do seu interesse”.
Em agosto de 2005 um policial militar de prenome Everton invadiu o consultório da maternidade Hildete Falcão Baptista levando algemado no camburão um médico excelente e valoroso, fato este que revoltou a todos devido ao procedimento ilegal dessa prisão. Até hoje, não se tem noticia de qualquer punição. O presidente do Conselho Regional de Medicina de Sergipe numa atitude tanto quanto inexplicável emitiu na ocasião uma nota ameaçando o não atendimento dos policiais militares e seus dependentes pelos médicos do estado. A população não entendeu uma postura dessa natureza, que além de atingir a ética, provavelmente seria de difícil execução.
Mais recentemente, em 20 de janeiro do corrente, o mesmo presidente do Conselho Regional de Medicina de Sergipe publicou uma nota em resposta a matéria do CINFORM sobre a “máfia branca”, onde esclarece que o caos na saúde pública vivido pela população é antigo e de responsabilidade do sistema dos governos que se sucederam, tem mais de 20 anos e que os médicos são vítimas tanto quanto a sociedade, entretanto vale registrar a resolução CFM nº. 1.617/2001 que define que “cabe aos Conselhos de Medicina zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente”.
Diante disso o que o Conselho Regional de Medicina tem feito para que seja cumprida a resolução acima satisfatoriamente?
É superlotação de pacientes nos hospitais; é pequeno número de médicos para atender dezenas de pacientes; é a maneira degradante e indigna que os diretores e coordenadores dispensam aos profissionais de saúde, desrespeitando-os, (no afã “de mostrar serviço” ao usuário tais coordenadores e diretores destratam os médicos) e este modo de agir vem virando rotina nos órgãos de saúde pública. É claro que este tipo de tratamento vai repercutir no trabalho dos médicos e todos os outros profissionais de saúde. Hoje nos postos da prefeitura eles se alimentam igual bóia-fria, não há talheres, pratos, nem refeitórios condignos.
Como é possível abrir um pronto socorro, de urgência, sem ter a mínima condição para isso? Como pode um médico trabalhar em um serviço que não possua as devidas condições de atendimento? E mais, se ao órgão de classe compete fiscalizar o exercício da medicina como deixa o seu associado numa situação dessas?
Um exemplo, o posto de saúde, denominado de hospital que leva o nome em homenagem do nosso baluarte da medicina sergipana, Dr. Nestor Piva, designado para atendimento de urgência aos pacientes mesmo não possuindo as condições adequadas, manteve seu funcionamento dia após dia, causando resultados indesejáveis a população. E este atendimento virou caso de polícia a ponto do ministério público estipular um prazo para que sejam adquiridos alguns equipamentos básicos. Já foi retirada a placa da frente do hospital onde se lia “posto de urgência”, isto depois de quase um ano de funcionamento. Mas cabe perguntar: quais foram os procedimentos do Conselho Regional de Medicina para evitar os constrangimentos e as dores vividas pelos médicos e seus pacientes. Vislumbrando a Lei citada acima, a atuação do CRM teria que vir primeiro, bem antes de deixar um ser humano nas mãos de pessoas que se prepararam para salvá-las, mas que, no entanto, não tem encontrado o aparato necessário para a prática legal da medicina. E devido a tal situação alguns pacientes falecem, infelizmente. Por que as autoridades permitiram, por que permitem? Como conseqüência, a classe médica paga um preço muito alto ao perder a credibilidade diante daqueles que em suas mãos confiaram suas vidas, o que é lamentável.