“A endometriose não é fatal, mas o desespero pode ser” Kelso Passos

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A entrevista deste sábado, 23 de setembro, vai abordar um tema ainda pouco falado: Endometriose. O blog com o especialista renomado nacionalmente no assunto, o médico, Kelso Passos. O médico é especialista em ginecologia e obstetrícia; especialista em laparoscopia e histeroscopia; Pós-graduado em Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva pelo Hospital Sírio Libanês (SP); Pós-graduando em Cirurgião Pélvico Pleno com foco em Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva pelo Instituto Crispi – Faculdade Suprema (MG).

 Kelso afirma que a endometriose pode acabar com os sonhos de milhares de mulheres por falta de um diagnóstico em tempo hábil. O médico que atua no mercado há mais de trinta anos aproveita a campanha de conscientização do Setembro Amarelo para alertar que a dor da endometriose é real e pode ter consequências devastadoras. Com várias especializações nesta área, Kelso é pioneiro no estado no tratamento da doença desde a década de 90, ele atende mulheres de todo país e de outros países em seu consultório diariamente e frequentemente realiza o tratamento cirúrgico, que geralmente são cirurgias de alta complexidade. 

Blog Cláudio Nunes – Dr. Kelso Passos, o que é endometriose?

Kelso Passos – A Endometriose é definida pelo implante de células e/ou epitélio glandular endometrial em localização fora da cavidade uterina (camada interna do útero), podendo comprometer diversos locais, entre eles: o miométrio (camada muscular do útero), ovários, peritônio, ligamentos útero-sacro e redondo, região retrocervical, septo reto-vaginal, reto, sigmóide, íleo terminal, ceco, apêndice, bexiga e ureteres, e localizações extra-pélvicas como: diafragmática, pulmonar, cerebral, cutânea, etc. Ela acomete qualquer parte do corpo humano!
A Endometriose representa uma afecção ginecológica comum, atingindo cerca de 10 das mulheres no período reprodutivo e até 3% – 5% na fase pós-menopausa.

BCN – A população tem conhecimento sobre a doença?

KP – Infelizmente a população brasileira e, até mesmo mundial, e nossos governantes e autoridades políticas desconhecem sobre a gravidade da doença e não têm noção do que a endometriose é capaz de ocasionar, dos sintomas e das consequências que ela causa em todas as áreas da vida da mulher. A endometriose possui várias formas e as mais graves, mais sintomáticas, geram incapacidade laborativa, pessoal e familiar, inclusive impossibilitando a realização de ações diárias básicas, mudando completamente a rotina dessas mulheres. Por causa disso, a endometriose já foi responsável por demissões, términos de relacionamentos e, mais uma vez, é motivo de descrença, por não acreditarem que uma doença seja capaz de causar tudo isso, acham que é exagero, mimo, “coisas da cabeça”. Infelizmente não existem leis nem subsídios para amparar essas pacientes. Então, muitas das mulheres com endometriose ficam incapazes de trabalhar, porém, como não têm direito a auxílio doença, a aposentadoria, e nenhum benefício legal que as ampare durante as crises, são obrigadas a trabalhar com todo esse sofrimento, pelo medo de perder o emprego. A França, por exemplo, já lançou uma estratégia de combate à endometriose. Macron afirmou que a doença não é um problema das mulheres, mas sim um problema social, da nação francesa. O Brasil precisa também reconhecer a doença como uma questão de saúde pública.

BCN- Como a mulher descobre que tem endometriose? 
 
KP – O Diagnóstico pode ser feito através da história clínica minuciosa, complementado com o exame físico, ultrassonografia para pesquisa de endometriose e ressonância magnética. A videolaparoscopia como método diagnóstico está em desuso, isto deve-se à alta especificidade dos métodos de imagem, principalmente a ultrassonografia para pesquisa de endometriose feita por profissional devidamente habilitado, pois nesta condição sua especificidade e sensibilidade é superior à ressonância magnética.No mundo a média de tempo é de 8 a 10 anos para as pacientes descobrirem que estão com endometriose, quando a mesma não procura profissionais capacitados na doença.

BCN- A partir de que idade a doença se manifesta? 

KP– A doença pode se manifestar desde a primeira menstruação, ou seja, na adolescência. A causa como citamos é desconhecida, para qualquer idade. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais facilmente a doença será controlada, e nesta fase são menos frequentes os casos que precisam de cirurgia.

BCN- Quais são os principais sintomas da endometriose ?

KP–  Os sintomas causados mais comuns são: cólica menstrual de forte intensidade, incapacitante, dor pélvica crônica, dor durante às relações sexuais, desconforto urinário, dor ao evacuar e infertilidade, dentre outros. Porém, em torno de 10% das mulheres com a doença são completamente assintomáticas.

BCN- Como funciona o tratamento? 

KP- Por se tratar de uma doença que até o momento não existe cura, o tratamento consiste em proporcionar uma melhor qualidade de vida para a paciente, preservar sua fertilidade quando possível, e fazer com que a paciente volte a ter uma vida normal, quando conseguimos a eliminação ou diminuição significativa dos sintomas tais como: cólica menstrual incapacitante, dor durante as relações sexuais e a dor ao evacuar. O tratamento cirúrgico não é indicado na maioria dos casos e o tratamento medicamentoso sempre é associado. Todos estes tratamentos são supressivos e não curativos pelo que a recorrência da doença é a regra depois da sua descontinuação. A terapêutica medicamentosa da endometriose deve ser encarada como um tratamento de longa duração tal como qualquer outro utilizado em doenças inflamatórias crônicas. Os analgésicos podem ser utilizados no tratamento da dor, isoladamente ou em associação a um tratamento hormonal. A ausência do tratamento pode levar à infertilidade definitiva, limitações físicas cada vez maiores e mais duradouras devido à dor crônica de forte intensidade, inclusive passando a ocorrer fora do período menstrual, sintomas específicos e às vezes muito graves, de acordo com o local que a doença se proliferou, como por exemplo a obstrução intestinal causando abdômen agudo e levando à cirurgias emergenciais, invasão intestinal causando sangramento retal, na bexiga pode causar sangramento urinários, infecções e inflamações recorrentes, dentre outros.

 
BCN- Em quais casos a cirurgia é indicada?

KP-  O tratamento cirúrgico geralmente é indicado em casos de infertilidade, dor acentuada que não melhora com o tratamento clínico, processo aderencial que cause sintomas secundários, lesões grandes e principalmente infiltrativas. Na cirurgia preconiza-se que seja feita a exérese completa das lesões em todos os seus sítios de uma única vez. A cirurgia idealmente preconizada é laparoscópica, sendo convencional ou assistida por robô.
 
BCN- Na sua avaliação o número de casos de endometriose vêm aumentando nos últimos anos? Se sim, a que se deve esse aumento? 

KP- Pela maior divulgação e estudos sobre a doença, chamando cada vez mais a atenção das pacientes e profissionais, não sabemos se o número de casos aumentaram ou na verdade se estamos dando mais diagnósticos de casos que eram classificados como “normais”. 
 
BCN- Qual a maior luta da mulher que tem endometriose? 

KP- A dor física e emocional da endometriose é real, então ela deve sempre ser valorizada e investigada, pois os transtornos causados pela doença afetam várias áreas da vida da mulher, como já disse. A jornada de consultas e exames, a incredulidade da dor da endometriose por parte muitas vezes da própria família é uma luta exaustiva que essas mulheres enfrentam contra uma doença crônica sistêmica e sem cura que afeta as expressões gênicas do cérebro e resultam em sensibilização central e estudo do humor, segundo o professor Hugh Taylor da Yale School of Medicine, em publicação na Lancet em 2021. O que explica o quadro de ansiedade e/ou depressão que é muito encontrado nas pacientes com endometriose. É uma luta diária e que precisa do apoio de todos, principalmente da família, sociedade e governo.

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“O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem.” Arthur Schopenhauer.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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