UMA VOCAÇÃO PELOS NECESSITADOS

— PADRE PEDRO —

UM DOS ORGULHOS DA SERGIPANIDADE  Por Clarkson Moura 

“Prefiro unzinho Padre Pedro a uma batelada ou carrada de ‘padres de moda’, na correta e atual expressão do Papa Francisco.”
Clarkson Moura

“Jamais se pagaram os benefícios recebidos, no justo preço e no momento oportuno.”
Joaquim Setanti

Parafraseando S.S., o Papa Francisco, ouso assentar:

“A corte é a lepra do arcebispado metropolitano de Aracaju.” Clarkson Moura

Exatamente, ontem, 21 de julho do corrente ano, fez 27 anos da partida definitiva do saudoso e boníssimo Padre Pedro — nosso “São Pedro” — deste plano existencial.

A tal predestinado “Servo de Deus” (foto abaixo), eu tive a honra e a satisfação de conhecê-lo, assim como de haver interagido, pessoalmente, com ele, por incontáveis vezes, quer cruzando com ele nas corriqueiras andanças pastorais pelos logradouros de Aracaju; quer consultando-lhe os sólidos e vastos conhecimentos da gramática e do vocabulário do “Latim”, língua-gênese dos chamados idiomas neolatinos, como o Português, com vistas a me dirimir frequentes e ocasionais dúvidas sobre essa importante língua, não obstante morta, oficial no âmbito do Estado do Vaticano, em efêmeros e diversos bate-papos informais.

Dessarte, diga-se de passagem, além de inatamente inteligente, polidisciplinarmente culto, taquifemicamente falante, fluentemente latinante e racionalmente convincente, Pedro Alves de Oliveira, vulgo Padre Pedro, nascido, em 3 de julho de 1904, na cidade de Riachão do Dantas, sede do município de igual nome, Sergipe, e ordenado em 8 de dezembro de 1928, por capricho do destino, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da atual Arquidiocese desta Capital — atualmente desalojada pela conhecida “obra de Santa Engrácia”, que, durante mais de uma década, se arrasta a passo de “preguiça” na colossal, centenária e gótica edificação da Catedral Metropolitana de Aracaju, templo-mor da fervorosa e pertinente freguesia mariana — era vocacionalmente religioso, exageradamente humilde e infinitamente caridoso.

Essa criatura bem-aventurada, de baixa estatura, de franzino corpo, de cabelos brancos, densos e lisos, de batina preta, desbotada e de colarinho puído, de óculos pretos “fundo de garrafa”, sem nenhum adereço, peregrinava diuturnamente pelas avenidas, ruas, travessas, vielas, becos etc. do centro, dos bairros, subúrbios, da periferia da “Grande Aracaju”. Todos os dias, sob sol ou chuva, a pé e a passadas rápidas, sempre, com um saco de pão nas costas, esse incansável e senil Pastor católico batia as “setes freguesias” e percorria os mais inacessíveis rincões desta Cidade, a abençoar os que lhe pedissem, ou não, bendição, a distribuir conforto espiritual, pães etc. entre transeuntes, perambulantes, mendigos, famintos, prostrados, ou seja, entre todos os tipos de moradores de ruas e de necessitados de bens materiais e/ou imateriais, com quem encontrasse pela frente, em suas jornadas benfazejas cotidianas.

Ainda que eu esteja equivocado, na minha modesta cognição teórico-eclesial, enquanto leigo, Padre Pedro se deixou transparecer-me ter sido precursor da revolucionária e progressista “Teologia da Libertação”, genuinamente latino-americana, concebida pelos teólogos Gustavo Gutiérrez (peruano) e Leonardo Boff (brasileiro), após o Concílio Vaticano II (1962-1965) e a Conferência de Medellín, Colômbia (1968), exegese teológica essa, “ab initio”, consistente, nada mais ou nada menos, na opção evangélico-cristã preferencial pelos excluídos no mais amplo sentido da Doutrina Social da Igreja Romana contemporânea, pós-Concílio Vaticano II, salvo melhor interpretação dos notórios teólogos e estudiosos dessa corrente teológico-cristã.

Pois bem, sob sucessivas lideranças episcopais e arquiepiscopais, esse Pró-homem sacrossanto soube ser, ao mesmo tempo, missionário, pastor, evangelizador, defensor dos oprimidos, pobres, miseráveis, injustiçados das dezenas de paróquias integrantes da circunscrição eclesiástica, tanto da anterior Diocese de Aracaju, quanto da hodierna e sucessora Arquidiocese de mesmo nome.

Aliás — seja dito de bom lembrete — durante seu longevo ministério sacerdotal, foi Vigário nas cidades de Propriá, Rosário do Catete, Maruim, Santo Amaro das Brotas, Tobias Barreto e Arauá.

Ademais, como capelão do Hospital Santa Izabel, ao longo de mais 40 anos, costumava visitá-lo diariamente, a prodigalizar, sempre, a bem-vinda, indispensável e graciosa assistência espiritual aos pacientes e acompanhantes, através de orações, bênçãos e palavras de conforto. Gestos esses, imprescindíveis ao quadro clínico dos enfermos, assim como ao estado psicoemocional de seus familiares e visitantes, seja na mitigação das dores, incertezas e tristezas alheias, seja no efeito contributiivo para o tratamento e a cura das diversas doenças de que padecia o então público-alvo interno do importante Nosocômio sergipano.

Surgiu assim, prendado de virtudes peculiares, no limiar do século XX, neste “Sergipe del Pueblo” (como costumo chamá-lo), mais uma vida sacerdotal, dedicada exclusivamente à defesa dos dos mais necessitados, dos famintos, dos indefesos, abandonados, descartados, violentados, torturados, dos sem-teto, dos desassistidos, doentes, enfim: dos excluídos, explorados e marginalizados.

Ora, esse dignitário duradouro e infatigável, pelo que realizou por toda a extensão do seu anoso e profícuo ministério sacerdotal, faz por merecer todas as homenagens reservadas a um benfeitor e baluarte da Humanidade, a um herói anônimo, a um verdadeiro humanitário.

Inexplicavelmente, mesmo sendo refratário a holofotes, câmeras, títulos laudatórios e distinções honoríficas, o singular legado clerical e filantrópico desse homem de fé e ação, a despeito de notoriamente incomensurável, não foi objeto de documentário ou representação fotográfica, cinematográfica, dramatúrgica ou televisiva, nem, sequer, de registro biográfico ou narrativa literária.

Bem que eu concordo, nesse passo, com o eterno e universal Aristóteles, sábio grego, que, do inigualável de sua incontestável genialidade, oraculou: “O agradecimento envelhece rapidamente.”

A bem dizer, quanta falta insuprível esse legítimo “Servo de Deus”, Apóstolo da Igreja de Roma, continua a nos fazer, de há muito tempo, em diversos setores da vida pública e espiritual de nosso Estado, ainda carente da atuação efetiva e cooperativa da Doutrina Social da Igreja Católica Apostólica Romana.

Portanto, injunge-se-nos, aos católicos sergipanos — por um imperativo de gratidão, a justa recordação dos 27 anos do passamento desse saudoso religioso, credor de extenso rol de serviços de alcance social e de interesse público, além da ampla e notória assistência espiritual — destinando-lhe nossas autênticas preces de gratidão e invocando-lhe a indispensável intermediação com o Pai Divino em favor de todos nós, nestes momentos tão difíceis para toda a Humanidade.

Pelas sobejantes razões perfiladas e por outras tantas não resenhadas neste breve e modesto escrito, ouso proclamar-me admirador confesso, assim como testemunha ocular e auditiva do histórico e social legado desse vocacionado “Serviçal de Deus”.

Quão imensa lacuna, sua santa bondade nos tem feito, mormente, neste últimos dias tão tormentosos e nebulosos por que passa a Arquidiocese de Aracaju, desprovida que está de um condizente pastor-mor titular, em razão da controversa e incógnita “renúncia” de dom João José Costa, até então, Arcebispo Metropolitanto.

Obrigado! Inolvidável benfeitor social, defensor dos desassistidos, dos sem-teto, sem-emprego, sem-justiça, e modelar Presbítero.

Que sua santa benemerência interceda perante o Deus-Pai e o Deus-Filho, todo-poderosos, a fim de iluminarem a Sua Santidade, o Sumo Pontífice Francisco, a nomear, de imediato, o futuro pastor-mor da Arquidiocese de Aracaju!

Que sua sagrada alma continue a habitar a “Mansão dos Bem-aventurados!

(Por Clarkson Ramos Moura)
 
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