Entrevista:Paulo Britto,médico e ex-prefeito Propriá lançará trilogia

                             Blog Cláudio Nunes: a serviço da verdade e da justiça
    “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter.” Cláudio Abramo.

O entrevistado deste sábado, é o médico e ex-prefeito de Propriá, Paulo Britto, que na próxima sexta-feira, 27, durante A II Festa Literária da cidade/II FLIPRIÁ, lançará uma trilogia “Os Mosqueteiros do Reino de Propriá”, com os seguintes livros: “Deus! Vá lá que ele existia…”; Infidelidade! As traições nossas de cada dia…; e “Morte! Você quer papo com ela?” a Trilogia será lançada em Aracaju em janeiro de 2024.

Paulo Britto é tocador de violão e compositor de várias músicas em parceria com seu irmão Carlos Ayres Britto (escritor, poeta e ex-Ministro do STF), algumas delas defendidas em festivais de Música Popular. Nascido na cidade de Propriá/SE em 1958. Médico Clinico Geral especialista em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Púbica/FIOCRUZ e também outras especializações todas pelo IEP/SÍRIOLIBANÊS. Foi professor substituto do Departamento de Medicina da UFS por sete anos, ministrando a disciplina Saúde Coletiva I e III.  Passou também por várias áreas na gestão publica da saúde e de 2006 a 2011 foi prefeito de Propriá, pelo PT. Nesta entrevista, além dos livros, Paulo Britto, responde sobre a renúncia dele a Prefeitura de Propriá.

 

 Blog Cláudio Nunes – E aí, Paulo Britto? O ex-prefeito e, pelo que estou informado, também ex-político, agora é escritor?

 Paulo Britto – Essa pergunta exige 2 respostas.

    Inicio respondendo que não me considero um ex-político, na medida em que contínuo na militância da formação política, digamos, avulso, difundindo o meu modo de pensar “esquerdista” em todos os espaços que me são disponibilizados, como em palestras, sala de aula, mesa de bares e nas redes sociais. Continuo combatendo a excrecência ultradireitista Bolsonarista e sua prática neofascista… Continuo na linha de frente da luta contra o racismo, a homofobia, a misoginia, o obscurantismo e todo tipo de discriminação… Continuo com a minha prática cidadã de, como profissional médico e professor de saúde pública, atuar em defesa do acesso “à Saúde Ampliada”, que no seu sentido mais abrangente entende ser esta a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, emprego e renda, meio ambiente, transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e, como não poderia deixar de ser, acesso facilitado a bons serviços de saúde. Ou seja, não me afastei da política! Continuo petista, apenas me afastei da política enquanto possibilidade de vir a exercer um cargo “eleitoral”.

    Quanto a segunda parte da pergunta: SIM! Estou enveredando na área literária.

BCN – Está atendendo ao chamado do sangue? Dando vasão ao DNA familiar?

 PB – Digamos que sim, já que sou filho e irmão de imortais da ASL, e um outro da Academia Propriaense de Letras.

Na verdade eu não estou me batizando nas letras agora…, e quanto a esse aspecto, sem contar alguns escritos como poesias de adolescente e artigos jornalísticos (rsr), todos eternizados em empoeirados cadernos colegiais e nos “azuis” Boletins Informativos da época dos grêmios estudantis, e impressos com o auxílio do valoroso, atrevido e bravo mimeógrafo a álcool…, excetuando-se a literatura técnico-acadêmica patente nas diversas monografias exigidas por alguns cursos de especialização que concluí…,  e fora algumas crônicas e artigos político-filosóficos postados nas minhas páginas de Rede Sociais…, sou tocador de violão e compositor de várias músicas (algumas em parceria com meu irmão Carlos Ayres Britto (escritor e poeta), algumas delas defendidas em festivais de música.

Alguns outros tantos registros literários que produzi se encontram guardados no âmago mais sensível da minha mente – nos neurônios que comandam o coração – e nas sinapses interlocutoras daqueles que tenho dialogado. Certamente que muitos desses registros estão publicados nos insights mais complexos, e também descomplexos, do meu eu, e foi exatamente recorrendo à tais publicações “fantasmas” que surgiu a trilogia “OS MOSQUETEIROS DO REINO DE PROPRIÁ que daqui a pouquinho estará sendo lançada.

BCN – Do que trata a Trilogia? Pode adiantar?

 PB – Como óbvio, se trata de três livros, que embora tenham absoluta contextualização entre si, podem ser lidos sem seguir uma sequência, pois cada um deles tem começo, meio e fim.

    O primeiro deles, com o título “Deus! Vá lá que Ele exista…” junta e mistura alguns aspectos relativos à filosofia, à religião, à fé e não fé, e no formato Romance busca desenvolver uma reflexão crítica sobre esses temas universais. A crítica reflexiva sobre esses assuntos que nunca saem de moda se concretiza através da saga dos “defensores do Rei de França”, Porthos (antropólogo), Athos(médico), Aramis (pastor evangélico) e d’Artagnan(restauranteur), todos oriundos da cidade ribeirinha de Propriá. O escrevinhado também tem como objetivo ser um livro paradidático de filosofia.

    O segundo livro, com o título “Infidelidade! As traições nossas de cada dia…”, trata de um tema que desde os primórdios da civilização tem estado presente nos relacionamentos humanos e feito parte dos nossos pesadelos, tanto quanto dos nossos sonhos bons. Mesmo sendo desde prisca eras praticada por mulheres e homens, a traição conjugal se faz um assunto que ainda hoje é considerado tabu e ao longo do tempo tem sido responsável por desencadear crimes passionais, guerras e outras reações extremadas. Por essas questões inerentes ao tema base, e também por fazer parte do cotidiano da confraria dos Mosqueteiros do Reino de Propriá, eu resolvi escrever sobre a INFIDELIDADE e a apresento por intermédio de um formato literário “sem amarras” para, assim, ver facilitada a dupla tarefa de trazer à baila tão arrebatador e sempre contemporâneo assunto, assim como permanecer dando continuidade à saga dos defensores do Rei de França – Porthos, Athos, Aramis e d’Artagnan – iniciada no livro “DEUS! Vá lá que ele exista…”.

Por fim, terminado o segundo livro uma ideia me ocorreu: exatamente a de que poderia continuar usando a saga dos MOSQUETEIROS DO REINO DE PROPRIÁ para desenvolver assuntos outros, desde que guardassem entre si os aspectos da universalidade e da qualidade do que se faz eterno e possa vir a despertar e ou acender a interação do leitor sobre tão palpitantes temas, fazendo-o identificar-se com as ações dos personagens e refletir sobre elas. Daí, definidos os aspectos norteadores da escolha do tema-foco a ser considerado, no terceiro livro optei pelo da “Morte”. Assim decidi porque, para além de ser um tópico que se confunde com a própria história da humanidade, quando refletimos sobre o turbilhão de situações ditas “finitas” que fizeram, faz e, certamente, ainda farão parte de outros tantos enredos a serem vividos pelo citados Mosqueteiros, não há como não entender como acertada tal escolha.

BCN – Já tem data marcada para lançamento?

PB – Eu lançarei a Trilogia em dois momentos. O primeiro será agora no dia 27/10 em Propriá durante a II Festa Literária da cidade/II FLIPRIÁ. O segundo momento será em Janeiro do próximo ano aqui em Aracaju.

BCN – Me perdoe, pois sei que esse é um assunto que você tem evitado falar. Mas o fato é que lembro bem do dia da sua renúncia ao cargo de prefeito, assim como lembro bastante das críticas que você sofreu por tomar tal decisão, inclusive de correligionários, e também de algumas pessoas que certamente você não esperava. O que aconteceu de fato?

 PB – Veja, já tem tanto tempo desse episódio que alguns detalhes já nem me lembro mais… Mas de uma coisa tenha certeza: eu faria tudo de novo! Na verdade eu nunca me neguei a falar sobre o assunto… Acontece que há pessoas que só buscam entender aquilo que lhes convém…

BCN – Foram muitas as críticas…

 PB – Certamente que sim e nenhuma delas me abalou… Quando eu tomei a decisão de renunciar ao cargo sabia muito bem quais as consequências que o ato traria, tanto para meu lado enquanto pessoa e enquanto político.

BCN – Fez isso por decepação com a política ou com alguns políticos?

 PB – Escute e tire as suas próprias conclusões.

Vou tentar ser didático:

Não tenho apego ao poder! Para mim ele só serve enquanto um canal para atuar em defesa dos direitos dos cidadãos e de executar ações que possibilitem que esse direito seja posto em prática.

Sou contra a reeleição. Para mim os mandatos do executivo deveriam durar 5 anos. Concorri à reeleição porque no primeiro mandato só atuei enquanto prefeito por 2 anos e 1 mês.

Desde o início das negociações partidárias na composição e posterior definição da chapa majoritária via consulta popular, acordei que meu vice conduziria a sua própria eleição, pois, se eleito, eu renunciaria 9 meses antes, desde que, naturalmente, o convívio entre o titular e o vice fosse respeitoso e leal. Assim acordei porque não seria justo utilizar para minha eleição os votos que viriam por intermédio do meu vice e depois largá-lo como um bagaço de cana chupado. Também fiz porque o meu partido, o PT, deixaria a titularidade municipal por 5 anos e não por 8 anos caso eu não renunciasse e o meu vice, com o meu apoio, vencesse as eleições, já que poderia participar de uma possível reeleição. Com a minha renúncia o PT lançaria o candidato a vice na reeleição do meu substituto. Tudo isso eu pensei.

Renunciei 18 meses antes e não 9 meses como por mim definido porque não estava feliz, e como diz Gonzaguinha, só vale ser feliz! Me encontrava infeliz porque estava enfrentando alguns problemas sérios de saúde e também porque desde que perceberam que eu decidira efetivamente lançar como meu candidato o meu vice, José Américo, muitos dos que faziam parte da composição partidária que me elegeu começaram a espernear e a, veladamente, e às vezes abertamente, conspirar contra.

 Tomei junto com meu travesseiro (nem a minha mulher sabia) a decisão e procurei o amigo Déda para comunicar. O governador buscou me demover da ideia sem sucesso e me perguntou se ele poderia fazer alguma coisa por Propriá, achando que o problema seria esse. Disse-lhe que não, porque nunca, em nenhum momento, uma cidade teve tanta atenção de um governador como teve Propriá, enquanto fui prefeito. Perguntou se o problema era de saúde e eu neguei, não quis à época tornar público isso. Perguntou se era problema com os políticos locais e eu optei por dizer que entendesse o meu gesto como uma questão de fórum íntimo. Ele deu um sorriso de entendimento e me disse que continuaríamos a ser os amigos que sempre fomos, porém não furtou de me alertar que dificilmente uma pessoa se recupera politicamente quando toma a atitude de renunciar a um cargo que lhe foi dado pelo povo. É como se fosse uma traição à confiança desse povo. Mesmo sabendo que ele tinha razão ainda ponderei sobre o que dizer quando os reeleitos deixam o cargo antes de finalizá-lo para concorrer a um outro cargo? Não estariam estes cometendo essa mesma traição?

 A partir daí foi um pandemônio e você como jornalista que cobria Propriá acompanhou bem isso.

BCN – Sim, acompanhei tudo. Inclusive a sua tranquilidade!

 PB – Como poderia ficar intranquilo se foi uma decisão minha? Como poderia me preocupar com o que acharia esse ou aquele político se eu nunca devi nada a nenhum deles? Muito pelo contrário, todos os que apoiei o fiz de forma absolutamente livre de amarras, pois deles não esperava nada para me locupletar política e ou pessoalmente. Todos estão aí vivos e sabem muito bem disso.

 BCN – Mas agora você se afastou de vez. Talvez porque Déda tinha razão em seu alerta…

 PB Eu tenho mancômetro e sei, volto a afirmar, que atos como o meu não são bem vistos, muito menos aceitos, principalmente pelos políticos profissionais. Mas lhe garanto que se eu ainda tivesse vontade de voltar a me candidatar disputaria com as mesmas chances de vitória de qualquer um dos que não se afastaram da política.

 BCN –  Por que você tem essa certeza?

 PB – Pelo que foi a minha administração, pelos grandes amigos que tenho, pelos inimigos que não tenho, pelo que já fiz por minha cidade como gestor e médico, e por ser um administrador competente. Tenho certeza que isso ainda hoje é lembrado pelo povo e pelos trabalhadores da prefeitura.

BCN De vez em quando bate alguma saudade da disputa eleitoral?

 PB – Sim!

 

Frase do Dia

“Se você ler apenas os livros que todo mundo está lendo, você só pode pensar o que todo mundo está pensando.”  Haruki Murakami.

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais