O mundo se acabando lá fora e você aí escolhendo uma máscara que combine melhor com seu look, como se a dor pudesse ser vestida. Que espécie doentia nos transformamos, né? Lembro que sempre que assistia a alguma matéria, filme e tal sobre o Japão mais moderno tava lá um monte de gente usando máscara e andando tranquilamente pelas ruas. Eu ficava tipo: que povo estranho, tudo doente na rua… eu e minha cabeça classe-média-de-merda. O que na verdade eu não compreendia e só passei a perceber pouco tempo atrás é que os japoneses, além de educadíssimos, é um povo que se preocupa com o bem-estar do outro.
O Budismo já tinha me dado uma luz sobre esse olhar para com o meu vizinho. Mas amor, nascer no Brasil, onde o meu vem primeiro, e se eu puder ainda levo alguma vantagem em cima do outro, meio que impossibilita a gente de nos colocarmos no lugar do nosso vizinho. Somos selvagens, na verdade quase selvagens, pois já usamos perfumes importados, trazidos enrolados na cueca de algum amigo pra evitar a fiscalização.
Quantas velas você acendeu hoje para que essa pandemia acabe? Nenhuma, até porque não temos lojas de velas abertas para podermos comprar. E, se tivéssemos, acender uma vela adianta de quê quando temo um presidente pregando que o povo tem que ir para as ruas, abrir comércio, e até viver normalmente? Temos a representação da besta que prega a festa em meio ao caos. E aplaudimos em forma de voto dando aos donos do Brasil o direito de chicotearmos, sem nem ser num ato sexual. Somos mediocremente, idiotas!
Vejo uma pandemia. Vejo um monte de gente louca (inclusive eu) brincando em precipícios onde respiradores custam milhões e não têm autorização legal para serem usados. Produzimos pulmões que não respiram. Tudo errado, mas tudo bem também se a cor da minha máscara combinar pelo menos com o listrado das minhas meias. Os japoneses, sempre de máscaras brancas, usaram o adereço como maneira de evitar propagar doenças ou também se protegerem e não como mecanismo de chamar a atenção! Nosso “ilustríssimo” presidente passou minutos sem saber colocar uma máscara na região boca/nariz durante uma entrevista coletiva e nos tornamos a vergonha mundial que insiste em ser tratada por coerente, mas no fundo sabemos que permanecemos (ainda) dóceis selvagens!
Não existem regras para o uso das máscaras, claro! Na verdade, no Brasil, ferrado, as máscaras viraram o ganha-pão de milhares de pessoas que nem sabiam, talvez, que tivesse que pegar numa agulha e linha pra costurar pedaços de esperanças. É máscara sendo vendida no sinal e na bodega tem de desenho animado e até com a logo do Confiança. Penso que sobreviver, colocar um prato de comida na boca de um filho, deva ultrapassa estampas e afins, porém, estamos presos num filme de terror, onde não tem final feliz aparente. Somos a morte, temos vírus, e brincamos de Zorro com capa de pano sintético. Nosso clima é quente, sintético só é usado porque é barato. Já fomos de algodão. E Sonhos. E risos.
Hoje, nós somos de medo. Alguns de raiva. E pouca esperança. Mas quase todos de máscara para esconder a dor de morar num Brasil que acabou, mas que não temos coragem de admitir. Quando as máscaras saírem de moda continuaremos usando máscaras, para esconder aquilo que um dia fomos taxado de sermos os criadores: a esperança! Como diria o escritor Manoel Silva: “Sorte daqueles que estocaram momentos bons para lembrar”.
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