Corria abril de O mundo quedava-se em expectativa pelo anúncio oficial do fim das hostilidades. Em Aracaju, não era diferente. Ainda abalada pelo episódio do afundamento de navios em suas costas pelos submarinos do Eixo, diversos segmentos da sociedade se movimentavam, animados com os novos rumos da política nacional que sinalizavam para o fim do Estado Novo e o retorno das eleições presidenciais no final daquele ano. As conversas nas ruas giravam entre as eleições de dezembro e o tão esperado fim da guerra. Três anos antes, em 1942, quando a expansão do império nazista encontrava-se no auge, o coronel Augusto Maynard Gomes, interventor federal de Sergipe que governava o estado com mãos de ferro e um sem número de arbitrariedades, tomava o seu café da manhã, quando foi alertado por pescadores que na vila do Mosqueiro dezenas de corpos se misturavam com restos de embarcações nas areias da praia. Mandou averiguar. Encontraram mais de 50 corpos destroçados. Não se sabia até então o que teria provocado a tragédia. O que poderia ter sido um inesperado naufrágio revelou-se em dolorosa notícia. Submarinos alemães, singrando pela nossa costa, haviam torpedeado traiçoeiramente navios brasileiros. Primeiro foi o Baependi, depois o Araraquara e o Aníbal Benévolo. No total, a bordo de navios brasileiros, mais de 1000 pessoas morreram. Os sergipanos estavam em estado de choque, agora com a grande guerra na sua porta, temendo que ela se alastrasse por todo o continente americano. Felizmente isso não ocorreu e a sensação de alívio foi geral, não sem os traumas que levaram a população ensandecida a promover tentativas de linchamento de imigrantes alemães e italianos, como a que aconteceu com a família Mandarino, com o patriarca Nicola Mandarino sendo acusado injustamente de colaborador e espião do governo fascista. Não era de se estranhar assim que, em 1945, com a iminência da derrocada nazi-fascista, a população de Aracaju começasse a se organizar para festejar o fim da guerra. E nesse compasso surge a Comissão Promotora das comemorações populares pela queda de Berlim. No dia 28 de abril, apenas dois dias antes do suicídio de Hitler e do anúncio oficial do fim da guerra, a comissão publica matéria no Sergipe Jornal, concitando os estudantes, os trabalhadores e o povo para saírem às ruas, tão logo fosse anunciada a grande vitória aliada. A grande concentração seria na ponte do Imperador, com a queima de girândolas de foguetes sob a batuta do polivalente Pedro Barros, músico, poeta e exímio fogueteiro. Prometia a Comissão, na mesma nota, que “a este sinal deverá seguir-se o bimbalhar dos sinos das nossas igrejas, sirenes das fábricas, buzinas dos automóveis estacionados ou não, apitos de trens da Leste e tudo o mais que possa concorrer para mobilizar o povo e atraí-lo para as ruas centrais da cidade.” Apelava ainda que o comércio cerrasse suas portas para propiciar que todos pudessem participar das comemorações. A comissão contava com a coordenação geral do comerciante Francisco Porto, do promotor Luiz Garcia, de Hernane Prata, dos médicos Armando Domingues e Lauro Porto, de José Calazans, Osman Fontes e José Ataíde dos Santos. Na Comissão de Cartazes um trio espetacular: Jenner Augusto, Álvaro Santos e José Inácio, que pintaram cartazes espalhados pela cidade. Na divulgação, a Comissão de Imprensa contava com as inteligências do grande tribuno Carlos Garcia, do intelectual e jornalista Junot Silveira, do escritor Mário Cabral, de Joel Dias e Austregésilo Porto. Na Comissão de Locais, Márcio Rolemberg, Pedro Dias, Clodomir Silva e Manuel Faro Sobral. Já a Comissão Estudantil tinha Aloísio Sampaio, Florival Ramos, Oliveira Lima, Marita Lobão, Avani Torres e Dernival Lima. Finalmente, a Comissão de Finanças, encarregada de angariar fundos para a compra dos fogos e outras despesas, era formada pelo industrial Orlando Dantas, pelo empresário Joaquim Ribeiro, por Carlito Dantas, Gabriel Curvelo e Jocelino Emílio de Carvalho.
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