Comunicação e Cultura (ou seria o contrário?)

Luciano Correia, homem de mídia, com experiência em jornais diários e em folhas alternativas, com currículo rico na mídia eletrônica, apresentando programa, dirigindo jornalismo de emissoras em rede, reúne em livro alguns dos seus ensaios sobre comunicação, com os quais promoveu uma exegese das teorias mais difundidas sobre o fenômeno comunicacional, em todo o mundo, expondo com clareza o pensamento de autores e escolas. O livro tem, em sua origem, uma junção de teses que ganharam vida e promoveram os debates acadêmicos, e que são uma síntese das visões críticas que os meios ensejam, em permanente atualização. Também homem de cátedra, Luciano Correia mostra-se na intimidade das formulações teóricas, que balizam os cursos de comunicação, notadamente no Brasil.

A comunicação de massa teve na Faculdade de Comunicação do Rio de Janeiro e na ECA, de São Paulo, dois momentos essenciais, formadores de uma opinião técnica, que ligou comunicação e cultura, valorizando a mensagem. Com a proliferação dos meios, vindo a reboque os cursos universitários de comunicação ( jornalismo, radialismo, publicidade e outros), o tema passou a freqüentar os ambientes multidisciplinares, encorajando o surgimento de correntes interpretativas, como aquela denominada de folkcomunicação, liderada por Luiz Beltrão, e que vem nos últimos anos se constituindo numa escola, com seus eventos, edições, orientações.

 

Cada vez mais estão próximos, na interpretação possível, a comunicação e a cultura, ou, para melhor entendimento, cultura e comunicação, na relação direta, produzida ou em tempo real, que tem tomado caráter universal, rompendo barreiras geográficas, históricas e ideológicas. Como se trata de um mundo novo, que dinamiza a cultura e acelera a mensagem, tanto no sentido de uma opinião pública de adesão, e não apenas de compreensão, o fenômeno confunde seus usuários, tomados pelos mitos globalizados, presentes nas sociedades.

 

Há, nos guardados da memória, uma experiência grandiosa de comunicação e de cultura, promovida pelo Catolicismo com sua presença física, religiosa, artística, de pleno domínio social. Situada no centro das praças, como construção de maior porte, e tendo um Orago para atrair crentes, a Igreja estabelece seu calendário anual de festas devocionais, além de cumprir com ritos de vínculo íntimo com a assembléia de fiéis seguidores. O padre, que intermédia as relações, batiza e crisma, casa, ouve confissões, julga comportamentos, impõe indulgências, dá extrema unção e, depois da morte, encomenda a alma e reza missas votivas, fechando um ciclo de controle, alimentando pelas prédicas morais. Ao longo do tempo a Igreja agiornou-se, sem perder, contudo, sua influência sobre as massas.

 

No curso da história, a comunicação tornou-se linguagem, desdobrando-se em sotaques que visam conduzir, com eficiência, as mensagens. É está ótica que Luciano Correia captura com precisão cirúrgica, para formular as linhas do entendimento da chamada Teoria Comunicacional, abonando seus textos com idéias circulantes nos meios acadêmicos e profissionais, assinadas por expoentes do debate como Adorno, Horkheimer, Umberto Eco, Mauro Wolf, dentre muitos outros, aos quais poderiam ser acrescentados mais alguns, dentre eles José Marques de Melo, que através do INTERCOM e do LUSOCOM tem feito um grande esforço interpretativo, ao lado de estudiosos espalhados pelas cátedras brasileiras.

 

Depois de discutir temas midiáticos abrangentes, que ocupam grupos cada vez maiores de interessados, Luciano Correia se detém a escrever a história da TV a Cabo em Sergipe, valendo-se da experiência da TV Caju, canal 47, vinculada a LIG TV, de capital local, completando o livro Todas as idades da TV, que será uma fonte das melhores referências, sustentando uma crítica pertinente e vazada em conhecimento esclarecido, que servirá de suporte aos debates. Mais do que inserir-se na bibliografia sergipana, com uma variação temática inédita, Luciano Correia concorre para que os centros nacionais de estudos recebam uma contribuição lúcida, através do seu livro, que é preciso nas análises, rico de exemplos e escrito com a verve que tingido os textos do autor, como integrante de uma escola de jornalismo, formando com Fernando Sávio, um duo insuperável, como atestam as páginas mais velhas da Folha da Praia, sua prancha de exercícios comunicativos e culturais.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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