Conexões na web e os 100 anos da ferrovia Timbó-Propriá

Seja pela condição de acesso ofertada pelo provedor ou pela otimização das relações interpessoais propiciadas pelas mídias sociais, as “conexões” se tornam tema inerente, quando o assunto é internet. Inclusive, pesquisas recentes dão conta de que o tempo que dedicamos a esta “aproximação” digital tem crescido. Em média, por exemplo, o internauta já passa 10% de todo o seu dia conectado às redes sociais, de acordo com  dados divulgados, agora em julho, pela União Internacional de Telecomunicação (UIT).

Em números mais exatos, destinamos 2 horas e 25 minutos, por dia, às plataformas sociais – como Facebook e WhatsApp. Para se ter ideia, só em janeiro deste ano, já havia um total de 2 bilhões de contas criadas nas mesmas.

Aproveitando esta sede por nos mantermos conectados, nosso post de hoje pedirá licença para relembrar um fato marcante para a história de Sergipe. E que, é claro, também tem tudo a ver com conexões! Neste dia 6 de agosto, completamos exatos 100 anos que o Estado inaugurou a estrada de ferro que vai de Timbó a Propriá. Para celebrar a ocasião, separamos um artigo redigido pelo historiador André Sá (*), que compartilhamos com vocês. Boa leitura!

———————————

A inauguração da Estrada de Ferro Timbó a Propriá em Sergipe (1913-1915)

Em 6 de agosto de 2015, faz cem anos que a ferrovia em Sergipe terminou de ser inaugurada. Houve três inaugurações que aconteceram entre 1913 e 1915. Antes disso, entre os anos de 1872 e 1903, houveram inúmeras tentativas frustradas de construção de uma ferrovia em território sergipano. Essas tentativas esbarraram em uma lenta burocracia e em uma falta de recursos públicos, porém, houve o início de algumas obras, que foram rapidamente abandonadas.

No século XIX, o Brasil buscava o progresso equiparado às nações europeias. Esse progresso veio com as estradas de ferro. Por meio delas, era possível alcançar longas distâncias, transportando mercadorias e pessoas, e ligando o litoral com os mais remotos lugares do nosso país. Até a primeira metade do século XIX, o transporte era feito precariamente por lombo de burro ou por via fluvial e marítima.

O pioneiro da construção das ferrovias no Brasil foi o empresário Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), intitulado Barão e Visconde de Mauá. Em 30 de abril de 1854, com seus próprios recursos, o Barão inaugurou, juntamente com o imperador D. Pedro II, a primeira ferrovia brasileira denominada Estrada de Ferro de Petrópolis.

A partir de 1872, surgiram inúmeras tentativas de construção da estrada de ferro em Sergipe, ligando-a ao Estado da Bahia e de Alagoas. Sergipe se encontrava localizado entre duas ferrovias, a primeira era a Estrada de Ferro Recife ao São Francisco, e a segunda era a Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco.

Em discurso proferido em 15 de setembro de 1903, o deputado sergipano José Rodrigues da Costa Dória (1859-1938) afirmou que o Estado de Sergipe, apesar de ser banhado pelo mar, estava isolado dos outros estados brasileiros. Ele enfatiza que: “é mais fácil ir a Europa do que a Sergipe”.

No mesmo ano de 1903, o deputado apresentou o projeto de lei nº 1126, para construção da Estrada de Ferro Timbó a Propriá. Essa estrada se ligaria à estrada de ferro baiana, começando da antiga povoação chamada de Timbó (atual Cidade de Esplanada-BA) até a Cidade de Propriá em Sergipe, contando, ainda, com uma ramificação da estrada sergipana da Cidade de Aracaju para a de Simão Dias, passando pela Cidade de Laranjeiras.

Mapa do projeto do trecho aprovado em 1904 para a ferrovia em Sergipe, denominada Timbó a Propriá. O ramal ferroviário de Laranjeiras a Simão Dias foi o único trecho não concretizado a partir de 1908.
Fonte: Ministério da Viação e Obras Públicas do Brasil, 1910.

A partir do Decreto nº 7.171, de 12 de novembro de 1908, a firma Austricliano de Carvalho & Cia. foi autorizada a dar início aos trabalhos que iniciaram no dia 6 de maio de 1908 em Timbó e no dia 17 de junho em Aracaju.

O início da inauguração da Estrada de Ferro de Sergipe ocorreu em 1913, a ferrovia sergipana passou a ser administrada pela Companhia Chemins de Fer du Lest Bresilien. Segundo relato extraído de um jornal sergipano, “Diário da Manhã”, a inauguração do 1º trecho, que compreendia a estrada de Timbó até Aracaju, estava marcada para o dia 24 de maio de 1913, porém, foi adiada devido às fortes chuvas. No dia 26 de maio de 1913, dando início à inauguração, uma comitiva baiana (composta por 30 representantes, entre militares, políticos, jornalistas, banda de música do 1º Corpo Policial da Bahia, e Corpo de Guardas Civis) passou por várias estações da ferrovia de Sergipe, inaugurando-as, sendo recebidos pela população sergipana, principalmente, pelos políticos de cada região.

Por volta das 5 horas da tarde do dia 26 de maio de 1913, a comitiva baiana chegou à Estação Ferroviária de Aracaju, que ficava na praça entre os atuais mercados Albano Franco e Thalez Ferraz (hoje, infelizmente, demolida).

A antiga Estação Ferroviária de Aracaju em 1923, que foi demolida por volta de 1970 e situava-se na praça entre os atuais Mercados Thales Ferraz e Albano Franco.
Fonte: Revista Illustração Brasileira, Rio de Janeiro, 2 de junho de 1923.

A comitiva baiana foi recebida pelo Presidente do Estado de Sergipe, o general José de Siqueira Menezes (1852-1931), sendo conduzidos ao salão principal da Estação de Aracaju. Às 8 da noite, a comitiva baiana foi novamente recebida pelo Presidente do Estado e por representantes militares, civis, eclesiásticos, do direito e da educação sergipanos, para um banquete, em que brindaram a prosperidade dos Estados da Bahia e Sergipe ao som do hino nacional, tocado pelas bandas do 1º Corpo Policial da Bahia e do Corpo Policial sergipano. O jantar terminou às 10 horas da noite.

Em 22 de março de 1914, aconteceu a inauguração do 2º trecho da ferrovia sergipana. Esse trecho compreendia as estações de: Cotinguiba (na cidade de Nossa Senhora do Socorro); Laranjeiras; Riachuelo; Caitetu; Maruim e Rosário do Catete.

Finalmente, o último trecho foi inaugurado em 5 de agosto de 1915, denominado Rosário do Catete a Propriá. Segundo a mensagem do Presidente do Estado de Sergipe, general Manoel Prisciliano de Oliveira Valadão (1849-1921), essa inauguração ficou marcada pela pompa do momento em que o trem inaugural partiu da Estação Ferroviária de Aracaju e seguiu viagem, parando nas estações de Carmo (atual cidade de Carmópolis), Japaratuba, Murta, Capela, Muribeca, Batinga e finalizou na estação antiga de Propriá.

Hoje em dia, apesar de abandonados, ainda existem trechos da antiga ferrovia Timbó a Propriá em Sergipe, podemos vislumbrar partes da ferrovia, que passam ao lado da BR-101, e algumas estações ferroviárias que ainda sobrevivem: Cotinguiba (Nossa Senhora do Socorro), São Cristóvão, Irapiranga (Itaporanga), entre outras. Como hoje em dia o transporte ferroviário em Sergipe não é privilegiado ou é quase nulo, infelizmente, a memória da Ferrovia Timbó a Propriá ficou esquecida entre os sergipanos. Depois de 100 anos, estamos aqui para lembrar de sua importância para a história de nosso Estado.

(*) André Luiz Sá de Jesus é historiador, professor de História da SEED-Sergipe e mestrando em História na UFS.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais