Ao que parece, o problema do relacionamento entre algumas pessoas está adstrito ao tempo em que elas convivem juntas.
Tudo indica que, quanto mais demorada é a convivência, mais difícil se torna, também, o relacionamento.
No dia-a-dia de um com o outro, embora se perceba que cresce a confiança, nota-se, em contrapartida, a diminuição da tolerância, o afrouxamento do compromisso e um sutil, porém continuo aumento do desrespeito.
O cidadão imagina que tudo aquilo que o outro diz, sugere ou faz é sempre errado, menor ou não merece atenção e, nos diálogos, as respostas são sempre depreciativas ou exageradas:
Li ou escutei em algum lugar, não me lembro onde e nem de quem, que a origem dos maiores aborrecimentos do ser humano é outro ser humano.
Entretanto, a maior causa do alívio desses aborrecimentos é, também, outro ser humano.
Seguindo este raciocínio, conclui-se que exatamente por isso que se constatam com tanta freqüência as discrepâncias familiares: o pai acaba por não respeitar o filho, que finda por não tolerar o irmão que, por sua vez, não se bate também com o pai o qual, por causa disso, não se entende com a esposa, que, por acaso, é a mãe dos seus dois filhos. O círculo se fecha e a desarmonia reina.
No entanto, quando se apartam por qualquer motivo, mesmo que seja por pequeno período, ficam a reclamar da saudade, da falta que um faz ao outro.
Por outro lado, sentem-se no direito de falar depreciativamente um do outro, mas, dissuadem, incontinente, todo aquele que, por ventura, resolva fazer o menor comentário que seja sobre a mesma pessoa de quem ele acabou de falar mal.
Ele, como integrante da família, ou do circulo de amizade, até se acha no direito de desluzir o outro irmão ou amigo. Porém, sequer admite um comentário depreciativo feito por alguém de fora a respeito do mesmo irmão ou amigo. E, afirma peremptório, eu posso! Você não!
A existência deste fenômeno no lar, por si só, já é lamentável, mas, como já vimos, infelizmente, este comportamento extrapola, vai além do nicho familiar e, facilmente, se constata a sua ocorrência em qualquer outro tipo de agrupamento humano, até onde há o simples relacionamento de uma pessoa com a outra: escolas, clubes ou simples colegas de trabalho ou amigos.
Também nesses ambientes ocorre o mesmo. No início tudo é virtude, respeito, consideração, convergência e até reiterados elogios. Porém, o tempo passa e o relacionamento vai-se acomodando, vão-se pronunciando os costumes, se evidenciando os defeitos, as manias e os azedumes; o salutar diálogo – combustível dos bons relacionamentos – cede lugar a descortesias e respostas grosserias.
É tão triste constatar que aqueles irmãos, amigos ou colegas que antes se tratavam com urbanidade, decência e tolerância, hoje atiram pedras entre si apagando todo o brilho de uma amizade construída ao longo do tempo.
Que pena! Essa insensatez revela tristemente uma pobreza espiritual, um desamor inexplicável e, naturalmente, uma incapacidade de uma harmoniosa convivência.
Por sorte, outros grupos existem que negam totalmente esta teoria. São pessoas que compreendem facilmente o valor de uma amizade, se respeitam mutuamente, e o verdadeiro amor permeia, pois cedo descobrem o quanto necessitam um do outro.
Recentemente, numa de minhas visitas ao Ceará, encontrei-me com um grande amigo, e meu ex-professor de filosofia, logicamente com idade já bem mais avançada que a minha. No meio da nossa conversa, ele declarou pesaroso: “Pascoal, lembra daquele nosso (dele) grupo dos dez? Pois é, daqueles só restam seis, eu e mais cinco, os outros já foram estudar a geologia dos Campos Santos, como disse Dom Casmurro”.
Bonito, não é mesmo? Sobretudo porque sabemos que alguns dos que formavam aquele seleto grupo que invariavelmente se encontrava toda sexta-feira para um jantar bate-papo, remanesciam ao tempo em que estudavam. Há quantos anos mesmo? Trinta, quarenta, ou mais?
Não nos olvidemos: uma amizade vale muito. Negligenciá-la por simples capricho é jogar pérolas aos porcos.
PENSEMOS NISSO.