Cotinguiba e Sergipe, um duplo Centenário

Cotinguiba Esporte Clube
Aracaju vive, atualmente, as festas celebrativas em louvor ao Cotinguiba Esporte Clube e ao Clube Esportivo Sergipe, pelos 100 anos de fundação dos dois mais antigos clubes de Sergipe, fundados em outubro de 1909, praticamente no mesmo dia, segundo o noticiário dos jornais da época, especialmente o Correio de Aracaju.

 

Comerciários e comerciantes, reunidos na Associação Comercial de Sergipe resolveram, em reunião do dia 11 de outubro, fundar Clubes de Regatas, para iniciar o esporte náutico no estuário do rio Sergipe. O Remo foi, então, o primeiros dos esportes, formalmente organizado, em Aracaju. Era necessário, mesmo, que fossem dois clubes, para que eles pudessem competir, disputar, cumprir o princípio desportivo dos confrontos, na busca da vitória.

 

Além de serem criados ao mesmo tempo, o Cotinguiba e o Sergipe foram instalados numa área bem próxima, no final da velha rua da Aurora, que a partir de 1912 passou a ser avenida Rio Branco, em homenagem ao Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior), Chanceler do Brasil, falecido naquele ano, e que atualmente é avenida Ivo do Prado (Ivo do Prado Pires de França), militar e político sergipano, morto em 1924.

 

Primeiro foram as Garangens, lugar de guarda dos barcos. A Garagem do Cotinguiba estava mais ao sul, no lugar onde está, hoje, a sede do clube, na avenida Augusto Maynard, na esquina com a avenida Beira Mar. A Garagem do Sergipe estava um pouco antes, no local onde depois foi construído o Edifício Olímpio Campos. Próximo das duas Garangens estava a região conhecida como Carvão ou Carvãozinho, local onde houve um Depósito de Inflamáveis, e onde foi construído, na década de 1950, o Iate Clube de Aracaju.

 

A Curva do Carvão era um ponto das disputas das regatas dos dois clubes, o outro era a Ponte do Imperador, na praça Fausto Cardoso. Em 1º de janeiro de 1910, o Sergipe mostrou sua canoa Nereida, exibindo-se nas águas do rio Sergipe, durante a Festa de Bom Jesus dos Navegantes. A primeira disputa entre os dois clubes ocorreu no dia 11 de junho de 1910, quando o Sergipe conquistou a vitória. O Remo virou coqueluche, eram muitos os jovens, de famílias abastadas, da classe média e das camadas mais simples, que se alistavam para formar equipes, tomarem as canoas de quatro e mais remos, e disputar regatas.

 

O futebol veio logo depois, em 1916, quando foi criada a Liga Desportiva Sergipana, e era praticado na Praça da Conceição, primitivo nome da praça Pinheiro Machado, que depois passou a ser denominada de Praça Tobias Barreto, com um monumento ao centro, em homenagem ao gênio sergipano. Os rivais do remo, das regatas, passavam a ser, também, rivais no futebol.

 

Em 1918 começam, precariamente, os Campeonatos e o Cotinguiba saiu na frente, conquistando o 1º título. No ano seguinte, 1919, não houve campeonato, mas os dois clubes ganharam um terreno, cedido por Adolfo de Faro Rollemberg, para ser preparado e utilizado como campo de futebol. Foi o Campo do Adolfo, que durante pelo menos três décadas sediou as partidas de futebol, abrigou desfiles cívicos e estudantis, festas e outros eventos. Em 1920 o Cotinguiba ganhou de novo.

 

Em 1921 o campeão foi O Industrial, formado e mantido pela Fábrica Sergipe Industrial, com o Sergipe sendo vice-campeão. A partir de 1922 o Sergipe ganhou o campeonato, o campeonato do Centenário da Independência do Brasil, iniciando a maior série de vitórias do futebol sergipano. Um apanhado feito por Alencar Filho, do seu Caleidoscópio (Aracaju: SUCA, 1984) mostra que entre 1918 e 1983 o Sergipe conquistou 20 campeonatos, enquanto o Cotinguiba ganhou 9 campeonatos.

 

Com o passar do tempo, a rivalidade caia e terminava desaparecendo. É quando entra em cena a Associação Desportiva Confiança, que passa a ser o principal rival do Clube Esportivo Sergipe. Tal fato coincide com a implantação do profissionalismo do futebol sergipano, o que significa mais exigências, compromissos, formação de equipes remuneradas, a corrida em busca do público pagante para lotar os estádios e dos auxílios do Poder Público, que é, em si, um capítulo da história do futebol em Sergipe.

 

Outras equipes, do passado mais distante, e mais próximas da lembrança dos torcedores, entraram e saíram da ribalta futebolística: Santa Cruz, de Estância, Ipiranga e Socialista, de Maroim, dentre outros. O Confiança, a Associação Olímpica de Itabaiana, e o Sergipe passam a dividir os adeptos do futebol. O Cotinguiba manteve sua sede social, promoveu festas, praticou outros esportes, ainda hoje tem Remo, mas afastou-se do futebol, deixando na memória dos sergipanos as jornadas vitoriosas que empreendeu.

 

Ao completar 100 anos, Cotinguiba e Sergipe têm, em comum, uma história fantástica, que é um enorme patrimônio com o qual entram no futuro. Clubes que conseguiram, saindo do nada, chegar ao topo da glória, são capazes de vencer as eventuais e transitórias dificuldades, enfrentar os desafios e construir, novamente, mais um tempo de sucesso.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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