Criatividade não é dom, é vida!

“RISCO: Quando um navio está ancorado no porto ele está seguro. Mas, para que ele foi construído?”.

Anônimo

O meu primeiro contato com a criatividade foi em 1995, em um programa de resgate da Criatividade. Até aquela ocasião posso dizer que poderia ser considerado um indivíduo extremamente lógico. Quando sai do programa básico de Criatividade do Ilace[1], ainda no hotel, mas já na cidade de São Paulo não conseguia dormir. Depois de passar cinco dias em regime de internato em um hotel isolado na região de Serra Negra (SP) e tendo, em média, 12 horas de trabalho por dia, parecia que possuía um ventilador dentro da minha cabeça.

Virava de um lado para outro na cama. Resolvi me levantar e escrever e passei a noite inteira escrevendo. Parecia que a minha vida tinha virado um filme, pois tudo me via a mente como um turbilhão de pensamentos e, ao mesmo tempo, tinha a noção exata do que queria fazer e, tinha noção exata das dificuldades que encontraria pela minha frente.

Todavia, uma coisa havia me deixado encantado aquele projeto de vida que construímos no último momento do programa. Foi fantástico, ali eu tinha mapeado com exatidão tudo o que queria na minha vida e como obteria o que desejava. O grande desafio seria não esmorecer e colocá-lo em prática.

Uma mudança radical acontecera. Até aquela semana acreditava que criatividade era coisa para artistas, que não possuía fundamento científico e que não passava de um montão de asneiras. Todavia, aquele programa tinha me colocado em contato com coisas que nunca havia pensado em toda a minha vida. A mais importante de todas: que era possível desenvolver a qualidade do meu pensamento. E que criatividade é justamente essa habilidade de organizar a qualidade do nosso pensamento e aprender a enxergar sob múltiplas faces, em suma de ver a vida com novos olhos!

Durante os dias do programa senti na pele a importância de se trabalhar e desenvolver a qualidade do pensamento, a importância de entender o significado de pensamento convergente (julgamento, escolha, avaliação) e do pensamento divergente (abertura, risco, novidade, expansão, adiar julgamento) e que a criatividade nada mais é do que a nossa capacidade em saber divergir e convergir.

Foi como tivesse tomado um chute na canela. O pior de tudo foi descobrir, naquela semana, que passara toda a minha vida aprendendo apenas a convergir, a julgar rapidamente, a ver as coisas segundo os prismas que todos viam, a encontrar as respostas que todos encontravam, a ver tudo parecido, tudo normal como se fala. Descobrir que somos educados para apenas isso foi o mais difícil para mim; todavia, a maior surpresa ainda estava por vir.

Ao sair do programa acreditava que tinha o mundo à minha volta, muitas oportunidades, muitas mudanças, muitas coisas para fazer, transformar, ajudar…Todavia, ao voltar para o meu dia a dia, percebi muito rapidamente que as coisas não seriam tão simples assim. Descobri também naquela ocasião que, muitas vezes, por ver as coisas com novos olhos quase fazia de mim um ser extraterrestre, um “ET”, um visionário louco, uma pessoa fora da realidade, como ouvi muitas vezes me dizerem.

Vivemos num mundo de igualdades, de similaridades, as pessoas muitas vezes fazem escolhas porque outros conhecidos, amigos, familiares às fizeram e parece que o normal é ser assim. Quando começamos a raciocinar utilizando o pensamento divergente-convergente, percebemos muitas coisas antes não enxergadas por outros, justamente porque estamos utilizando os dois hemisférios cerebrais, é como se tivéssemos ampliado o nosso campo de visão.

Daí entendi a importância dessa habilidade e senti a necessidade de disseminá-la entre outras pessoas, para que as mesmas pudessem ver o mundo com maior amplitude e, conseqüentemente, organizassem a qualidade do seu pensamento. Percebo hoje, o quanto isso é importante, em especial na Região Nordeste onde as coisas são muito difíceis de acontecer, justamente porque a nossa cultura convergente é muito acentuada. As pessoas aprendem desde muito cedo que é difícil melhorar o seu padrão de vida, que se nasceram pobres irão morrer pobres, porque se nasceram surdas foi Deus quem quis que isso acontecesse e, por esse motivo, elas têm que se conformar com essa dura realidade e, como conseqüência a entender que não podem ter outros sonhos nem muito menos pensar em outras oportunidades que não sejam aquelas oferecidas pela sociedade.

Ao longo desses anos, trabalhando com a metodologia resolução criativa de problemas, constatei o quando pessoas encontraram novos caminhos, quanto lutaram em busca dos seus sonhos e transformaram as suas vidas pessoais e profissionais. Infelizmente, também constatei que muitos se perdem no meio do caminho, por não possuírem coragem para lutar, por não persistirem na sua busca ou até mesmo por não se julgarem capazes ou merecedores de uma vida melhor.

O mundo em que vivemos hoje é um muito de desafios e oportunidades. E os desafios se apresentam para nos mostrar que estamos vivos, que pensamos e, principalmente que poderemos superá-los. Tudo é uma questão que como percebemos o nosso papel de vida, tudo é questão de como nos enxergarmos, se como protagonistas da nossa história de vida ou se vítimas de um mundo cruel.

Os indivíduos que resgataram verdadeiramente a sua criatividade sempre se apresentarão como protagonistas, o papel de vítimas não está no roteiro das suas histórias de vida, justamente porque para eles criatividade não é dom, é vida! E para você o que é ser criativo? Pense nisto![2]

 

(*) Fernando Viana

Fundação Brasil Criativo



[1] ILACE – Instituto Latino Americano de Criatividade e Estratégia, São Paulo.

[2] E se quiser saber mais participe do VIII Fórum Internacional de Processo Criativo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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