Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz e não a nossa escuridão que nos assusta… Manter-se pequeno não serve ao mundo… (Nelson Mandela) Apesar do avanço da tecnologia mundial, uma maioria expressiva de pessoas ainda acredita que a criatividade deve ser utilizada apenas para a realização de bonitos desenhos, de pinturas, na música ou no teatro e, por este motivo, não tem nenhum valor prático. Esse mito criado e alimentado ao longo de muitos e muitos anos faz com que poucas pessoas cheguem compreender que a criatividade tem um papel preponderante e fundamental não apenas para as ações do dia a dia, mas também na ciência, educação, nos negócios e, sobretudo para as pessoas. Assim sendo, para muitos de nós “ser criativo” é ter uma grande idéia, tipo coisa de gênio ou ter uma grande “sacada”. No entanto, ser criativo é muito mais do que isso, porque a criatividade requer muita reflexão, seja conscientes ou inconscientes, conhecimento, imaginação e muito suor antes da inspiração surgir. O que estamos vendo acontecer no mundo globalizado é que a importância da criatividade e das soluções criativas de problemas nos mais variados campos de atuação é uma habilidade que está cada vez mais se tornando necessária e importante. Ou seja, já se entende que a criatividade deixou de ser um privilégio dos artistas e passa a ser um diferencial de competência das pessoas atualizadas; isso, sem sombra de dúvidas, está sendo um ganho de potencial, de entendimento e de quebra de paradigmas. Assim sendo, a cada ano que passa, a palavra “criatividade” vem gradativamente sendo entendida não apenas como um dom que os artistas ou os gênios possuem, mas como uma habilidade importante e fundamental para o indivíduo da atualidade. Isso em si já significa um grande avanço, porque até bem pouco tempo atrás, era praticamente impossível se pensar em utilizar a criatividade, por exemplo, nas organizações. E, quando se fala de criatividade nas organizações é preciso ter em mente que todo o processo de aprendizado organizacional passa primeiramente pelas pessoas e, é através delas que a organização aprende, se desenvolve, cresce e consegue atingir o sucesso desejado. Portanto, a partir daí entende-se o porque de trabalhar a criatividade no indivíduo com o intuito de potencializar a criatividade da organização. Por outro lado, é comum ouvirmos algumas perguntas do tipo: “para que”, “como” e “porque” é necessário, hoje em dia, que sejamos considerados indivíduos criativos? Ou seja, porque preciso desenvolver o meu potencial criativo? O que poderei ganhar com isso? Em que isso é importante para mim? Hoje em dia, em alguns centros mais desenvolvidos o indivíduo já não tem medo de utilizar o seu potencial criativo no trabalho, como um diferencial de competência, pois ele já assume e entende que só tem a ganhar com isso. Ao mesmo tempo, no geralmente fechado mundo das organizações, cada vez mais se ouve falar na importância da criatividade. O que aconteceu para tudo isso mudar tão abruptamente? Primeiro começou-se a derrubar uma crença secular que criatividade era coisa de artistas, que não era algo sério, e que a habilidade criativa não tinha importância. Hoje, mais do que nunca se valoriza a função criativa, justamente pela capacidade que ela possui de transformação, ou seja, muitas vezes de conseguir fazer como que possamos ver as mesmas coisas com novos olhos e, dessa maneira nos abrirmos para um mundo de possibilidades, até então desconhecidas. A criatividade, portanto, não é um “dom”, como muitos pensam e afirmam; ela existe, em maior ou menor intensidade em cada pessoa, e a possibilita de estabelecer relações entre os aspectos isolados da informação, do material, e da experiência que antes estavam correlacionados de outro modo ou segundo outros padrões. O que é possível afirmar é que a criatividade pode se desenvolver cedo na criança, se a mesma estiver em um ambiente que estimule o desenvolvimento dessa habilidade. A influência do ambiente é muito importante, logo quando um indivíduo está se desenvolvendo em um ambiente que o encoraje a entender a diferença entre o que era conhecido antes, e de certa forma já estávamos habituados, e o que acontece de fato, tem-se um diferencial importante. Assim sendo, sem compreender essa simples diferenciação, o nosso raciocínio e o nosso aprendizado continuam mecânicos e não criativos. Para o indivíduo desenvolver a sua criatividade precisa de uma atmosfera encorajadora, e, portanto, quanto mais criativo e disposto, mais ousará a valer-se dos seus dons. Logo, a atmosfera que possibilita o nascimento ou o estabelecimento do processo criativo terá duas características importantes: liberdade e segurança. A segurança cria uma atmosfera na qual a pessoa ousa sair do isolamento, defrontar-se com o novo, com o desconhecido que se apresenta; ao passo que a liberdade permite que ela se sinta ela mesma, e dessa maneira possa utilizar as suas habilidades, ou seja, reagir aos estímulos do mundo exterior com os seus próprios meios e possibilidades. De acordo com vários especialistas em potencial humano, o indivíduo no qual as sua capacidade criativa já está desperta, tem as seguintes características: receptividade: ou seja, analisa o problema em toda a sua complexidade; curiosidade: ocasiona a mudança rumo às novas experiências, através do questionamento criativo; sensibilidade: reage aos estímulos externos refletindo-se sobre eles; imparcialidade: a capacidade de ver com novos olhos o que já é conhecido; ousadia: através da disposição para examinar pensamentos “inaceitáveis”; capacidade imaginativa: a capacidade e o desejo de utilizar o desconhecido e o inusitado em contextos que a princípio não são claros; o fator lúdico: que faz experiências com objetos, elementos e pensamentos, à medida que os coloca em outras relações ou formas; fluidez: relembrar o conhecimento acumulado e fazer rapidamente novas associações; e flexibilidade: capacidade de concluir uma variedade de princípios a partir de um pensamento. A coragem é necessária para que as pessoas possam ser e vir a ser, ou seja, principalmente, para que haja o desejo forte de ser e o comprometimento em vir a ser. Segundo May (1), é essa a diferença entre os seres humanos e o resto da natureza. Um gatinho transforma-se em um gato pelo instinto; todavia um homem ou uma mulher tornam-se humanos por vontade própria e por seu compromisso com essas escolhas. Toda profissão exige uma forte dose de coragem criativa, porque atualmente, passam por grandes transformações e a necessidade da coragem criativa é proporcional ao grau da mudança. Todavia, ainda hoje, são os artistas que estão utilizando-a em larga escala: os dramaturgos, os músicos, os escritores, os pintores, os dançarinos e os poetas. O “homem criativo” se dispõe mais a aceitar essas transformações, justamente, porque ele tem urgência em estar em contato com o que acontece à sua volta e também de experimentar o novo, o inesperado e o mutante. Por outro lado, entendemos por “Criatividade” um produto, ou mesmo, o resultado de um processo (criativo). De maneira que, nesse processo estará sendo considerado um atitudinal, o qual por sua vez influencia e, muitas vezes, até determina, a qualidade de todo o processo, uma vez que estará sendo considerados também o conhecimento, a imaginação e a avaliação de uma determinada pessoa. Quando dizemos que alguma coisa é criativa, subentendemos que ela é original e útil para uma determinada pessoa, não importando se não for para outro. Partindo-se desse princípio, torna-se claro que é impossível avaliar a criatividade de quem quer que seja, e, muito menos, compará-la com a de outra pessoa. O processo de criar é uma habilidade fantástica da mente humana, que é a de, justamente, traduzir as percepções e os entendimentos que estão escondidos no fundo do nosso inconsciente e levá-los para a arte, para a ciência, para a medicina, para a engenharia, em suma, para as escolas, para as universidades, empresas, pessoas, para o dia a dia de todos nós. Em resumo, pode-se afirmar que a criatividade é um processo, cujo produto final resultante é algo que é novo, considerado útil ou satisfatório para um considerável grupo de pessoas num determinado período. Não basta apenas ser uma “novidade” para que um trabalho possa ser considerado como criativo, é importante que ele também cause alguma transformação, ou uma mudança de paradigmas. Assim sendo, o processo criativo ocorre num contexto social, sendo, portanto afetado pelo ambiente geográfico, pelas forças sociais, econômicas e políticas, pelos valores culturais e é fundamentalmente afetado pelas oportunidades geradas pelo sistema de educação e as práticas existentes na educação das crianças. (1) MAY, ROLLO – A CORAGEM DE CRIAR – Editora Nova Fronteira (11ª Edição) – 1975 – 143p. * Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo presidente@fbcriativo.org.br