Criatividade X Produtividade (*)

“Há muitas coisas que não podemos prever para onde a atual onda de mudanças nos levará. No entanto, podemos ter certeza de que as empresas e as sociedades inovadoras serão as únicas que prosperarão”.

Paul Romer, Professor de Economia, UNIVERSIDADE DE STANFORD

 

Freqüentemente constatamos que o modelo mental mais adotado nas empresas visando o aumento da sua produtividade está associado aos seguintes processos: 1 – investimento em tecnologia (sistemas e processos), 2 – aumento da procura dos seus produtos ou serviços; 3 – aumento de salário associado a ganhos de produtividade.

Não é ainda comum constatarmos que os aumentos da produtividade podem e devem estar também associados ao incentivo à criatividade, à inovação e muitos menos ao fato de se estimular na organização um clima de satisfação a tal ponto que o trabalho se transforme num verdadeiro prazer.

Se analisarmos este aspecto criteriosamente constatamos que o aumento da produtividade em uma organização dá origem a alguns aspectos considerados fundamentais: a) capacidade de se criar novas frentes de trabalho (mais emprego) e b) lucros (riqueza) para a organização.

Um estudo sobre produtividade em organizações (Barret, 1) envolvendo quatorze organizações e 25.000 empregados comprovou que aproximadamente 39% da variabilidade no desempenho corporativo foi atribuída à satisfação pessoal dos empregados. Os resultados desse estudo foram obtidos com base em uma pesquisa que utilizou uma série de indicadores representativos da realização pessoal. Esse mesmo estudo mostrou que 69% da variabilidade na satisfação pessoal foi atribuída à qualidade do relacionamento dos empregados com o seu gerente imediato e a capacidade do mesmo em delegar poder.

 

Através dessa pesquisa fica bastante claro que a inteligência emocional que capacita a inspiração e a motivação das pessoas é mais importante do que a inteligência intelectual quando estamos pensando na construção de uma força de trabalho de alta performance.

 

Infelizmente, a maioria das empresas e instituições ainda não entendeu isto. Ou seja, que o seu sucesso não será obtido apenas através da sofisticação dos seus sistemas e processos; não resta a menor dúvida que isso é muito importante, todavia, é importante também conseguir fazer com que os seus empregados encontrem realização pessoal naquilo que estão fazendo. Em outras palavras que não se sintam apenas como se estivessem cimentado tijolo em uma construção e sim que estão “construindo uma catedral”; porque quando os empregados encontram realização pessoal no trabalho que desenvolvem o seu nível de produtividade pode ser multiplicado por dois.

E investir no desenvolvimento, amadurecimento e equilíbrio da inteligência emocional dos empregados irá permitir que os mesmos tragam à tona o que há de melhor neles, que aprendam a perceber e conviver melhor com os outros e, conseqüentemente que se tornem pessoas mais produtivas e criativas.

A criatividade pode ser expressa nos relacionamentos, na comunicação, no serviço, na arte, no ensino e em criar e desenvolver e, quando as pessoas desenvolvem um trabalho sem criatividade a tendência é que esse trabalho perca o significado, conseqüentemente é muito provável que não encontrem realização pessoal. Portanto, quando os empregados estão desencantados com o trabalho não estão preparados para os desafios, para ir além justamente porque o seu coração e alma não estão contidos naquilo que estão fazendo. É fácil constatar isso, até em serviços muitos simples.

Recentemente, tive a oportunidade de desenvolver um trabalho com uma equipe de uma determinada empresa de serviços. E durante a realização desse trabalho observei o cuidados dos jardins do local onde estávamos desenvolvendo o trabalho e numa das oportunidades vi o carinho e desvelo com que o jardineiro cuidava das plantas. Num dos intervalos tive a oportunidade de conversar com o jardineiro e lhe perguntei o que ele fazia para que o “seu” jardim estivesse tão bonito. A resposta que ele me deu, com a simplicidade profunda do seu conhecimento foi: 1 – ele gosta muito do que faz; 2 – ele costuma a observar as necessidades e as carências de cada planta e procura prover para que não lhes falta nada e que “se sintam no local desejado” ou seja, as plantas de sol que tenham sol suficiente, as plantas de sombra que tenham sombra suficiente; 3 – adubos e água na medida e no tempo certo. Com isso elas são mais “produtivas”: ou seja, mais vistosas, coloridas e conseqüentemente cumprem o seu papel.

 

Se transferirmos essa experiência para uma organização, que em outras palavras também poderá ser considerada como um “jardim” poderemos perceber realmente que é preciso cuidar da alma do jardim para que a produtividade aumente. Assim sendo poderemos perceber com essa ajuda do jardineiro o que significa a tão famosa realização no trabalho e agora é só imaginar como estarão os ganhos de produtividade quando as pessoas gostam do que fazem, se sentem felizes no seu ambiente de trabalho e podem exprimir a sua criatividade.

 

Para quem tem dúvida é só observar porque muitas empresas estão crescendo mundo afora, ganhando prêmios e tornando-se cada vez mais duradouras… Tudo isso, em grande parte é resultado da criatividade x produtividade… É apenas essa sutil diferença e aí estão os resultados!

(1) Richard Barrett – Libertando a Alma da Empresa: como transformar a organização numa entidade viva. Ed. Cultrix/Amana-Key, SP, 1998 – 192

(*) Fernando Viana
Diretor Presidente da Fundação Brasil Criativo
presidente@fbcriativo.org.br

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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