CULTURA, HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

A bibliografia dos autores sergipanos, tomado como referência cronológica o século XX, é pobre de temas sergipanos. Apesar do recorte alongado, foram poucos os intelectuais que deixaram uma contribuição cultural genuína, ambientada e climatizada na terra. É de todo dever citar Prado Sampaio, Carvalho Lima Júnior e Manoel dos Passos de Oliveira Teles, descendentes de Tobias Barreto, e interessados no conhecimento pleno da cultura de Sergipe. Outros nomes notáveis, como Clodomir Silva, e outros mais modestos, como Elias Montalvão, Magalhães Carneiro, contribuíram antes que surgissem autores como José Calasans, abrindo caminho para seguidores da mesma temática, como Maria Thétis Nunes e José Silvério Leite Fontes. O capítulo melhor estudado da história de Sergipe foi, sem dúvida, a questão dos limites entre Sergipe e Bahia, com o engajamento dos grandes intelectuais da terra e mais Ivo do Prado, que legou à bibliografia sergipana o monumental A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias. Independente em seu fazer literário, Sebrão, sobrinho ofereceu uma contribuição historiográfica que o torna, sem favor, um dos grandes autores sergipanos. Mário Cabral tem parte de sua obra voltada a Aracaju, o que o faz, também, uma fonte. E Bonifácio Fortes, com suas análises de ciência política acrescenta ainda mais qualidade ao saber produzido em casa. No tempo das Faculdades o destaque foi para Josefina Leite Campos, falecida ainda jovem, em 18 de março de 1969, há exatos 35 anos, deixando contribuição ao estudo da geografia de Sergipe, revisitando a Luiz Carlos Lisboa e a Laudelino Freire, com seus textos de corografia sergipana, editados na última década do século XIX. Há, também, a contribuição de Felte Bezerra, da melhor qualidade e pioneirismo. Já com a Universidade é Maria Thetis Nunes e José Silvério Leite Fontes quem lidera a pesquisa que põe Sergipe em evidência, no que foram seguidos por Adelci Figueiredo, Alexandre Diniz, Diana Diniz, Maria da Glória Santana de Almeida, Beatriz Góes Dantas, Ibarê Dantas, e alguns outros como Terezinha Oliva, Lenalda Santos, que enriqueceram a bibliografia sergipana, notadamente no campo da história. Tais figuras contrastaram com parte da intelectualidade local, poetas, cronistas, produtores literários, mais sintonizados com o mundo do que com o Estado. O beletrismo dominou, por décadas, as letras sergipanas, produzindo grande número de obras. Não se trata de estabelecer confrontos ou comparações, mas de distinguir na produção editorial as contribuições que valorizam os cenários, os fatos, os quadros da vida do Estado. Nos últimos anos, a Universidade Federal de Sergipe assumiu a liderança da produção da cultura, voltando-se para as pesquisas e os estudos da história e da educação, reunindo grande número de adeptos a tais interesses e acelerando o trabalho, vinculando-os aos seus cursos, aos cursos do PQD – Programa de Qualificação Docente, e ao Mestrado em Educação. O resultado tem sido uma produção vastíssima, de boa qualidade literária, que vai formando uma estante sergipana, ordenada, orientada, que vai já servindo de fonte. Os projetos de pesquisas cobrem em seus objetos assuntos variados, escolhidos na diversidade da sociedade, apanhados para servir ao esclarecimento cultural, nos amplos campos do conhecimento humano. Nada escapa ao interesse dos pesquisadores e seus orientadores, o que garante elevado nível de apresentação e de debates, nas salas da graduação e da pós graduação da UFS. Vários professores, como Antonio Ponciano Bezerra, Vilma Porto, Francisco José Alves, Luiz Alberto dos Santos, Isabel Ladeira, Alexandrina Luz Conceição, Anamaria Bueno de Freitas, dentre muitos e muitos outros, realizam esse labor qualificado, ágil, consciente, cujos efeitos começam a ser sentidos, na medida em que publicações de revistas e de livros demonstram a capacidade dos mestres sergipanos, versando ou problematizando sobre as coisas de Sergipe. Um desses professores – Jorge Carvalho do Nascimento – conquista o respeito e a admiração dos sergipanos pelo seu compromisso em fazer do seu trabalho acadêmico uma opção de vida, um projeto culturalmente definido, aperfeiçoado nos embates internos e nos contatos externos, igualmente enriquecedores. Jorge Carvalho do Nascimento alia a formação local, as funções do trabalho jornalístico, a experiência administrativa estatal, com o preparo fora do Estado e fora do País, ampliando a base de um conhecimento cada vez mais amplo, que tem resultado no reconhecimento das instituições da sociedade, como é o caso da Academia Sergipana de Letras, que o tem nos seus quadros, como um dos mais destacados intelectuais de Sergipe, não fosse o intelectual festejado autor de dezenas de ensaios, conferências, e livros como A Cultura Ocultada. Acompanhando o papel exercido pelo professor doutor Jorge Carvalho do Nascimento no ambiente da Universidade Federal de Sergipe, na liderança de projetos de alto valor, que recuperam a auto-estima e dão aos sergipanos a chance de uma identidade própria, chega-se fácil ao aplauso justo, como constatação de méritos inegáveis. A expectativa futura é a de que o esforço de Jorge Carvalho do Nascimento, e de seus colegas convertidos ao mesmo ideal de manter Sergipe em evidência, sedimente o caminho das novas gerações de estudantes e de professores, em favor de um conhecimento cada vez maior da terra e da gente sergipanos. É inegável a guinada em favor de Sergipe, dada pela UFS nos últimos anos, contando com professores engajados no trato com as mudanças de atitudes, e com a compreensão sempre lúcida dos organismos que formam as instâncias decisoras da universidade. Parece haver uma ação integrada, além e acima de interesses de ocasião, afinada com os fundamentos permanentes da educação e com o futuro das academias. Em Sergipe, portanto, a cultura, a história e a educação andam juntas, inspirando pesquisas e estudos que vão sendo transformados em artigos, ensaios, dissertações, teses, circulando com um saber novo, aprofundado nas abordagens, chancelado academicamente pelos métodos, a altura das carências locais. Talvez seja este o caminho da ruptura com a dependência das universidades aos seus mantenedores, seja este o eixo ideológico das melhores reformas, a verdadeira produção desalienada do saber, a melhor interface entre a aldeia e o mundo. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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