CULTURA TOBIENSE EXALTA O LIVRO “LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE”

CULTURA TOBIENSE EXALTA O LIVRO “LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE”

O rio sempre corre em direção ao mar para alegremente ganhar a sua liberdade. É a força da natureza exercendo o seu papel. Entretanto, durante o seu percurso, ele vai ganhando velocidade, até o momento em que se defronta com algumas curvas, com alguns obstáculos que fazem diminuir o seu ímpeto de encontrar o grande oceano. Quando passa por esses óbices proporcionados pela mãe natureza, encontra grandes pedras em seu leito, que lhe rasgam a superfície e lhe modifica o curso e o ritmo natural das suas águas.

A vida de todos nós também se assemelha ao curso de um rio. Estamos constantemente traçando planos, buscando um oceano de sonhos e realizações, seja no âmbito pessoal ou profissional. Inúmeras vezes deparamo-nos com obstáculos que nos impedem de seguir adiante da forma inicialmente planejada.

Assim, alegremente, dentro da minha programação o dia 18/08/2012 estava destinado ao Estado da Paraíba. Faria este humilde arremedo de escritor, parte do Conselho de Jurados do V FESMUZA – Festival de Músicas Gonzagueanas, uma das festas mais tradicionais do sertão paraibano, realizado na Comunidade São Francisco (Fazenda Cidade), município de São João do Rio do Peixe. E foi dentro desse contexto que passei a traçar planos para no leito do meu rio também colecionar essa nova experiência para um dia chegar ao oceano dos meus sonhos, vez que esse evento para o meu currículo de vida seria altamente positivo e grandioso, além da minha satisfação pessoal de estar entre amigos fazendo aquilo que tanto gosto relacionado à cultura nordestina.

Contudo, apareceu uma grande pedra em uma das curvas no curso do meu rio que me fez arrefecer para não ter como transpor e participar de tão grandioso evento. A grande pedra, de tão grande que era, dividiu o meu rio de forma tão diversa que teria eu de escolher somente um dos leitos a seguir viagem em busca do grande oceano. Fui convidado de forma irrecusável para fazer o lançamento do meu livro LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE nas festividades destinadas a Nossa Senhora Imperatriz dos Campos na cidade de Tobias Barreto aqui no nosso querido Estado de Sergipe. Só me restou expressar as minhas tristes escusas de forma antecipada ao amigo Francisco Alves Cardoso por não poder estar ao mesmo tempo na sua festa em São João do Rio do Peixe e em Tobias Barreto, em decisão que me deixou de coração partido. Quisera eu na minha humilde condição humana ser Onipotente e Onipresente para estar nesses dois lugares tão distantes um do outro no mesmo momento.

O meu imaginário rio agora estava em rota totalmente adversa, ao invés do sertão central paraibano, cursava o sertão sul sergipano. Seria Deus escrevendo certo por linhas tortas?… Ou teria eu escolhido o leito do rio errado?… De uma coisa tenho absoluta certeza: A minha alegria em Tobias Barreto foi uma alegria triste, pois o meu pensamento também estava em São João do Rio do Peixe. A grande vendagem dos meus livros que superou todas as expectativas nem tanto me alegrou, entretanto o que mais me fez feliz e gratificado foi a acolhida do povo tobiense, um povo que de uma forma contundente tem fortes raízes culturais, mais de perto, profundas raízes do seu ancestral maior, o grande poeta, jurista e filósofo, Tobias Barreto de Menezes.

O maior de todos os filhos daquela terra que outrora era chamada de Campos do Rio Real, personalidade que tanto enobrece o honra todos os sergipanos, nasceu a 07 de junho de 1839 e faleceu a 26 de junho de 1889, ou seja, no auge dos seus 50 anos de idade.

Tobias Barreto de Menezes estudou as primeiras letras na sua cidade natal, partindo para Estância no ano de 1850 – então das cidades mais evoluídas do Estado de Sergipe – onde estudou música e latim. Logo depois foi estudar na  Bahia e em 1861 quase ingressou na carreira eclesiástica, mas foi em Pernambuco que se fez maior, chegando em Recife no ano de 1862. Fez a Faculdade de Direito e conclui o curso em 1869. Morou na pequena cidade Escada de 1871 a 1881, onde editou um jornal em língua alemã intitulado DEUSTCHER KAMPFER (O Lutador Alemão), época do mais importante movimento intelectual da segunda metade do século XIX.

Foi nesse período da vida desse ilustre sergipano que ele se aproximou da filosofia, da cultura e melhor se aprimorou na língua alemã, tendo sido autodidata nesse idioma, como na maioria dos outros oito idiomas que também falava fluentemente. De Escada, Tobias Barreto foi embora para o Recife após ter tido sua casa cercada pelos capangas dos herdeiros de seu sogro ameaçando-o de morte em virtude desse grande homem – também humanitário e humanista – ter alforriado todos os escravos que correspondiam à sua parcela da herança, como representante de sua esposa.

Em 1882, o "mestiço de Sergipe", como ele mesmo se declarava prestou o concurso para professor da Faculdade de Direito do Recife, classificando-se em primeiro lugar, entretanto, por ser de raça mestiça, somente adentrou à Academia por pressão dos alunos, que apaixonados pela sua retórica assim exigiram a sua colocação.

Na Faculdade, o irreverente Tobias Barreto foi o mais popular e polêmico dos mestres. O seu diferente método de ensino fez com que ele se transformasse no mais amado professor dentre todos os alunos, destarte para o seu espírito dado a polêmicas e discussões com a palavra franqueada para aqueles que bem queriam expressar os seus pensamentos. Com a sua cor morena parda tornou-se também o mais questionado e discriminado dentre aqueles que já tinham ensinado naquela instituição, em especial, os tantos professores conservadores. Declamador, polemista, repentista, também trocou desafios poéticos com Casto Alves.

Tobias Barreto faleceu na pobreza, às vésperas da proclamação da República, deixando seu nome marcado na filosofia e romantismo dos grandes poetas brasileiros.

O "mulato desgracioso", como assim, carinhosamente o descreveu Graça Aranha, que também fora aluno do grande Tobias Barreto, em seu livro intitulado “Meu próprio Romance” em poucas palavras disse tudo que achava e realmente vinha a ser o seu mestre dos mestres: VOLTAR A TOBIAS BARRETO É PROGREDIR.

Assim sendo, mesmo com essa máxima de voltarmos ao mestre Tobias Barreto para progredirmos, ainda hoje esse grande sergipano não é amplamente reconhecido na linha de frente entre os mais notáveis da cultura brasileira, entretanto, não há como negar a imensa e profunda influência do seu pensamento em muitos espíritos brilhantes daquele tempo. Foram inúmeras personalidades culturais que não esconderam a origem comum e o núcleo fundamental da mesma inspiração. Entre eles, é fácil citar Fausto Cardoso, Silvio Romero, Graça Aranha e Clóvis Beviláqua.

De volta à realidade do meu imaginário, assim como as pedras modificam o curso e a velocidade dos rios, modificou o meu e então, pode ser que os percalços nessa navegação escolhida me deixem feridas e cicatrizes que me façam esperar mais tempo para alcançar os meus mais profundos sonhos de alcançar o grande oceano, assim sendo, peço desculpas a São João do Rio do Peixe pela minha escolha e louvo a cultura do povo de Tobias Barreto que bem soube exaltar o meu livro “LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE” e em nome dos amigos Jose Edson Trindade e Isabel Cristina Rodrigues Andrade saúdo os demais tobienses.

Archimedes Marques (Escritor e Delegado de Policia Civil no Estado de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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