Data Vênia

(*) Fausto Leite

Partidos sem importância. Políticos em alta!

As eleições de 2022 trouxeram para a classe política o entendimento de que a força das agremiações partidárias ficou para trás. Hoje o que vale mesmo são os “grupos políticos” formados entre aliados ou não, unidos apenas pelo interesse em galgar êxito no processo eleitoral, seja no Parlamento ou no Executivo. Estratégia política, estatística e cálculos eleitorais pesaram muito mais do que qualquer idealismo ou filosofia política. Que o diga a batalha na montagem dos partidos! Os “caciques” disputavam “aos tapas” nomes para comporem suas chapas com o objetivo de atingir o coeficiente eleitoral e eleger deputados, sejam eles estaduais ou federais. Rumores de deputados e pré-candidatos que receberam até R$ 1 milhão de reais para mudar de sigla durante a abertura da “janela” foi o que mais se ouviu falar no Estado. Imaginem o que deve ter acontecido durante a janela partidária – período de 30 dias entre o dia 03 de março e 1º de abril – em que deputados federais e estaduais podem trocar de partido sem perder o mandato por infidelidade partidária. Sem falar no “jeitinho brasileiro” que encontrou uma brecha para estender essa oportunidade até ontem, dia 18, como data limite de submissão da lista das agremiações partidárias. Quantas fichas assinadas foram rasgadas e outras preenchidas ontem? Posso garantir que muitas.

Engraçado que as pessoas recorriam aos presidentes das agremiações políticas, assinavam as fichas de filiação e não tiravam foto para não se comprometerem e, quando tiravam, eram dos próprios celulares, evitando assim desgastantes publicações. Num mundo de redes sociais, melhor ocultar esse tipo de jogada e manobras políticas.

Outo ponto que chamou atenção foi a mudança repentina dos presidentes das siglas partidárias. Todo dia uma notícia diferente. O analista político Clóvis Silveira conseguiu, em menos de dez dias, ser presidente do Solidariedade do MDB e de pelo menos outras duas siglas, sem nunca ter se filiado a tais agremiações. Tanto mal fizeram a Clóvis que ainda se recupera de uma enfermidade, tamanho o seu desgaste. Deu entrevistas sem nunca seu nome aparecer em uma nominata partidária. Foi usado e debochado por políticos influentes. Sinceramente, à essa altura da vida, não merecia passar por esse constrangimento, o que reforça a ideia a fragilidade da “nova política”.

A verdade é que os partidos só têm interesse nos potenciais candidatos a deputado federal, que lhes dão consistência em Brasília e mantêm os “gordos” fundos eleitorais. O resto é resto. Por isso que é preciso tirar o chapéu para dois grandes articuladores sergipanos que nesta dança e/ou compra de candidatos entre as agremiações partidárias souberam com maestria montar seus partidos, com potencial de eleger até três ou quatro estaduais e dois federais. São eles: Edivan Amorim e Laércio Oliveira.

Edivan Amorim voltou ao jogo político mais maduro e, ao contrário das últimas eleições, “jogando” como “gente grande”. Manteve no PL os deputados federais Valdevam Noventa e Bosco Costa. Trouxe para o partido o deputado estadual Gilmar Carvalho, Pato Maravilha, José Carlos Machado e outros e ainda, com um “xeque mate”, pode eleger Valmir de Francisquinho governador do Estado, pois este aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas postas. Edivan soube jogar o jogo de uma forma tão dinâmica que ainda garantiu a vaga da candidatura ao senado para o irmão Eduardo Amorim que estava fora política. Soube fazer política de forma articulada e hoje tem, sob seu comando, o grupo político mais forte do Estado.

Laércio Oliveira tem uma maneira mais leve de fazer política, mas, como Edivan, conseguiu montar o segundo maior grupo político do Estado. Laércio é pacato, inteligente, sincero e objetivo. Com essas qualidades mais a palavra empenhada montou em torno do PP uma chapa de federal e estadual forte. “Fausto … (respirou) … faço política com a palavra empenhada e cuidando dos meus”, disse-me na semana passada em seu escritório. Enquanto o grupo que o acompanha o aconselhava a ir à reeleição, ele devagarinho dispensou suas lideranças e disse que seria candidato a um cargo majoritário. Muitos duvidavam se ele teria coragem de enfrentar o desafio, mas, com a tranquilidade de sempre, montou seu grupo e, praticamente, enterrou o sonho de Jackson Barreto de ser o candidato do governo ao senado, pois, ao contrário de JB, tem envergadura política e é isso que Fábio Metidieri precisa para continuar sonhando com o Palácio Olímpio Campos e sair da última colocação.

Sem dúvidas, 2022 é um ano em que estamos aprendendo a fazer a política de grupo e não mais a partidária, e quem realmente quiser manter-se no “jogo” terá que entender que política se faz coletivamente e não isolado ou “na sombra” dos outros. De agora em diante, fazer política será atividade diária, não mais em período eleitoral e demandará de seus membros flexibilidade, inteligência e estratégia. Quase um BBB.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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