De onde vem tanta violência? Muitos já têm feito esta pergunta. E aí, hão de indagar: e por que você está fazendo-a novamente?
Sinceramente? Não sei. Talvez baseado na afirmativa de que a pergunta suscita dúvida, causa expectativa, cria probabilidades, gera esperanças, faz pensar e provoca movimento; ou talvez, por constatar que as grandes evoluções da humanidade aconteceram a partir de perguntas simples e objetivas. Não são apenas as respostas que impulsionam o conhecimento, pois elas não existiriam sem as perguntas. Concluo, portanto, que o determinante é a pergunta e não a resposta. Logo, talvez por isso quase sempre inicio os meus textos com uma indagação.
Quanto a esta que foi feita acima, concordo que é um pouquinho difícil respondê-la com precisão. De onde vem a violência que impera entre nós? Por que somos violentos? A resposta que nos parece mais óbvia, pois é aquela que permeia o nosso lugar comum, é de que somos violentos porque somos animais, afirmamos isto com o dedo apontando para os outros, os chamados animais irracionais, não para o homem. A meu ver, ele, homem, é quem é o agente e o paciente de toda esta bestialidade. Não o pobre do irracional.
Ou seja, nós, seres com razão, seres pensantes, achamos que a nossa violência vem dos bichos, dos brutos, dos selvagens. Existem até sinônimos da palavra violência relacionando-a diretamente com os pobres e indefesos que habitam as nossas selvas.
Por exemplo, quando queremos justificar os nossos exageros, as nossas violências, dizemos que aquilo foi horrível, animalesco, animalejos, foi uma atitude animália; aquilo foi uma bruteza, uma brutalidade, uma feridade, uma fereza, ou ferocidade e, por fim coisa de selvagem: uma selvageria.
Todas essas palavras, com sentido pejorativo, posto que determinem as nossas atrocidades, as nossas truculentas violências. São aquelas palavras e seus derivativos que nós usamos para qualificar aqueles que, diferentemente de nós, não têm o dom da razão, os animais, propriamente dito, e a nós outros, quando praticamos atos de violência.
Será que aqueles, os chamados irracionais, são verdadeiramente violentos? Ou apenas se defendem. São violentos ou apenas atacam se têm fome? Procedem assim pelo extinto, por necessidade ou para se auto proteger? Não por violência gratuita, como fazemos nós ditos civilizados e racionais. Quero dizer que os animais, por mais brabos que sejam só usam do expediente da “violência” para se defender e para sobreviver? Por acaso já viram algum animal matar, por matar? Repito, a não ser para se alimentar ou para se defender? O homem, ao contrário, mata somente por matar. Concluo, por isso, que não é do irracional que vem a violência. Ela tem outra origem, muito mais próximo de nós do que pensamos. Aliás, a violência vem de nós mesmos, somos nós e não os pobres e indefesos brutos quem somos violentos e ensinamos a violência.
Só para refletirmos mais ainda faço outra pergunta: seria possível enumerar a quantidade de violências que praticamos todo dia, entre nós mesmos, nos nossos relacionamentos, nas nossas casas, nas ruas, nos nossos trabalhos? Por mais que nos policiemos, de vez em quando escapa um pouco de “bílis” e alguém sai machucado. No que diz respeito à nossa escola primeira, o nosso lar, por sorte nas famílias mais bem estruturadas há um tímido cuidado, minimiza-se, um pouco. Porém, pensemos naqueles, ricos ou pobres, onde às vezes nem lar existe, lá nos porões do desamor e da ignorância? Ali, moram juntos, têm filhos e constroem a violência e os violentos do amanhã. Lamento concluir que somos nós e não os irracionais os responsáveis.