Corpos sarados, maciez na pele, beleza na tez, arrogância no olhar, ímpeto para romper as dificuldades. Este é o Brasil do século XXI, demarcado por uma juventude que embeleza os espaços. Contudo, perguntamos-nos se seremos um país eternamente jovem.
Pesquisas atestam que não. Verificam-se nas câmaras estaduais,federais, municipais diversas discussões que priorizam aqueles que determinam a chamada terceira idade. A mudança de comportamento, os avanços na medicina, a descoberta da vaidade após os 60 anos cumprem um novo valor de elocubração na atualidade: “O que é ser velho?”. Os paradigmas que situavam as pessoas marcadas pelas experiências de vida têm sido quebrados a todo o momento por um emaranhado de conceitos modernos respectivos aos que não possuem tanta elasticidade na pele.
Depois de décadas de evolução em todas as esferas da sociedade a visão estigmatizada do vovô e da vovó, cabelos brancos, voz fininha externando fragilidade, o presente macabro de invalidez, a cadeira de balanço foi deixada, literalmente, para trás. O visionário mundo da vitalidade aparece nas pessoas que ficavam à margem das decisões da sociedade, subjugadas ao preconceito e à piedade que eram cedidos pelos que se acham superiores porque são dotados da insuficiência de idade e por que não dizer de consciência, ao passo que não respeitam os que são responsáveis por parte do desenvolvimento social e da liberdade usufruído pela galera de agora.
Este descompromisso pretensioso e desrespeitoso é explicitado nas ruas, nos condomínios, nos clubes, nas filas de banco, nas paradas de ônibus onde os direitos dos velhos são aceitos não por tendências conscienciosas, mas por um conjunto de leis, ainda bem que existem, que arbitrariza os privilégios aos mesmos. Como se não bastasse, os meiso de comunicação cooperam negativamente, quando presenciamos uma determinada marca de cerveja criar o próprio slogan, baseando-se no preconceito. Lembram? Para os que não viram, um conjunto de senhoras sai perseguindo por uma rua qualquer dois jovens, novos, e eles correm quilômetros delas desesperados, quando passam por um portal e se deparam com o que chamamos de nova: uma cantora baiana, bonita, rica, todas as qualidades que muitas pessoas gostariam de ter, posicionando-se como a salvação daquele momento horrendo, como se as velhas fossem pragas do Egito. Que comercial baixo nível.
Entretanto, o que mais nos indigna é o fato de as pessoas discutirem o fato de as pessoas discutirem tanto os direitos da terceira idade, artistas principalmente, e ao se depararem com alguns significativos reais ignoram que os preconceitos só serão dizimados a partir do momento que cada um de nós fizer a própria parte. Óbvio que a propositura do texto não é criticar de maneira cega e alienada o posicionamento dos outros ou de uma única pessoa, contudo de toda uma sociedade, que estando pragmatizada em conceitos ultrapassados propaga a discriminação. Fatos como esses, advindos de um mercado capitalista, determinam que as pessoas diferentes, ou por condições biológicas ou pelo tempo, fato em questão, devem ser banidas do convívio, entregues à própria sorte, jogadas e instituições não muito responsáveis para que as mesmas sejam criadas em cativeiro no afã pérfido de que surja a sociedade da perfeição, pele bem tratada, rugas inexistentes e outros conjuntos de apetrechos que podem até nos deixar melhor, podem até desenvolvera nossa auto-estima, entretanto, não devem ser vistos como prioridade.
Esta parte significativa e imberbe, jovial do contexto deve lembra-se de que a parcela de idosos, hoje, através das aposentadorias, responde por parte do sustento de milhões de famílias que desprovidas do poder econômico para a sustentabilidade enxergam, de maneira hipócrita, no velho a solução para os novos problemas criados pela família do antes imprestável. Por isso, afirma-se que o poder do capital, infelizmente, é que determina a utilidade das pessoas.
Assim, partindo de uma ótica mais inteligente, menos rancorosa e narcisista, acabemos de vez, através das análises, reflexões, trabalhando os nossos hábitos de consciência, o costume de pautarmos os alicerces sociais em valores tão fúteis. É preciso aceitar, se elas tiverem de aparecer,as rugas, a mansidão, tanto quanto a energia que caracteriza os velhos rapazes e moças vividos de agora para termos uma sociedade em que mais importante do que parecer é ter experiência, respeito e democratização dos direitos de uma só humanidade, seja ela nova ou velha, posto que não existe o presente, o futuro, sem a história produzida pelo passado.