É um pássaro, é o super-homem, não é o avião. Nós , brasileiros, em meio à manutenção da insuficiência de auto-estima, jamais imaginaríamos que pudéssemos ser representantes desta enorme ave de aço, travestida do espírito de criação de Alberto Santos Dumont.
Presenciados os testes realizados em Paris em 1906 , por intermédio dos protótipos que levariam a humanidade ao encontro de grandes avanços sociais, Santos Dumont, três anos depois da tentativa dos norte-americanos , os irmãos Wright, de pôr o avião no ar por meio de uma catapulta, bem coisa de americano, faz o dirigível número 5 dar a volta na Torre Eiffel-Paris, deixando os Franceses boquiabertos, feito lembrado, de maneira eterna, pelo invenção do 14 Bis. De 1906, exatos 100 anos, para cá, a aviação tem passado por imensos desenvolvimentos. Não esqueçamos que por intermédio deste simples propósito, regado a sonhos e persistência, é que foi possível o homem projetar a ida dos americanos à Lua, mas somente depois de nossa criação. Graças a Santos Dumont, com parte do raciocínio dele, é que Neil Armstrong pôde declarar a seguinte frase dita na Lua para todo o planeta “ Vou agora abandonar o módulo lunar. É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”, exatamente às 16h 17 min de 20/07/1969.
Ainda na contemporaneidade, vemos a eclosão de grandes empresas, sendo a EMBRAER a terceira mais potente do mundo na montagem de aviões de porte médio e caças militares, enviando os produtos genuinamente brasileiros para o mundo. Pena que , no turbilhão das conquistas humanas, o advento de asas tenha servido não somente para a prospecção do bem , conforme averiguado com a distribuição de alimentos para as crianças em países miseráveis em menor tempo, o envio de remédios para os doentes em partes extremadas do mundo, mas também sendo cooptado de maneira vil para barganhar espaços dos fracos pelos mais ricos evidenciadas por cenas da história datadas da Segunda Guerra Mundial, quando aviões, conseqüência de criação positiva, despejaram sobre as cidades japonesas Hiroshima e Nagazaky as bombas atômicas, responsáveis pelo sofrimento de toda uma população, que ,hoje, pós 50 anos das bombas, resquícios são detectados.
De maneira irônica, temos visto uma antítese entre a evolução dos aviões e o dito desenvolvimento nos aparelhos de controle dos mesmos. Após o acidente da Gol, parece ironia do destino, vitimando 154 pessoas, no ano do Centenário, discutem-se a quantas anda a segurança nos pontos cegos do céu brasileiro. Claro que de um ponto sintético, todos se preocupam com os possíveis acidentes, com os exaustivos atrasos, no entanto, não é só este o conjunto de problemas. Quando vemos um avião, literalmente, parar por conta da falta de estrutura no quesito salarial dos controladores de vôo, profissionais os quais nos Estados Unidos trabalham quatro horas e ganham , em média, 8 mil dólares contrapostos à realidade dos controladores brasileiros, que fazem hora extra e recebem o equivalente a 2 mil REAIS, esquecemo-nos de que aviões salvam vidas, auxiliam pessoas a se despedirem de outras que estão partindo, unem, atam e desatam destinos a cada segundo, cada milésimo de vôo em atraso. Talvez por isto, tenhamos aquele tesão recolhido por pilotos, aeromoças e comissários de bordos. Não pela estrutura sexual e humana, não pela educação trabalhada, não pela flexibilidade das línguas… todavia, porque nos mostram ser diferentes nas idas e voltas que dão sempre pelo ar numa visão poética de quem sempre vê a vida de cima, de maneira rápida, vivendo as emoções em uma velocidade diferente daqueles que têm o trânsito caótico e engarrafado aqui de baixo… vida engarrafada, pensamento engarrafado, se comparados à potência das turbinas de um avião e dos pensamentos dos que nele se encontram. Fantástico!
Além desses aspectos, positivos e degradantes, podemos perceber que os atrasos trazem conseqüências terríveis para a manutenção da vida. Pensemos quantos contratos não foram anulados, quantos estresses não foram causados e quantos sofrimentos não seriam minimizados, a exemplo de pessoas que aguardavam por órgãos que seriam transplantados e que perderam não só o vôo, mas também a possibilidade de terem uma vida mais feliz em uma outra ponte aérea. Com os atrasos, ficaram sem ponte, sem vista aérea para alçar ao espaço a própria possibilidade de vida. E por estes itens , percebem-se pessoas dizendo que o serviço voltará ao normal com fé em Deus…. chega a ser blasfêmia….
A criação do avião explicita a capacidade de homens sérios em tornar a humanidade palco de evolução e progresso científico. Em contrapartida, os homens de agora, inapetentes e com asas sem penas, não conseguem manter no ar o que um só homem pôs para cima, sempre e avante. Isto há cem anos…. imagine esses de hoje, lá…… que catástrofe .. não haveria Torre Eiffel, não haveria a possibilidade dos aviões supersônicos, não haveria a cogitação dos vôos sub-orbitais fazerem o espaço Rio-Paris em uma hora, somente., não haveria Ícaro , sonhando em voar e chegar próximo ao Sol, sendo lembrado pelo sensível Biafra: “ Voar , voar, subir, subir, e por onde for, descer até o céu cair ou mudar de cor, anjos de gás, asas de ilusão, um sonho audaz, feito um balão….”
Até a próxima -com fé em Deus- para que o salário no PIRES do Ministro aumente , para que a Aeronáutica e o CINDACTA tirem o urubu que paira nas próprias turbinas.
Denison Ventura Sant’Ana – professor de língua portuguesa e redação da faculdade Pio Décimo, apresentador dos programas Tire Sua Dúvida e Educação Contemporânea – TV ALESE – Colunista da Infonet