As modificações propostas pelo Ministério da Educação, sob o comando de Fernando Haddad, ora aceitas pela pelas Universidades, trarão uma série de transtornos à classe estudantil. O vestibular não será mais regional. Por assim dizer, não haverá o vestibular de Sergipe ou da Bahia, mas o vestibular no Brasil. Após a discussão do sistema de cotas nas Universidades para negros, índios, provenientes da escola pública, o novo sistema de escolha para as universidades sequer foi proposto para que a sociedade opinasse, para que os estados, inclusive nós, do Nordeste, pudéssemos ter noção, se seríamos prejudicados ou não diante da nova forma de avaliação.
Na proposta enviada por Haddad, os alunos mais bem posicionados poderão escolher , com uma única nota, para qual universidade eles desejam ir. Mas , imaginem o que ocorrerá se os alunos do Sul e Sudeste, os mais bem direcionados em resultados quantitativos, resolverem barganhar as vagas do Nordeste.
Teremos outro sério empecilho, visto que, em Sergipe, em média, 40 mil pessoas disputam as vagas da Universidade Federal, cujo número de buscantes não é saciado pelos quase 10% que a mesma consegue aprovar e absorver. Posto isto, averiguemos que o universo de pessoas que pretende fazer parte do mundo universitário fica cada vez mais distante, redirecionando, neste momento, estudantes do Sul do país para as nossas , já com tão poucas vagas.
O que mais preocupa é que , ignorantemente, se perguntarmos ao alunado do nosso Estado, o que, realmente, ele sabe sobre o novo sistema, pasmem, quase nada. Têm noção de que o vestibular mudou, de que a proposta inicial é de que a prova seria laborada de maneira semelhante à do ENEM, aplicado há dez anos no nosso país.
Só que ontem, 17 de abril, pressionado por reitores, o sistema , que ainda entraria em vigor, já passou por novas propostas, das quais 4 modelos foram apresentados por reitores e algumas universidades ao Ministro da Educação. No universo de um país que busca o desenvolvimento, é necessário que se pontue construir novos centros acadêmicos, pois , para 2010, em torno de 5 milhões de pessoas farão o vestibular e, em média, somente, 1,5 milhão conseguirão adentrar. Entretanto, o que ocorrerá com as demais? Voltarão, após o exame comprovar que são “inoperantes”, para as mesmas realidades insatisfatórias de vida, a trabalharem em empregos insuportáveis ,ou acharem que são vítimas de uma sociedade elitista? Seja qual das opções, nenhuma , de maneira humana, consolida e insere o cidadão brasileiro para a sobrevivência em um mundo competitivo, no qual o pobre, mesmo agraciado por milhares de vagas do ENEM, na maioria, não consegue modificar a própria vida.
Pensar que a inserção na Universidade é algo trivial, engano. Em contrapartida, este equivoco se acentua, pois milhares de alunos freqüentam as salas de aula, sabem que farão a universidade pública, ainda assim, não se esforçam para vencer as dificuldades que foram adquiridas ao longo da vida estudantil. É muito triste perceber que no sistema, os mais necessitados desestimulam-se frente às forças desenvolvidas pelos privilegiados no aspecto econômico. Pontuemos as escolas, caras, abarrotadas de crianças de classes média e média-alta, ricas, a produzir conhecimento e ves e efes, incansavelmente, para galgar os sonhos e manter a pirâmide social sem alteração. Pontue-se , ainda, que a visão deles é correta, ao passo que possuem medo do desemprego, da ausência de facilidades ofertadas pelo mundo moderno: cinema, teatro, jantares, boas roupas e outros apetrechos, que são adquiridos, somente, com o poder do dinheiro, ora consequência do conhecimento, característica do século XXI.
Assim, quanto mais se conhece, frise-se, adquirem-se conhecimentos de cultura, de pessoas, de boas relações, de bons espaços, maior a possibilidade de ascensão social. Com isto, fica mais difícil competir com a elite, que acessa a internet ,de maneira ilimitada, no computador ou no celular 3G, da elite, que assiste aos filmes sem se preocupar com o preço da pipoca, da elite que tem sede de poder.
Queridos leitores, além dos problemas já existentes, retornemos ao momento atual. É preciso que o governo repense ser o mais importante, a construção de mais Universidades públicas para atender à demanda da própria sociedade. Aqui mesmo em Sergipe, é hora de o secretário do Governo da Educação pensar não só em intermediar o aumento e valoração dos professores, mas também incitar o governador Marcelo Déda para a necessidade de se construir uma universidade Estadual. O que acham da ideia?