Voltamos ao ponto, de mais uma vez, atentarmo-nos para as questões das pseudo-marginalidades apontadas no Brasil, cuja situação coloca cidadãos comuns como marginais ditos de elevada periculosidade.
A temática em torno das violabilidades no país perpassa por justificativas que poderiam ser apontadas por estudos sociológicos, posto que a distribuição de renda ocorre de maneira incapacitada, onde muitos detêm pouco e poucos mais de 50 por cento da renda nacional, além dos elementos referentes à distinção de classes e economias direcionadas ao povo negro. Dentro deste parâmetro, temos de criar novas possibilidades de análise sobre os crimes praticados por pessoas que agridem e desrespeitam em nome da própria sobrevivência.
Inserto neste contexto, vemo-nos, literalmente, entre a implacabilidade das leis, para os pobres, e os conceitos que não se enquadram na ótica de quem furta, agride e até mata para tentar existir. Exatamente, neste ponto , versamos de que forma podemos cobrar a Ética, palavra-elemento que se centralizada em meio à parte das grandes demandas de desorganização da sociedade brasileira.
A impressão que possuímos não é positiva. De maneira óbvia, as deliberações raivosas não podem justificar-se pela fome. Um ser humano, definitivamente, não pode violar o direito de existência de outrem. Em contrapartida, como requerer de uma pessoa com fome, frio, sem cuidados consigo mesma, que não vá tentar buscar, mesmo sob a égide da força, as aparências de felicidades física e social dos, também, compositores do contexto?
Para entender melhormente o fato, é interessante que nos posicionemos nas condições ínfimas de outros. Em uma corrente mais ampla, inclusive em pontos ligados ao profissionalismo, é preciso que averigüemos a condição de (sub) existência de policiais, professores e alunos da rede pública e por aí segue esta enorme lista de desigualdades, cuja fotografia torna-se ultrapassada em um mundo que insiste em dizer que está colorido…. não está…. é hora de abrirmos as verdades, hora de admitirmos as nossas situações de fragilidade e incompatibilidade com a competência para que as mudanças venham a surgir. O problema é que confrontamos dados que parecem incompatíveis à vida real e, portanto, o grande marginal, que nem sempre é resultado do contexto, confunde-se com os resultados daqueles que não foram enxergados pela sociedade neste mundo de capitalismo e globalização destoantes.
É de ficarmos atônitos com tantos processos encalhados, com o emaranhado de seres humanos empilhados nas penitenciárias e centros de reabilitação que não sociabilizam , a criar uma possibilidade mentirosa de que pagarão à sociedade os crimes cometidos. Está tudo errado. Assim, o advogado diz, o juiz esclarece, os secretários de segurança explicam , mas no-lo entendemos, visto que grupos de pessoas são detidos todos os dias , as penitenciárias não são suficientes e como conseqüência um poder de resolução obsoleto e frágil, cobrando ética sem estabelecer condições para que as pessoas a exerçam.
O pressuposto da Ética , e concordamos que a palavra deve ser priorizada , precisa de alicerce. Esse existirá a partir de uma sociedade mais justa na qual as pessoas não precisem provar que são inocentes e não são bandidas por terem furtado um remédio para acessarem os direitos de cidadania, enquanto Renan E Floro, nós, da sociedade, temos que fazer força para provar que são culpados. Está tudo ao contrário. Que horror!
Dênison Ventura Kascho de Sant’Ana – Coordenador e Professor da Faculdade Pio Décimo (língua portuguesa) , colunista da Infonet, doutorando em Educação pela Universidade de Lyon – França.
Lenalda Dias dos Santos – Diretora Acadêmica da Faculdade Pio Décimo, Mestra em Educação, Ex-secretária Adjunta de Estado da Educação e doutoranda em Educação pela Universidade de Lyon – França