A discussão acerca dos detalhes que fazem a junção ou distanciamento da religião e do aspecto religiosidade, fé, crença, encontra-se no limiar. Em uma das frases mais ampliadas na visão de Karl Marx, afirma-se que Deus é o ópio do povo (sic). Tal, afirmação com outras tantas semelhantes, tem ultrapassado os tempos e criado determinados conflitos que causam dúvidas, principalmente na camada menos instruída da sociedade.
Numa visão direcionada à retrospectiva histórica, vimos que a Igreja Católica sempre buscou a manutenção do poder, muitas vezes, até matando em nome de Deus no período de Santa Inquisição. Decerto que os crimes praticados por ela em nome de Deus são absolutamente imperdoáveis. Entretanto, toda a esfera mundializada, tanto quanto a sociedade brasileira, representante da autonomia quantitativa do Catolicismo no mundo, compreendeu que os homens, travestidos de representantes da religião, essa podendo ser considerada arte de uma instituição social, erram e transgridem valores que as mesmas combatem. Ainda assim, não podemos configurar que a Igreja Católica Apostólica Romana, no contexto presente, não exerça uma função positiva na sociedade. Em um mundo caracterizado pela ausência de valores ou valores inversos, os dogmas religiosos podem ser muito positivos para equilibrar as atitudes humanas.
Óbvio que visionando e não podendo ignorar o poder de persuasão exercido por ela, outras religiões foram surgindo no anseio de barganhar espaço, poder econômico e por muitas vezes ludibriando os seguidores. Na verdade, era a este prisma que Marx se referia, posto que na Idade Média, como mostrava o filme “O nome da Rosa”, de Umberto Eco, parte dos padrões, das absolvições advinha do pagamento para encontrar o reino dos céus. Poderíamos dizer que o sistema continua, mas seríamos ignorantes em não assertivar a idéia de que se são parte de uma engrenagem social, precisam do capital para manter-se. O problema encontra-se na maneira pela qual esta contribuição é pedida, a forma por que se apresenta. Em anexo a esse fator, uma das igrejas mais criticadas é a Universal do Reino de Deus. Nessa, há a presença do dízimo, mas com ele contribuem as pessoas que podem com quanto podem. Mas qual o objetivo? Para a proliferação dos templos, a propagação dos programas de TV, pagamento das pessoas que se entregam totalmente ao serviço cristão. Certo, errado? Depende do ponto de vista, pois se não contribuímos para fé, fazemo-lo, a todo instante, com o consumismo no shopping center, com a propagação das empresas de cervejas e com centros de distribuição de drogas e outras futilidades mais. O necessário é que observemos a conscientização perante a nossa cooperatividade: se imposto, neguemo-nos, se por livre-arbítrio, façamo-lo, estabelecendo às pessoas o direito de escolha.
Só não podemos pontuar que acreditar em algo estigmatiza ignorância, falta de entendimento. O filósofo alemão Friederich Nietzsche afirmava que precisávamos acreditar em Deus ou em algo para dar um novo significado à vida.
A retórica argumentativa em um universo mais amplo possui um tanto de lógica, mas não se mostra como fonte única. Fé e religião, muitas vezes, não se confundem. Temos que desenvolver a capacidade de discernimento em relação a esse elementos, posto que na dinâmica da vida, não podemos determinar que o ponto de acreditar em algo ou não depende de uma visão correta. Dizem, no universo popular, que fé não se discute e nessa afirmação paira um grande erro. Cientistas comprovam que no nosso cérebro já existe uma área reservada à fé, que para existir não precisa de provas visuais, mas de lógica. Seria uma ignorância nossa pensar que Deus não existe por conta da nossa impossibilidade em vê-lo e nesse ponto a categoria de Benjamin Teixeira, grande estudioso do assunto, é importante ao passo em que aquele ou aquela que não acredita em um fato porque não vê demonstra a capacidade de limitação. Vejam que não vemos o ar, o oxigênio, mas precisamos dele para sobreviver.
Estamos saindo da visão dogmático-limitativa do crer e passando a diferenciar os fatores. O ato de crer, de extensão da fé, torna-se um critério particularizado mais importante do que antes em uma sociedade violada pela força do capital. Não podemos manter o centro de nossa existência somente no vil metal, ou achando que toda a magnitude de todos os elementos que compõem a natureza dê-se por conta do acaso. O acaso em si já é estigma de visão inferior. Não nos posicionemos como o homem desprecavido de argumentações da antiguidade, que justificava ser do demônio tudo aquilo que não conseguia entender, pois “há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia”, dizia Sheakspeare.
Assim, presenciamos que mesmo no critério da religião, quando afirma “Eis o mistério dos mistérios da fé”, existe uma frase de efeito para que não indaguemos. Se são mistérios dos mistérios, maior deve ser a nossa sede de conhecimento para acreditar nem sempre no que vemos, mas prioritariamente no que entendemos. Fator primordial para a evolução própria e da humanidade. Destarte, a religião, se mal condicionada, pode retroceder a capacidade de raciocínio dos fiéis; já a fé não depende de tempo nem de espaço. A mesma não se desenvolve sob paredes, mas no âmbito de compreensão, sábia, dentro de cada um de nós.
Dênison Ventura Sant’ana, Coordenador de Pós-Graduação da Faculdade Pio Décimo, Professor do Prime, Matérias Isoladas, Cronista da Infonet, Árcade Honorário.
Reservas para curso de redação: 3211-2243