Moda Mumificada

O processo direcionado à mudança de comportamento que caracteriza o contexto social torna-se mais evidente neste início de século.  Temos presenciado cenas , ditas normais, quando se trata dos fatos ligados à bulimia e à anorexia. Todos esses elementos em nome dos protótipos criados por uma sociedade que anseia a perfeição.

Não é de agora a busca da humanidade pelos protótipos da beleza. Durante um tempo, estigmatizava-se que a mesma derivava da pele branca, a partir dos olhos claros, da estrutura nórdica. Brigas ocorreram, discussões foram suplantadas e os preconceitos em relação à pluralidade de beleza , em parte,  decaíram . Somatizadamente  aos critérios da dita aparência perfeita, muitas ideologias veladas são postas em exercício em vários segmentos do contexto social. No mais amplo, a mulher começou a ser vista como um produto de que deve ser consumido como o lúpulo advindo de Hallertau na Alemanha. Diante disto, no mundo, os grandes estilistas preferem que as meninas sejam  esqueléticas , claro, para não competir com os pedaços de panos inventados e reinventados, bacanas é verdade, mas os mesmos insistem em dizer que os estilos criam atitudes de pessoas que se vestem bem, contrapondo-se ao conceito de forma irracional, a ponto de  não enxergarem que o projeto de beleza que os mesmos almejam não pode, por assim dizer, considerar-se, visto que o projeto é a forma completa, respeitando as estruturas necessárias para a sobrevivência humana como ocorrido na moda brasileira da década 80, quando os estilistas Clodovil Hernandez mais outros costureiros da época punha as modelos como Monique Evans, Cláudia Raia e Luísa Brunet sobre as passarelas, trajando as  criações que condiziam às tendências das pessoas, pois não exigia delas a rejeição à própria saúde.

Em contrapartida, hoje, impõe-se que as garotas estejam com o peso abaixo da média para obedecer os padrões  exigidos na passarela. Mas quem os criou? Que associação com leis pautadas em Saúde Pública cedeu a autorização para que este tipo de cobrança se estabeleça? De maneira tristonha, estamos , no Brasil, enxergando os passos da passarela de maneira tão ignóbil quanto os dribles do futebol. Ambos personificando, de maneira errônea,  a possibilidade de prospecção de fama , fortunas e reconhecimento no mundo ……. sonhos vendidos sem base: todo este desejo  baseado na efemeridade do rosto, do abdômen talhado, dos músculos definidos; elementos esses seriam necessários para a manutenção e prospecção social? Assusta-me ver, sem confundir a pessoa com a beleza, a Gisele B……….., cedendo algumas entrevistas e sempre repetindo as idéias dos outros, resquícios de raciocínio sem a menor independência : “Não paro, trabalho demais, sou uma workholic”, sempre. E , bastam os sorrisos, as paradas na passarela, para receber aplausos. Meu Deus! Será que o deslumbre está nos produtos usados nas pernas que a levam até a ponta da passarela?  Por favor, a mídia afirma que é TOP, a Victória Secret’S delega que as 7 mais bonitas       são ANGELS e elas acreditam. Claro que o acreditar ou o não fazê-lo centra-se nos milhões de dólares que essas meninas arrecadam. Porém, digo, não é fazer com que os outros acreditem, mas elas acreditarem em si no que diz respeito ao conjunto de informações que não adquiriram na fase correta – o aprendizado da língua, não a simples comunicação, o conjunto de informações a que não tiveram acesso, pois estavam rodando, literalmente, no mundo.

Ana  Carolina Reston Macan, de 1,72 e 40 kg, viajada, fotos na China, Europa, Argentina, Chile, uma carreira de sucesso. Será?  Por esta exigência bestial, na busca de se tornar uma Barbie, pagou com a própria vida pela inconformidade consigo mesma perante o espelho. Inserto neste problema, o ponto mais exacerbado do Narcisismo,  o Ministério Público deveria exigir uma postura mais ética, ética mesmo dos pais, que são entorpecidos pelo brilho do espelho, para que os genitores respondessem pelas responsabilidades em deixar um adolescente largar as atividades previstas em Constituição, cuja Lei estabelece que toda criança e adolescente devem cumprir a educação básica como também vigiar estas agências que vendem por intermédio da TV, que ultimamente vende qualquer coisa, que o seu filho poderá estrear a novela das oito. Pronto, o paraíso foi encontrado. Estamos, de maneira tristonha, criando uma sociedade que não se pauta no real, trazendo através deste falso glamour, complicações irreversíveis, que ignoram as baladas destes meninos e meninas regadas a sexo precoce, abusos de várias formas, físicos e psíquicos por agências que não são sérias, esquecendo outro fator que acomete muitos no mundo da passarela: as drogas, como triste exemplo ocorrido com a TOP, top?……, Kate Moss. O que é ser Top? Por favor, não pensem que não sei o que é ser top dentro dos valores inversos. Refiro-me a ser TOP humano, TOP vida, TOP amor-próprio, sem que doenças psíquicas como a bulimia, chamada de fome de boi, fome canina, não caracterize as garotas, que, com o peso na consciência, regurgitam a própria comida  para não se aceitar. Não regurgitam a comida… entendam… põem para fora todas as identidades que podiam fazê-las felizes como são para se tornarem um objeto manipulado por poucos, no mundo dito fashion, que cedem milhões a umas e esquecimentos a outros. Em um ponto a fome canina, do outro a anorexia, que impossibilita a garota de comer, pois se sente tão culpada, que não quer pôr dentro dela a alimentação necessária para viver. Por favor! Viver, pois se sentirá culpada se o fizer. No meio, todos nós, responsáveis ativos ou indiretos por tais distúrbios.

É necessário que as pessoas discutam, que os desfiles continuem a existir. Contudo, com a presença de seres humanos, e não de cabines caros e, de maneira subseqüente,  haja uma melhor conscientização por parte das famílias, que querem, sim, ter filhos belos, que mal há nisto, mas vivos. Senhores, é tempo de se enxergar o que há por fora, mas  valorizar o que existe  dentro…. é tempo senhores, ainda é tempo… até a próxima.

Dênison Ventura Sant’Ana – Professor da Faculdade Pio Décimo, colunista da Infonet, apresentados dos Programas “Tire Sua Dúvida” e “Educação Contemporânea” na TV ALESE.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais