Constrangimento. Mais um dentre tantos que todos nós , brasileiros, passamos ao longo de nossa formatação enquanto país em busca do desenvolvimento, não somente econômico, mas do respeito. Referimo-nos ao incômodo estarrecedor vivido pelo grupo de brasileiros ao tentar adentrar em terras espanholas. Pela Globo News, toda a confusão se alastra e fere o nosso ego em uma guerra de identidades, cuja identidade nem sabemos a que temos. Exatamente. O fato ocorrido não é proveniente de uma situação isolada, quando se diz respeito a uma pretensa repulsa dos europeus por latinos. Isto não é verdade. Trata-se , temos de admitir , de uma visão, muitas das vezes , transmitida ao mundo por nós mesmos, a partir de uma série de descasos cometidos aqui dentro, sem soluções responsáveis a serem tomadas.
Tentemos analisar o quadro não por uma óptica elitista de um grupo que foi à Espanha defender uma tese de mestrado ou, de maneira mais simples, de outrem que mostra o seguro de viagem feito no valor de 30 mil euros… seria absurdo… e talvez seja por isto todo o problema vivenciado, posto que pessoas de poder econômico foram barradas, quando o mundo diz que o dinheiro compra e possibilita tudo, ignorando qualquer obstáculo. O que está ocorrendo é o grito de uma elite dominante, seja intelectual ou econômico-social bem posicionada que segue à Europa e se revolta a ser barrada no baile, aviltada, por não poder transitar no país, quando ignoramos , aqui no Brasil, leis serem desrespeitadas ao vermos idosos e deficientes não terem acesso gratuito a ônibus e benefícios, beirando a humilhação, para conseguir uma passagem gratuita, sendo este descumprimento minimizado pelo poder pecuniário dos donos das linhas. Por que, então, não aparece a sociedade Hobby wood para defender os fracos? Isto , sim, é um absurdo. Claro que não concordamos com o tratamento desumano destinado às pessoas nos aeroportos, mas , talvez, estejam eles fazendo o que deveríamos exercer aqui. Vejam bem: temos , todos dos dias, incontáveis vôos que chegam ao país, abarrotados de argentinos, espanhóis e europeus (em geral) para injetar dinheiro e euros, libras, dólares, em nossa economia, principalmente no Nordeste, a um elevado custo de um turismo agressivo e desrespeitador , baseado no Turismo Sexual. Pacotes são vendidos na Europa, nos quais são inclusos hotel, traslado e virgindade. Todos estes fatos, perdoem-nos, a Polícia Federal, sabidos, catalogados, todavia , pouco resolvidos, pois nem sempre os nossos problemas abrangentes são levados a sério em totalidade.
Infelizmente e tristonho, no entanto , temos de admitir, é evidenciar consciência de que nós fazemos o nosso país menor, quando não abrangemos a nossa cultura intelectual, escolar, visão esta entendida pelo mundo inteiro ao saber do nosso descaso com a educação, com a falta de empregos, com o elevado índice de prostituição, com miserabilidade, que dizem ter melhorado, mas também não o suficiente para elevar a nossa auto-estima, não somente fruto das passadas de Gisele Bundchen ou dos gols feitos pelo belo Kaká, contudo no melhoramento de nosso parâmetro intelectual, para que as pessoas deixem de ser chamadas de alfabetizadas, passando ao codinome de conhecedoras, capazes de desenvolver a abstração. Faltando estes elementos, cede-lhes, aos países desenvolvidos, a ousadia de nos chamar de país de “merda”. Chato, tristonho, mas não é uma merda , certamente, a fome no Nordeste, o analfabetismo, a ausência de universidades que comportem todos vocês que almejam algo melhor, o argentino ir à Bahia comer acarajé com recheio de dita negrinha que ele pensa poder explorar por ser caucasiano?
É claro que os espanhóis exageram, humilharam, comportaram-se de maneira incorreta. Nós, aqui, também, em retaliação o fizemos. Ok. Entretanto, eles nos desrespeitam porque têm conhecimento de nossas vulnerabilidades, sabem que abrimos as portas dos aeroportos para sustentar o Rio , do turismo, o Nordeste , do turismo, com qualquer turista, inclusive os coreanos, que sobre as calçadas, frente ao Tribunal de Justiça, vendem os tênis, falsificados, as camisas, falsificadas, os perfumes, falsificados, vendendo-nos estas merdas , falsificadas, porque o país não cede às pessoas mais humildes a possibilidade de ter estes artigos, comprando-os nas lojas do shopping Center, que vêm o pobre como “merda”, criando a divisão das barreiras sociais. Diante disto, por que as autoridades não perguntam aos coreanos e outros mais, gringos , que investem este capital, de onde eles vêm? Por que a polícia não faz um baculejo no coreano ou chinês que vende o tênis a TLINTA REAIS, se possuem visto para permanecer? Por que não tiram das calçadas os bonés, relógios e artigos que empobrecem a nossa economia para que nos tornado fortes no capital e nas áreas de valoração humana, eles , os europeus nos respeitem?
Diante disto, o problema não pode ser posto em prática só para verificarmos a vaidade de intelectuais ou pessoas dotadas de capital que foram barradas, mas as causas que levam outras pessoas a saírem de nosso país em busca de uma qualidade de vida, que aqui não se oferece, em busca de uma saúde, que aqui não se oferece, em busca de um respeito que não nos ensinaram a ter, dissociado das passarelas, do futebol ou das bundas expostas no carnaval. País da bunda. Triste, mas é isto que somos no mundo inteiro, nas capas de cd’s na Europa, nas propagandas de cerveja e comerciais. Posto isto, perguntamo-lhes, de quem é a culpa? Deles? Duvido. Até a próxima.
Dênison Ventura Kascho de Sant’Ana, professor de língua portuguesa e redação, Coordenador do núcleo de Pós-graduação em Literaturas e Língua Portuguesa da Faculdade Pio Décimo, doutorando em Educação, cronista do Jornal da Cidade.
Lenalda Dias dos Santos, Mestra em Educação, ex-secretária de Governo de Estado da Educação, Diretora Acadêmica da Faculdade Pio Décimo, doutoranda em Educação.