Não existe a menor possibilidade de vermos o ocorrido nas eleições americanas e não pontuarmos o avanço e o retrocesso ideológicos presentes nas mesmas. A primeira etapa, evidenciada pelo confronto entre o sonho de um negro na “ Casa Branca” ,trouxe à tona o desejo de muitos negros americanos e latinos possuírem a identidade legalizada em um país caracterizado pelo preconceito de tez, indiscutivelmente. A batalha e as farpas mostradas entre Hillary Clinton e Barack Obama evidenciavam a insistência pela manutenção de um poder de hegemonia ariana em uma nação cujo trabalho de negros e latinos, mistura nem sempre compreendida pelos preconceituosos, gera a energia que impulsiona a economia americana.
A presença do Senador Barack Hussein Obama, negro , filho de muçulmano e com sobrenome nada carismático, quebra uma série de paradigmas e ressurge com uma visão por muitos impregnada como uma utopia já entoada por Martin Luther King, que visava à igualdade de direitos de negros na sociedade ianque. Mais do que nunca, Obama, baseando-se no discurso laborado por Luther King “ Eu tenho um Sonho “ de 28/08/1963, parecia conscientizar todos, dado o tamanho do anseio das classes marginalizadas. Como em todo sonho, e , sinceramente, oxalá que o mesmo se concretize, até como forma de aprimoramento das visões humanas americanas, surge , na segunda etapa, o titã de uma realidade inalterada, desde 1776, quando da independência do Estados Unidos do domínio do Reino Unido, o líder Republicano John McCain , proveniente de uma família de militares , clara a situação de o próprio McCain ter lutado na Guerra do Vietnã, considerado, portanto, um herói para o povo americano, que deseja os soldados de volta, mas não abre mão do domínio das riquezas alheias, fora, também, julgado pelo preconceito de ser velho, pelos 75 anos. Mais uma vez, as velhas campanhas publicitárias ultrapassadas que julgam o melhor do novo em detrimento do cansaço do velho, a ignorarem as experiências e demonstrarem um candidato sem forças, frente ao ídolo , julgado como super star , Obama. De maneira aparente, vitória absoluta do novo, conservador, quando não admite o casamento e a legalização das relações homoafetivas como também não possibilita caminhos para a discussão, que seja ao menos filosófica e social, acerca do aborto. Nesta demonstração de qualidades e pseudo-aberturas , analisam-se as grandes contradições entre o que se pode chamar de Republicano e Democrata, se é que o são.
Em contrapartida, caros leitores, retornando ao ponto do titã, já cansado de guerra, Obama recebe o apoio de Hillary, enquanto McCain busca , com a ideologia do velho que sabe as estratégias corretas, uma mulher para representar a luta feminista, implícita, pela qual passa o mundo. São elas que agora mandam, ocupam gabinetes e criam discursos que chegam à alma do ouvinte votante norte-americano. A chegada de Sarah Palin cria um desequilíbrio no critério do eleitor americano, que antes enxergava o novo, OBAMA, contrapondo-se ao ultrapassado, JOHN. O desequilíbrio agora se faz , posto que de um lado , temos o Obama, mas sem vice com visibilidade, e do outro, o velho, experiente, com um discurso potente, somando-se a uma governadora dotada de uma falácia inovadora, mas que segue a velha máxima de que uma mentira dita mil vezes transforma-se em verdade, capaz de se identificar com a maior problemática que assola o ser mulher: engravidar, ainda menor, sem a presença do namorado na gestação- frise-se que o fato degenerador na campanha de Palin só a aproxima das realidades femininas- Vejamos que aliado ao discurso, Sarah reforça não somente a presença da mulher americana como também da mulher branca americana, inteligente e bonita. Assim, tanto lá como aqui versa um preconceito não restrito à cor, mas também à estética, caracteristicas que John McCain soube alinhar. Resultado: se as eleições fossem hoje, John e Sarah deteriam mais de 49 % dos votos válidos americanos, o que prova , ainda, o conservacionismo daquela sociedade, como também Sarah já detém a maioria dos votos das mulheres brancas americanas, o que lhes daria a vitória sobre todos os sonhos de OBAMA, dos LATINOS e NEGROS AMERICANOS, pois não são americanos, são negros americanos, alcancem. Dai, democraticamente e preconceituosamente coadunados, John e Sarah estigmatizam o retrato dos americanos. Caso venha a ser vencedor, como o sistema de votação dos Estados Unidos não é decidido pelo povo na essência , mas pelos delegados, Obama seria presidente dos Estados Unidos. Todavia, seria presidente, de fato, dos americanos? Pense nisto.
*Dênison Ventura Sant´Ana, Coordenador do Núcleo de Pos-graduação em Língua portuguesa, Literatura e Linguística da Faculdade Pio Décimo, Jornalista, Apresentador na TV CAJU, cronista do Jornal da Cidade
*Josevania Teixeira Guedes, Coordenadora do ProUNI- Faculdade Pio Décimo.
*José Sebastião dos Santos Filho, Coordenador de Psicologia da Faculdade Pio Décimo.