De forma complexa, apresenta-se a responsabilidade dos países de primeiro mundo no que diz respeito às ações praticadas em prol ou contra os habitantes dos mesmos. A assertiva em questão condiciona-se ao lastimável fato ocorrido em Londres com o eletricista, natural de Minas Gerais, Jean Charles Menezes, vítima das conseqüências advindas do terrorismo.
Ao analisarmos tal situação e, em crônica passada, assunto bastante abordado, chegamos a apreender a concepção de que o terrorismo reflete a falta de respeito entre os seres humanos nas mais variadas reivindicações que o caracterizam, mas também acaba mostrando atrocidades quando, por ausência de controle, pessoas que não possuem relação direta são atingidas, demonstrando de banalidade em relação à vida. Entretanto, em meios às condolências cedidas pelos governos inglês e brasileiro, foca-se a morte de Jean, que implica uma série de análises perante a tragédia. A exemplo dos 6 mil moradores da cidade da qual Jean é natural, 1.500 deles moram fora do país. Por que será que existe um número grandioso de brasileiros procurando buscar as perspectivas de vida distante da própria terra? Talvez porque aqui os mesmos não consigam ser respeitados como cidadãos, cuja realidade traduz-se na criação de empregos baseados em salários medíocres, tanto quanto o estereótipo de ceticismo que aplaca a sociedade ao passo em que, providências são tomadas para pobres, enquanto os “171” de ternos e gravatas permanecem soltos, gargalhando da cara de brasileiros, gente simples, mas que pretendem sobreviver como Jean.
Averigüemos e entendamos que os 90 quilômetros de cortejo simbolizam a morte de um brasileiro vítima da agressividade em Londres, no momento; no entanto, mártir desta inapetência que caracteriza os políticos de nosso país para fazer-se criar uma terra em que não somente se defenda a tartaruga e o mico-leão-dourado, todavia, estenda-o, a proteção, ao bicho-homem-cansado-brasileiro. Evidente que a polícia de Londres agiu de forma truculenta, contudo, detalhes a respeito da mesma devem ser evidenciados para não se criar a idéia de que são monstros, agressivos, pois, no Brasil, somente até agora, estatísticas concernentes a 2005, 300 pessoas foram assassinadas; de 1981 a 2004, 10 mil mortas em São Paulo e 5 mil no Rio de Janeiro com a sucessão de 50 policiais abatidos. Desta forma, observem que erro maior e terrorismo mais absurdo praticamos nós, que aproveitamos o momento para, sutilmente, aliviarmos as nossas agressividades, atirando a pedra no teto de vidro do vizinho. Na seqüência dos dados, segundo o chefe de polícia de Londres, Yan Blair, a polícia lodrina disparou quatro tiros em 2004 e um policial foi assassinado, não por tiros, mas por facada. Esses dados ratificam que, antepostamente aos atentados, os agentes de segurança têm combatido a violência nas várias formas pertencente a ela, da maneira mais viável, visto que os responsáveis pela segurança sentem-se nobres no exercício das funções porque existe a cultura de respeito para com o policial, reflexo de estabilidade e situação contraposta a nossa, infelizmente.
Segundo Shamy Chakrebali, representante da ONG Liberty em Londres, a nova forma de os policiais agirem só contribui, mesmo com sérias justificativas, para transgredir o direito de liberdade e seguridade de cada cidadão. Portanto, a falha foi deflagrada, aparentemente, não possui retorno, entretanto, que sirva para faze com que os destinados a evitar novos ataques revejam os resultados surgidos dessa forma atroz de combate.
Pedidas as desculpas, com proposta de indenização, interessante como o dinheiro parece resolver os entraves e erros humanos, a ordem, ainda, da Scott Land Year é atirar não mais no peitoral – corre-se o risco de detonar os explosivos – mas, na cabeça – prova de que o incidente não irá reduzir as providências tomadas para inibir ações terroristas em uma semana cuja comemoração poderia ser mais presente já que o IRA, o Exército Republicano Irlandês, após 30 anos de combate e com o montante d e3.500 pessoas vitimadas, entrega as armas e resolve pôr em prática as negociações baseadas na comunicação. Que ironia!
É pertinente, assim, que fatos como o ocorrido, em que um brasileiro é alvejado de maneira equivocada por uma polícia estrangeira, não nos deixemos enganar, pois a cada momento existem aqui vítimas tão covardemente agredidas e assassinadas por policiais, não para, mesmo por engano, defender o próprio povo e país, outrossim para matar o cidadão inocente inserto na luta desumana pela desigualdade social, na mesma proporção de policiais que matam, brasileiros, trabalhadores, por preconceito de cor, caso do dentista fuzilado em São Paulo, crianças inocentes na Candelária, sem-terra em Eldorado dos Carajás, todos esses “matemáticos equívocos” para dar sustentáculo e cobertura ao crime sem preocupação com a segurança de nenhum miserável brasileiro.
Diante dessa analogia, é necessário pontuarmos que vítimas são vítimas. Não importa a forma pela qual a injustiça apresenta-se, temos que evitá-la. Realmente, tentarmos justificar, mesmo que da maneira subliminar, nossas irresponsabilidades no quesito segurança pública, é, no mínimo, posicionarmos como vítimas (policiais despreparados e ferozes, abuso de poder, impunidade incentivadora), os causadores de tamanha violação ao bem maior de qualquer cidadão comum: o direito à vida. Porém, valermo-nos do grande erro e desenhar a simetria entre a falta de preparo dos ingleses a nossa é querer transformar o pesadelo brasileiro em tragédia romântica. Apiedemo-nos em relação a Jean, mas não percamos o senso.