É sempre lindo andar na cidade de Aracaju. Premeditando o breque, você pode descobrir Aracaju pedalando. Se Mario Jorge disse “Aracaju, arcazul se não, se sim, caminhos do sul não são pra mim”, é mágico sair de bicicleta e ir conhecendo a cidade sob o desenho de Pirro. Está na hora de você abandonar o carro e ir de bicicleta. De preferência inverta o roteiro. O que quero dizer? Se você mora num bairro, faça o oposto. Seja o astronauta, ou melhor, o ciclista de sua própria história. Não tenha vergonha de parar a bike e pegar aquela flor para a amada, ou cheirar aquela cidreira que nasceu aleatoriamente no caminho. Você pode parar para tomar uma água de coco e deixar ela derramar um pouco sobre o peito enquanto seus olhos decifram os caminhos da cidade.
Com a bike, não há emissão de dióxido de carbono (CO2). Para a ONG Ciclo Urbano, a realização do Desafio Intermodal pode ser um instrumento de análise tanto do Poder Público, como da população aracajuana, para alcançar a mobilidade urbana sustentável e uma melhor compreensão dos deslocamentos cotidianos na cidade.
O mais interessante em descobrir Aracaju de bicicleta é poder levar os filhos também. Eles já começam a ser educados para o mundo sustentável. Sem falar do contato com os “pivetes” depois de um dia estressante de trabalho. É mágico. Os bebês também são levados pelos pais, explica Rinaldo Souza, da Pedal Livre em Aracaju. Esta semana a Pedal Livre visitou os Bairros Siqueira Campos, Grageru, Santos Dummont e promove o Roteiro da Luz, visitando os pontos iluminados de Aracaju, desde a Colina do Santo Antônio, às praças, museus e monumentos. A paixão pela bike tem crescido na cidade e hoje, além da Pedal Livre, tem a vida de bike, que faz treinamentos e dá suporte a quem quer levar o esporte a sério. Outros grupos também estão surgindo e são muito bem-vindos.
Aracaju é uma cidade para se descobrir pedalando. Aos poucos, como quem saboreia um sorvete de tamarindo do Castelo Branco, ou o pastel da Jane ou se derrete com o churro do calçadão, ou o queijo coalho na brasa da passarela do caranguejo ou os beijus e bolachinhas de goma do mercado. É o politicamente correto. O friozinho na barriga, o ventão na cara soprando e o olhar nítido sobre a cidade, longe da opressão do trânsito, dos automóveis, das motos, dos ônibus que invadem a privacidade dos homens.
Para quem está começando a pedalar, o ideal é que se procure lugares calmos, com pouca movimentação de pessoas e principalmente carros. Não vou dizer que o melhor lugar para pedalar é em parques, pois existem muitos parques que não tem estrutura para pessoas andarem de bicicleta, já que são muito cheios ou não tem espaço suficiente. É importante que se faça também um roteiro seguro, escolha um lugar iluminado e nunca vá só, por isso que os grupos são importantes.
Aracaju possui um quadrado na arquitetura que ajuda a descobrir a cidade. Saindo da Atalaia, por exemplo, você pode vir pela orla, cruzar pelo Miguel e respirar (não tenha medo de respirar) aquele ar puro do Parque da Sementeira, depois cruzar a ponte da Coroa do Meio rumo ao Calçadão da 13, dar uma paradinha no Memorial de Sergipe e seguir pela Rua da Frente, passar pela casa de Zé Peixe, o prático mais famoso do mundo, e olhar ali mesmo a casa de Lineu fotógrafo, Ilma Fontes, a bruxa-poeta que namorou Mario Jorge, e encontrar ainda o Centro de Cultura e Arte da UFS, mais à frente, antiga faculdade de Direito de Sergipe. Se tiver fôlego, dar uma subida pela Barão de Maruim, para fitar as casas seculares, quase todas já destruídas (é bem verdade!), mas que reservam ainda raros monumentos de arquitetura como a que morou Leandro Maciel e a que abriga o prédio do Iphan, esquina com Dom José Thomaz. Se quiser pode seguir o roteiro despretensiosamente e ver a Praça da Bandeira e a casa que morou Luiz Rabelo Leite, do outro lado. E não deixe de ir se emocionando com a “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, mas que não tira de Aracaju o charme e a poesia, apesar do descaso dos governantes.
Pedalar, então, está na ordem do dia. Por que se fala andar de bicicleta? Porque é quase isso mesmo. Andar. Como se estivesse parado, descobrindo o mundo. A partitura de uma música, a magia de um som, ou o barulho da água do rio Sergipe na balaustrada da Avenida Beira-Mar, onde morou, um dia, Chico Decorador.
Que tal acordar cedo no domingo e convidar toda a família para pedalar pelas ruas do centro de Aracaju? Tomar café no mercado, sentir o cheiro de peixe que vem da maré e visualizar Aracaju sur-mer no dizer de Junot Silveira. Ou responder como Antonio Garcia Filho: “Aracaju, uma estrela”. Descobrir Aracaju de bicicleta é saber que Orestis Gatti esteve, um dia, pintando o teto da Catedral Metropolitana, é comprar o pão bisnaga na Panificação Sergipana ou entrar no Centro de Turismo, lembrando que ali já foi um dia palco de tantas emoções. Ou ainda no dizer de Ismar Barreto, na linda interpretação única de Amorosa. “Comer muito siri /andar de pé no chão /descer a Laranjeiras entrar no calçadão/voltar pra Aracaju /tomar um murici, então /à noite eu vou lá no Fan’s tomar chopp com o Pascoal /papo vai papo vem fofocar não faz mal(…)e quando o dia raiar vou ver a vida nascer te amo, Aracaju resolvi te viver!”. Então, pronto para acompanhar convite de Ismar?
De bicicleta podemos tudo. Aracaju é uma cidade para se descobrir pedalando, como um vinho de excelente safra, como uma criança que vai vendo a cidade com o peito aberto, livre, sem medo do tempo, como um filme de Ang Lee, uma viagem inesquecível pela cidade “Aracaju,Arcazul./Se não, se sim, caminhos do Sul não são pra mim”.