“Detratores”

Há uma discussão renovada sobre a necessidade do voto impresso.

Como fazê-lo não o sei, afinal o voto precisa ser secreto, uma longa luta, muito antiga desde o tempo de minha infância.

O problema é que, em juras à Deus, que tudo perdoa, ao Diabo, que atenta a todos, e  à Lei que acoberta vilões em cegas vendas, as eleições sempre são fraudáveis, daí sempre ser bom desconfiar.

E bote desconfiança nisso, que muito ainda é pouco.

Na eleição que passou, sem paixão, nem torcida, as pesquisas eleitorais e os jornalões sulistas quiseram orientar o eleitorado, criando uma opção que derrotasse o seu incômodo maior, o Presidente Bolsonaro, que ainda reina sem partido, não fora sequer candidato, e, nesse noticiário passara isento exibindo sua reles preferência pelo voto impresso.

Se Bolsonaro incomoda, seus críticos estão a reclamar porque o Presidente os classifica como “detratores”, e isso os desgosta em demasia, porque se acham isentos, enquanto formadores de opinião.

Isenção, todavia, é coisa rara!

Nem a minha!

Só que eu escrevo por conta e risco!

Há uma estória que contam, salvo engano, de Joel Silveira, numa primeira entrevista com Assis Chateabriand, que lhe pedira, a título de avaliar sua lavra, que escrevesse um artigo sobre Getúlio Vargas.

– “Contra ou a favor?”- Perguntou Joel, conquistando o emprego nos Diários Associados, com as graças de Chateaubriand, que mais tarde lhe daria o apelido de “o víbora”, em circunstância que desconheço, nem vem ao caso.

O que vem ao caso é dizer que os aborrecidos jornalistas classificados pelo Planalto como “detratores”, não deviam se imaginar isentos nas suas críticas, afinal a imparcialidade passa bem longe dos seus textos.

Isso, porém, não é mancha que enodoe nem corrompa. É um serviço!

E como todo serviço, presta-se com assepsia ou suja-se nas escórias, contaminando-se.

Há os que se prestam a tudo e todos, a soldo de melhor paga.

Chegam a ser beletristas pistoleiros, dispostos a assassinar e vilipendiar por encomenda, como se tudo pudesse fazer em anodinia torpe de bem destilar o dolo, a fraude e a aleivosia, por melhor gelosia de opinião, porque a página e a tinta o consentem, em mancha, sujeira ou borrão, sobretudo se o escarro for lançado no anonimato ou no pseudônimo.

E se sempre foi assim, desde o tempo do mata-borrão, da borrachada e do verniz corretor, por que não fazer agora, se nem retrocesso existe, a corrigenda perdeu valia, e o dito vira contradito, sem necessidade de isenção, correção ou mesmo errata?

Erradas perdidas hoje esquecidas, houve tempo em que um pistoleiro intelectual a soldo ensejava tanto temor, quanto uma moléstia mal-de-coito ambulante, em rejeito de escória.

Eram, mais das vezes, figuras sombrias, nauseabundas e promíscuas, afinal só os espíritos pútridos conseguem se deleitar no eczema e no apostema, enquanto melhor poema.

Hoje ninguém lhes percebe as babas sulfurosas, nem as chagas sifilíticas nos escritos. Viraram bons moços, independentes, honestos e impolutos, sobretudo se na internet estiverem covardemente anônimos.

Em outras anomias, alguns se confessam “Think-Thank”, essa novidade que os insere numa ânfora de incolumidade, imisturável e imiscível às paixões tolas dos homens.

O problema é que neste “Drink-Drunk” disfarçado, há uma cor alucinógena que fascina, e um alcaloide nada anfótero, que embebeda a todos, alguns desatinando por tosco tempo.

Um desengano, porque há “Think-Thank” para todos os gostos;  da destra, da sinistra, outros nem tanto, nem tão pouco, ambidestros na esperteza de bem se camuflar agarrando tudo, tentacular, e centopéico no caminhar.

O difícil é decifrá-los e desvendá-los, enquanto aporema.

Neste dilema, o Governo Bolsonaro, que apanha de santos, de demônios, dos que louvam a Deus e dos que se curvam ao Diabo, a Asmodeus e seus corifeus, colocou-lhes um ferro na testa, chamando-os de “Detratores, neutros ou favoráveis”.

Se estar “neutro” é indefinição, e ser “favorável” é ser inconfiável por “terraplanista”, os “detratores” estão inconformados em tanto desapreço.

Seriam eles “detratores”, mas não tanto, ou alguém precisa elegê-los, mediante cédula impressa para expô-los?

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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