Neste culto à personalidade, com ampla divulgação na imprensa, louvava-se, não só a inteligência e o vigor físico do velho Marechal Pétain, como até a beleza de seus olhos azuis. Tudo aquilo que testemunhava um excesso de senilidade, denunciado muito tempo antes por De Gaulle. Em suas memórias De Gaulle censurava Pétain desde o tempo em que este era um coronel quarentão, que se conservava solteiro, sendo festejado pelos seus comandados, que em puxa-saquismo carreirista, vangloriavam o seu sucesso junto às mulheres. O marechal só casaria aos 64 anos, após 19 anos de noivado com Eugénie Hardon, então com 42 anos, sem deixar descendência. Embora Pétain fosse considerado um grande herói de guerra, seus colegas como os Generais Joffre e Foch e até Clemenceau lhe faziam muitas restrições. Os seus críticos, aí incluído De Gaulle o achavam um homem lascivo e concupiscente, eivado de muitos defeitos. Um destes deslustres era o de utilizar textos da lavra de outrem, como seus, sobretudo de auxiliares, de modo a se destacar intelectualmente, inclusive ingressando na Academia Francesa de Letras. De Gaulle já havia publicado Na realidade, estes livros foram mais respeitados pelo inimigo alemão, que se preparava para a guerra criando suas divisões Panzers, que se revelaram invencíveis, enquanto a França optava por uma linha defensiva que De Gaulle acusava como ineficiente. Quando da publicação de La france et son armée (A França e seu exército – 1938, Na verdade o trabalho fora de De Gaulle enquanto auxiliar de Pétain, mas este, como já de costume, quisera se apossar do texto como se fosse um estudo do seu estado maior e fruto da sua inspiração. Chegou inclusive a querer modificá-lo, alegando erros, tentando até mesmo impedir a publicação. Esta divergência suscitou uma acusação de orgulho ferido e indisciplina, da qual De Gaulle foi muito criticado. Pétain, como muitos sabiam, era um homem muito vaidoso, defeito que se multiplicaria na senilidade, assumindo excessos de insensatez quando impôs a república de Vichy, chegando inclusive a exigir de seus subordinados juramentos do tipo: “Eu faço dom de minha pessoa ao Marechal Pétain como ele o faz da sua à França”. Mas, como dito anteriormente, as palavras do Marechal pelo rádio convocando os franceses a ensarilhar as armas perante o inimigo suscitariam E é de Londres que De Gaulle reagiria a tanto desânimo e covardia. É de lá que lançará sua palavra de resistência e de esperança, conclamando os Franceses a resistirem, lembrando que a reação seria feita a partir de seu vasto império, na África e no Oriente. Iniciava-se aí uma longa peregrinação deste General de duas estrelas a procura de aliados em meio ao desânimo de comandantes, presos a interesses de ordem político-ideológico, restrições hierárquicas em divergências várias, e a acefalia do exército e da armada. Afinal Pétain determinara que a tropa entregasse as armas, a esquadra permanecesse fundiada em Toulon e a aviação permanecesse no solo, enquanto a França se submetia ao invasor, sem luta, dividida agora em dois estados ; um a França ocupada, e a outra submetida a um governo títere com sede em Vichy. O escritor Max Gallo, na sua biografia de Gaulle, mais precisamente no seu segundo volume, “La solitude du combattante”(A solidão do combatente), relata a dificuldade do general para liderar a reação, afinal inimigos e aliados, todos tinham um interesse em lucrar com os despojos da França destruída. Eram vários os interesses. Ingleses e americanos queriam interferir no norte e oeste da África, na Tunísia, na Argélia, no Marrocos, no mar Mediterrâneo, no Chad, no Senegal, no Congo, nas colônias do Atlântico aí incluído as Antilhas, no oceano Índico em Madagascar, no oriente médio desde o Egito e o canal de Suez, à Síria, à Jordânia, ao Iraque em todos os países árabes, interesses que alcançavam a Indochina e o Vietnam e se estendiam às Polinésias e Micronésias, em demanda do Pacífico. Assim, não era pacífico conquistar aliados, inclusive a própria Inglaterra que estava inserida na guerra, mas podia num golpe político assinar a paz com Hitler, e os Estados Unidos, que até aqule momento permaneciam longe dela . Por outro lado De Gaulle, sentindo-se a encarnação da França não aceitava com facilidade qualquer negociação. Dizia-se que o general sem exércitos era um homem extremamente inflexível, uma mistura de Joana d’Arc, Richelieu, Luís XIV e Napoleão. E assim muito difícil de ser demovido de suas concepções e convicções. Além disso, havia outros militares de maior patente que De Gaulle, como os Generais Darlan, Girot e Georges que resistiam a sua liderança, e eram amparados, ora por Churchill, ora por Roosevelt, por mais maleáveis e tuteláveis. E ainda havia o fato que o próprio regime de Pétain sempre se relacionara muito bem com os americanos. E também a possibilidade de um armistício com os ingleses, único país, naquele momento, inserido na guerra no front ocidental. A guerra, porém, começara a mudar com o desentendimento russo-alemão e a conseqüente invasão alemã ao solo soviético em demanda de Stalingrado.
Os mais destacados nomes do governo colaboracionista de Vicchy: Pétain, Darlan e Laval.
Artigo de De Gaulle: “Rumo ao exército profissional”
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