No forte de Ingolstadt, na Baviera, um campo de represálias, destinado aos prisioneiros recalcitrantes De Gaule irá se relacionar com o futuro General Georges Catroux, o aviador Roland Garros, o jornalista Rémy Roure, o editor Berger-Levrault e o futuro marechal soviético Toukhatchevski. Enquanto o General Pétain colhia vitórias e sucesso, De Gaulle no seu «exílio», aproveitava o cativeiro para organizar com os seus companheiros uma série de conferências e exposições sobre o estado de guerra, técnicas de assalto e análise histórica, permutando experiências e testemunhos, se destacando pelo idealismo, pelo preparo intelectual e ético e pela manutenção da disciplina. Este exilio de dois anos e meio lhe ficará guardado como uma lembrança amarga, por se achar um inútil, enquanto soldado, alguém que de nada servia à luta pátria. No entanto este cativeiro se tornaria um aprendizado de liderança e comando, que lhe seria de muita utilidade no futuro, porque desde aquele instante começava a pensar no futuro político institucional da França. Encerrada a 1ª Guerra, De Gaule é liberto de seu cativeiro, enquanto Pétain se torna Marechal de França assumindo todas as posições superiores do exército. Por seus feitos guerreiros De Gaulle recebe a cruz de Chevalier de Posteriormente começa a ascender na hierarquia do exército suscitando admiradores em meio a muitos inimigos. Por discordar do pensamento defensivo vigente, que ensejou a construção da linha Maginot, uma linha de fortificações e barreiras que se estendia ao longo da fronteira alemã. Como coronel, De Gaulle se torna um crítico incisivo às estratégias assumidas pelo exército, angariando muitas antipatias, inclusive com o Marechal Pétain, de quem já era auxiliar. De Gaulle influenciara Pétain na defesa de uma política de construção de tanques, veículos de poder de fogo rápido, apoiado por um corpo aéreo. Tal política, porém, não fora aceita, quer por contingências orçamentárias, quer porque o pensamento dominante preferia uma estratégia defensiva de fortificações e carros pesados. E assim muitas fortificações e barreiras foram construidas ao longo das fronteiras norte e oeste com a Alemanha, impedindo o livre trânsito pelos caminhos naturais. Tudo inútil. A história revelaria que a crítica de De Gaulle era lúcida e verdadeira. Assim, passados quase vinte dois anos, eis o inimigo alemão mais forte e belicoso, agora sob o comando de Adolf Hitler, invadindo o solo francês. Com um ataque relâmpago o inimigo alemão, evitaria a linha Maginot, contornando-a, invadindo e desrespeitando a neutralidade de Holanda e Bélgica, e a França se veria rapidamente derrotada, com Paris nas mãos do inimigo. É neste momento que o velho Marechal Pétain, então com 83 anos, é chamado para salvar a pátria do desastre, assumindo o comando da França, defendendo o armistício e a cessação das hostilidades. Suas palavras pronunciadas no rádio a 17 de junho de 1940 soariam tranquilisadoras para uns e desastrosas para outros: « Franceses, eu faço à França o dom de minha pessoa para atenuar as suas infeliciades… É com o coração apertado que eu lhes digo que é preciso cessar o combate. » – “Você é mais fracês que ele? “ Cartaz enaltecendo o valor heróico de Pétain, como fiador da rendição francesa. Naquele mesmo discurso, Pétain antecipava o fim da III República Francesa, banindo o lema « Liberté, Égalité, Fraternité», substituindo pela divisa «Travail, Famille, Patrie », iniciando um regime personalista, no qual as liberdades públicas são suspensas, junto com os partidos políticos, as centrais sindicais são dissolvidas, as uniões departamentais substituidas por organizações corporativistas de trabalho, e a Franco-Maçonaria era posta fora da lei. Todas as assembléias eleitas são dissolvidas, as câmaras suprimidas, as municipalidades são destituídas, substituídos por delegações especiais nomeadas por decreto do Marechal. Desnecessário dizer que os setores mais reacionários aprovavam o novo regime que era visto como um bastião contra o inimigo comunista. Por outro lado, como a União Soviética era naquele momento aliada da Alemanha, os comunistas franceses não se opuseram de início ao regime de Pétain, chegando mesmo a apoiá-lo. Iniciava-se um período no qual o culto à personalidade do Marechal não teria limites. Pétain seria louvado por intelectuais como Paul Claudel, qual salvador messiânico a sacrificar-se pela pátria, como se o velho marechal fosse uma reencarnação nova de Joana d’Arc heroína contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos, ou de Vercingetórix, o herói gaulês que desfiou Julius Caesar e as legiões romanas em De Bello Gallico, a guerra das gálias.
A linha Maginot era um conjunto de fortificações e casamatas na fronteira da França com a Alemanha.
Fortificações da Linha Maginot.
– “Fora daqui!” Campanha francesa contra a ameaça bolchevique.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários