O desentendimento russo-alemão e a conseqüente invasão alemã ao solo soviético em demanda de Stalingrado mudariam o perfil da guerra. Da Inglaterra continuava De Gaulle a conclamar os franceses para a resistência. Em seu discurso ouvido longinquamente em meio aos chiados sintonizados nos rádios receptores escondidos percebia-se a sua fé na vitória. A TODOS OS FRANCESES A França perdeu uma batalha! Mas a França não perdeu a guerra! Governantes irrefletidos puderam capitular, cedendo ao pânico, esquecendo a honra, entregando o país à servidão. Entretanto, nada está perdido! Nada está perdido, porque esta guerra é uma guerra mundial. No universo livre, forças imensas não lutaram ainda. Um dia estas forças esmagarão o inimigo. É preciso que a França esteja ali presente nesse dia da vitória. Então, ela reencontrará sua liberdade e sua grandeza. Tal é o meu objetivo, meu único objetivo! Eis aí porque eu convoco todos os franceses em qualquer lugar em que se encontrem, a se unirem a mim na ação, no sacrifício e na esperança. Nossa pátria está em perigo de morte. Lutemos todos para salva-la VIVA A FRANÇA! GÉNÉRAL DE GAULLE Com o desentendimento russo-alemão, agora são os comunistas franceses que se reúnem à ainda incipiente resistência. Sob a liderança de Jean Moulin, ex-prefeito de Chartres, a resistência francesa reconhece De Gaulle como chefe supremo da França Combatente. Este fato é determinante para que a liderança do General se afirme cada vez mais, se tornando irreversível.Mas, as coisas continuavam difíceis para a França. O próprio presidente Roosevelt repetia que a França não existia mais, e que a resistência proposta por De Gaulle era a de um fanático de natureza totalitária. Enquanto isto, políticos como Christien Pineau, Leon Blum, Jacques Duclos, Maurice Thorez e outros como o jornalista Albert Camus, não se entendiam, desconfiavam das motivações gaullistas, e estavam mais preocupados com os despojos e a sobrevivência de suas correntes partidárias no pós-guerra francês. Diga-se de passagem, que o próprio Presidente Roosevelt preconizara fragmentar a França criando um Estado chamado Valônia constituído da Bélgica, de Luxemburgo, da Alsácia-Lorena e de uma parte do norte da própria França, bem como realizar um derrame de milhões de francos falsos no solo francês antes do desembarque aliado. Tais ações foram repelidas violentamente pelo General De Gaulle. Enquanto isso o governo de Vichy, presidido por Philippe Pétain e secundado por Pierre Laval, cometia as maiores atrocidades, fuzilando os resistentes em retaliação aos atentados contra os alemães. De Gaulle no exílio é condenado à morte, Jean Moulin é preso torturado e morto, centenas de prisioneiros são fuzilados, enquanto o Marechal Pétain conduz um governo arbitrário e violento, que enaltece a sua própria personalidade posando de salvador da pátria, utilizando-se inclusive até da inocência das crianças. Cartaz convocando as crianças francesas a desenharem paisagens e endereçarem ao Marechal Pétain, a título de presente de natal. “A França que o Marechal ama tanto.” Diz o cartaz. Milhares de desenhos foram enviados a Pétain lhe desjando um bom natal. Posteriormente, mesmo quando foi possível o desembarque dos aliados na Europa, e os Franceses já lutavam na Itália e no próprio solo pátrio, De Gaulle não conseguia inserir a França no debate dos três grandes. Roosevelt, Churchill e Stalin ditariam as cartas daí para frente. Três momentos de De Gaulle: Já vitorioso na França em 1944. Recebendo o apoio do General Giarud em Casablanca no Marrocos, em janeiro de 1943, durante reunião matida com Roosevelt e Churchill, oportunidade em que foi oficializado como lider da França junto aos aliados Falando na BBC de Londres em 1940 conclamando os franceses à resistência. E a coisa teria sido bem pior se De Gaulle não tivesse, desrespeitando as ordens aliadas, invadido também a Alemanha, desrespeitando a determinação do General Eisenhower, que desejava manter as tropas francesas nos limites territoriais da França. De Gaulle, porém, invade e ocupa Stuttgart, Augsburgo, a Floresta Negra e Berchtesgaden, o “ninho da águia”, se apoderando inclusive do sabre do fuher e do seu automóvel oficial. E, só talvez por tal rebelião e ousadia, a França, representada pelo General de Lattre, estará também presente na cerimônia de capitulação, assinando e testemunhando a rendição alemã. Sob esta cena, conta-se que o Marechal Keitel reclamara no momento da rendição: – “Que! Os franceses também?!” – “Sim!” dirá De Gaulle em suas memórias de guerra. “A França está ali ressurgida do abismo.” Anteriormente De Gaulle tentara conseguir o apoio de Stalin para estender os limites franceses até o Reno, contra o interesse de Churchill, Roosevelt e seu substituto Truman. Não conseguiu. Há quem diga, inclusive, que o interesse de Churchill aí fora contrariado, pois desejava continuar a guerra, agora contra os russos. Quanto a Stalin, este queria apenas avançar suas fronteiras adentrando à Polônia, como o fez, e depois influenciou na sucessão dos países do leste europeu. Na França, porém, chegara o momento de renovação das instituições políticas e administrativas. Imperava o caos e a indisciplina, com falta de víveres, água e energia. Momento para suscitar insatisfações e retaliações. Momento de julgamento de traidores, desertores e colaboracionistas. Punir um militante era fácil, sobretudo um militar. Difícil era condenar à morte um intelectual. A intelectualidade não aceita que se corte a cabeça de uma mente privilegiada. “O que há de melhor na França não se consola com a destruição de uma cabeça pensante, mesmo que ela tenha pensado tão mal. As únicas execuções que a História não perdoa são as dos filósofos e dos poetas”, afirmava François Mauriac, em defesa dos intelectuais colaboracionistas. Mas, se a guerra estava acabada, agora era o momento difícil de pacificação da alma francesa, dividida entre fugidios desertores e colaboracionistas, em meio a exaltações nunca vistas, de tão expressivos combatentes.
Um resumo do apogeu de Pétain: Paris ocupada pelos alemães, a França dividida, encontros com Laval, Miterrand, Pio XI, Francisco Franco e Hitler.
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