DEZ ANOS DO REAL

Finalmente, depois de diversas tentativas frustradas em função de interesses políticos, o país conseguiu ver implantado um plano bem sucedido no controle da inflação, o Plano Real, que completa dez anos em 2004. A implantação do Plano Real e a política macro-econômica empregada pelos governos que o administraram nestes dez anos garantiram a estabilização da economia, o que foi fundamental para melhorar a renda dos mais pobres, pois não se pode esquecer que os aumentos dos preços sempre chegam antes dos aumentos dos salários e que os de mais baixa renda, por não terem acesso aos mecanismos de proteção monetária, foram os mais prejudicados com as altas taxas de inflação que existiam antes do Real. De acordo com o IBGE, o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), efetuada no período compreendido entre 1995 e 1999, mostrou que houve uma pequena desconcentração de renda, que diminuiu o número de crianças de 7 a 14 anos que estão fora da escola, que aumentou o percentual das pessoas de 10 anos ou mais com, pelo menos, o segundo grau completo, que a mortalidade infantil diminuiu, que o brasileiro tem hoje uma maior longevidade, que a dieta do brasileiro menos favorecido teve o frango, o leite e ovos adicionados ao feijão com arroz. Por que o país, apesar dessas melhorias, não conseguiu, ainda, bons resultados no emprego, na renda e no crescimento econômico? Em primeiro lugar, devemos considerar que conquistas sociais levam muito tempo para ocorrer e depois, estas conquistas ficaram mais difíceis de serem conseguidas, porque o crescimento econômico não vem ocorrendo de forma sustentada e no nível desejado em função de problemas causados inicialmente pela âncora cambial, um dos pilares do Plano Real e em seguida pelas crises externas, como a do México, a da Rússia, a dos países asiáticos e da Argentina e internamente resultante da falta de planejamento, como por exemplo, a crise energética de 2001, justamente quando iniciávamos um possível ciclo de crescimento, após a desvalorização cambial de 1999. Como não temos poupança interna capaz de sustentar o crescimento econômico, o país fica muito dependente dos recursos externos e um dos empecilhos consensuais para atrair os investimentos necessários é a insegurança quanto à falta de uma definição clara das regras e da garantia do funcionamento de instituições sólidas, o que envolve não só a credibilidade, a lisura e a transparência nas ações do governo, da justiça, como também das agências reguladoras. Para isto, é importante a continuidade da política macro-econômica em vigor e respeito aos compromissos assumidos. Um exemplo claro da necessidade da manutenção da política macro-econômica e do respeito aos contratos firmados foi o que ocorreu em 2002. Quando ficou evidente que o governo não faria o seu sucessor e que, quem seria eleito presidente, seria o candidato do PT, partido que sempre foi contra a política praticada pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, o mercado deflagrou a crise que o atual governo levou todo o ano de 2003 para vencê-la e reerguer os pilares da economia para um desenvolvimento sustentável. Neste ano, no entanto, autoridades governamentais afirmam e a divulgação de alguns índices mostra que o país voltou a crescer e isto, sem dúvida, tem como alicerce a estabilização da economia conseguida a partir do Plano Real. A questão que fica é a seguinte: Este crescimento econômico veio para ficar? Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000 edmir@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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