Interseccionalidade e a importância de suas práxis

Há muitos anos a discussão sobre privilégios tem papel fundamental nos movimentos sociais e na academia quando o assunto se trata sobre estudos de gênero, de raça e de classe. Mas, foi por volta dos anos 90, após Kimberlé Crenshaw, intelectual norte-americana, ter criado o conceito de Interseccionalidade, que as discussões passaram a tomar novos rumos em todos os lugares.

Em resumo, a autora e estudiosa da teoria crítica racial, aponta que há grupos sociais em que diversas opressões se articulam e são naturalizadas na sociedade, por instituições e por leis, exemplo disso são as violências sofridas pelas mulheres negras, grupo mais afetado em se tratando de desigualdades sociais no Brasil e no mundo. Essa questão chama a atenção para o fato de que nós mulheres somos atravessadas por indentidades e fatores não só ligadas a gênero, mas à raça e à classe.

E onde quero chegar com essa discussão que mais parece uma introdução de artigo acadêmico? Especificamente nesta semana, tivemos um combo de notícias cujas protagonistas das tragédias, dos crimes, dos argumentos jurídicos, e da indústria midiática são mulheres. Todas elas massacradas por seus atos ou ignoradas pela sociedade, morrendo duas vezes, uma pelos seus algozes, por tiro, por estupro, por medo, outra pela estrutura do machismo que está tão enraizada que naturalizamos o massacre às mulheres, estejam elas em qualquer posição.

Ao pensar sobre feminismos e interseccionalidades, acreditando que somente uma força coletiva servirá para entender e lutar contra as relações de poder patriarcais, contra as opressões e contra o tipo de influência dos colonialismos e imperialismo, é que divago sobre que tipo de agulha é necessária para furar as bolhas para que elas enxerguem uma demanda já existente e que coloquem o fator raça como um aspecto estruturante de toda essa ignorância que relativiza somente as dores de quem sobrevive imerso em seus privilégios.

Não estou aqui para fazer julgamentos e acredito que expor atitudes machistas é uma das formas práticas de atuação para o combate à violência de gênero. Mas, para além dos discursos de união, de sororidade, de empatia feminina, é fundamental que a base estruturante do Brasil seja completamente destruída. E essa base brasileira é fundada no estupro de crianças e mulheres indígenas e pretas, fundada na cultura do feminicídio, na falta de equidade salarial, no etarismo, na gordofobia, na escravização de empregadas domésticas e na exclusão de mulheres com deficiência e atípicas de todos os setores da sociedade, ou seja, a base é machista e patriarcal e ela precisa ser destruída.

Na prática, a movimentação de mulheres, sobretudo quando há a ascensão de mulheres pretas, é um ganho para toda a sociedade. Quando discutimos e pensamos a interseccionalidade na prática e buscamos inserir esse debate em todos os espaços é porque não cabe mais naturalizar violência e fazer chacota com o comportamento masculino sem denominar e combater esse veneno social que é o machismo, que é ruim para todo mundo, mas que só aniquila as mulheres.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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