Seguindo o que comentei com vocês na semana passada, como março é marcado como mês da Mulher, acho importante que nós possamos conhecer coletivos de mulheres que fazem a diferença na sociedade sergipana, buscando fomentar políticas públicas, garantia de direitos e igualdade de gênero no estado. Nesta semana, quero apresentar algumas informações sobre a Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, um coletivo de 16 mulheres negras sergipanas com realidades diversas, que surgiu em 2014, por conta do anseios e inconformidades dessas mulheres com a ausência de espaços onde pudessem refletir sobre questões relacionadas ao universo feminino e a suas demandas sociais.
O grupo foi formado a partir de uma inquietação das mulheres que não encontraram espaço para pautar as especificidades que atravessam as experiências de mulheres negras com relação ao racismo em outros coletivos mistos dos quais elas faziam parte, e se mobilizaram via redes sociais, convidando outras mulheres negras para um encontro presencial. Os eixos nos quais a Auto-Organização atua são: Educação, Saúde, Pobreza, Mercado de trabalho e Desigualdade social, Direitos Humanos, Violência, Formação política, Mídia e Cultura. A partir desses pilares, são organizadas as mobilizações em comunidades periféricas, instituições públicas e nas mobilizações de rua, com o objetivo de promover discussões sobre a posição da mulher negra dentro da sociedade racista, sexista, classista e cisheteronormativa, e formular proposituras que possam ser apresentadas em momentos de diálogo com instituições públicas e privadas.
Desde sua criação, a Rejane Maria promove trabalhos de base em comunidades periféricas, ações com a juventude nas escolas; e, articulado com outros movimentos sociais, dialoga com órgãos e instituições sobre a condição das mulheres negras sergipanas. Nestes espaços de aprendizagem, a Auto-Organização preconiza a troca de experiências entre mulheres negras sergipanas de vários segmentos sociais, estimulando-as a refletir e debater sobre a complementaridade de suas lutas e estabelecer redes de solidariedade para a atuação no sentido de provocar os poderes estabelecidos no sentido da reestruturação das políticas públicas de combate às desigualdades. Além disso, busca-se criar conexões com grupos de mulheres de diversas realidades, principalmente trabalhadoras urbanas e mulheres de povos e comunidades tradicionais, a fim de promover diálogo e formação política, funcionando como um espaço circular de partilha de experiências, transmissão de conhecimentos, empoderamento e acolhimento para mulheres negras trabalhadoras.
Quem é Rejane Maria?
Rejane Maria Pureza do Rosário nasceu em Aracaju no dia 21 de março de 1976, que é também a data estabelecida como Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial. Mulher negra e pobre, Rejane cresceu nas ruas do bairro Getúlio Vargas, bairro periférico da capital sergipana. Mulher de axé, Rejane era também pedagoga, angoleira (praticante da capoeira angola), ativista da causa antirracista, fundadora e participante de vários braços do Movimento Negro sergipano, a exemplo da SACI (Sociedade Afro-Sergipana de estudos e Cidadania) e do Grupo Abaô de Capoeira Angola. Em 2012, após alguns anos acometida de problemas de saúde, Rejane Maria deixou a Terra.
É importante destacar que, tanto a sociedade como o poder público podem colaborar com transformações sociais a partir do momento em que tomarem consciência das pautas que historicamente vêm sendo levantadas pelos movimentos feministas, compreendendo-as como pontos a serem aperfeiçoados, direcionando a sociedade como um todo para o caminho da igualdade de gênero, raça, classe, sexualidade e outros marcadores sociais.
*Com informações da Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria