Quem cuida da mãe?

Ser mulher é sempre se colocar em situação de risco ou sacrifício de algo. Há sempre escolhas drásticas, ou você decide ser mãe ou você se dedica à sua carreira, conciliar tudo é um malabarismo que nem os polvos conseguem fazer. E quando se tem uma mente acelerada, querendo dar conta de tudo, de abraçar o mundo, de viver, aí é que as frustrações aparecem e muitas vezes ficam ali para te lembrar que a vida para as mulheres é mesmo mais difícil, e para as que são mães, ainda mais.

Ainda lutamos por direitos básicos, por uma licença maternidade de no mínimo 6 meses, pelo direito de amamentar no trabalho, por locais de trabalho que incluam os filhos, já que nem todo mundo tem rede de apoio ou bons salários para bancar escolas ou creches em tempo integral ou contratar uma babá. Além disso, lutamos contra a desigualdade salarial, que ainda é uma realidade no ambiente laboral, mesmo diante de tantas discussões, inclusive no Congresso, acerca da importância da equiparação salarial entre homens e mulheres. Há, ainda, quem ache que justificar com Bíblia e gravidez é plausível para impedir um direito que já deveria estar garantido por lei há tempos.

É incrível como as pessoas pensam no viés moral em julgar as mulheres que abortam, mas não promovem qualquer ambiente seguro e agradável para que as mães vivam e gozem do seu direito de maternar, de trabalhar, de socializar e também de se divertir. Enquanto isso, os homens assistem em meio a seu mundo de vantagens e superioridade que nos afasta cada vez mais de uma sociedade equânime e com gerações que poderiam não estar fadadas às frustrações, às violências e aos discursos falaciosos dos técnicos em enganar pessoas.

“Nem todo homem…” Sim, nem todo homem, mas todo homem. E os jogos do machismo e misoginia fazem com que mulheres também reproduzam ações que prejudicam elas mesmas. Não existe vida fácil, mas existem meios de tornar a sociedade menos difícil, existem possibilidades de facilitar a vida de mulheres que podem, querem e precisam trabalhar em paz, sem ter que se submeter a assédio para não perder o baixo salário que garante a comida do menino no fim do mês, sem ter que ouvir os desaforos de um ex-marido que acha que 300 reais de pensão garante o sustento na infância de uma criança, sem ter que abdicar de tempo de lazer e construção de laços com seus filhos, pois precisam trabalhar o dia inteiro e no fim de semana, para garantir o mínimo dos direitos básicos à educação, alimentação, saúde e moradia.

Fora isso, ainda há questões de inclusão social. Se a maternidade já é solitária e excludente, a maternidade atípica é ainda pior. As políticas públicas de inclusão e preparo de profissionais nas escolas não devem ser restritas somente ao corpo técnico, mas existe uma sociedade repleta de preconceitos e com uma tendência violenta a excluir e executar aquilo que não a convém. Por isso, as famílias e comunidade em geral precisam se integrar, pois isso também é um assunto nosso, ou deveria ser. E aí eu fico pensando que todo mundo fala como as mães cuidam, como mãe é maravilhosa, como as mães fazem tudo por suas crias.

Percebam o peso dessas afirmações e como isso é extremamente cruel com mulheres que além de mães, são filhas, irmãs, amigas, trabalhadoras, companheiras, e ao se tornarem mães, ficam restritas para sempre a esse papel e mais nada. Nada mais importa a não ser o maternar e o cuidar. Não dá para parabenizar as mães se não fizermos uma reflexão básica acerca da sobrecarga materna e não mudarmos as nossas atitudes diante da exaustão que as mulheres mães vivem, e não me venham com o argumento de que, por escolher ser mãe, devemos aguentar isso tudo. Vamos mudar esse pensamento pequeno e pensar em uma sociedade menos excludente, exaustiva e com possibilidades de inclusão que sejam de fato acessíveis e igualitárias, é esse o presente de dia das mães que desejo.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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